Page 254 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
Património Cultural da Marinha
Peças para Recordar
7. ASTROLÁBIOS NÁUTICOS NO MUSEU DE MARINHA
Apesar de haver conhecimento de que os pilotos portugueses usavam o astrolábio náu-
tico, para determinarem a posição do navio na época dos Descobrimentos, só em 1917,
Luciano Pereira da Silva chamou a atenção para a importância deste instrumento.
Mais tarde, em 1934, Fontoura da Costa, volta a falar-nos destes instrumentos n’A
Marinharia dos Descobrimentos. Todavia, é David Waters que, em 1957 e depois em
1969, elabora as primeiras listas, a última das quais já contém 21 exemplares. Em 1983
Alan Stimson publica a primeira e, ainda, única obra –The mariner’s astrolabe- exclusiva-
mente dedicada ao astrolábio náutico, onde reúne 65 exemplares. Actualmente, graças ao
espectacular desenvolvimento que tem havido na arqueologia náutica, já existem mais de
80 astrolábios em museus e colecções particulares.
Em Portugal, apenas soubemos guardar um exemplar que se encontra no Observatório
Astronómico da Universidade de Coimbra, o qual, devido às suas características, dimen-
sões e peso, nunca foi usado a bordo dos navios.
Todavia, em 1983, um mergulhador amador, de nome Sardinha Alves encontrou um
objecto, nas proximidades da Ericeira que só identificou quando assistia a um programa de
televisão. Ofereceu ao Museu de Marinha, o Ericeira (todos os astrolábios náuticos têm
nomes próprios) que passou a ser o primeiro da colecção que começou a constituir-se.
Neste mesmo ano, tendo sido encontrados, nos restos do galeão português Sacramento,
afundado na Baía em 1668, dois astrolábios náuticos, a Marinha do Brasil, graças ao
empenho do CAlm Max Justo Guedes, ofereceu ao Museu de Marinha o Sacramento-B.
Ainda durante a década de 1980, foi adquirido um lote de objectos provenientes da
nau Santiago, afundada, em 1585, nos baixos da Índia, no Canal de Moçambique. Assim
entrou para o Museu de Marinha o astrolábio Santiago, sem marcas nem data.
O Nuestra Señora de Atocha, um galeão espanhol que transportava grande quantidade
de prata e ouro, afundou-se nos baixos de Key West, na Florida, no ano de 1619. Nos
restos deste navio, foram encontrados cinco astrolábios. Dois deles foram adquiridos, num
leilão da Christie’s em New York, com o apoio de várias instituições e vieram aumentar o
património do Museu de Marinha.* São eles o Atocha III, de 1605, que exibe um G, o que
indicia que foi fabricado por Agostinho Gois Raposo e o Atocha IV, com a data de 1616 e
assinado por João Dias, um bem conhecido artífice português.
Na ria de Aveiro, Victor Manuel Paiva Santos achou um astrolábio em impecável esta-
do de conservação, datado de 1575 e com cinco pequenos círculos em cruz que o identi-
ficaram como português. É o Aveiro.
Mais recentemente, quando se preparava a EXPO-98, e foi cometido ao Centro
Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, a missão de explorar um sítio, para
encontrar peças que valorizassem aquela exposição, no campo da arqueologia, foi esco-
lhida a entrada da barra do Tejo. Sucedeu o inesperado: entre cerâmica e outro material,
os valorosos mergulhadores do referido Centro, acharam três astrolábios, o São Julião da
Barra 1, São Julião da Barra 2 e o São Julião da Barra 3, o último dos quais em perfeito
estado, com a data de 1606 e com a marca de cinco pequenos círculos em cruz, já atrás
assinalada.
Assim, no Museu de Marinha encontram-se actualmente nove astrolábios náuticos, o
que faz desta colecção a maior jamais reunida em continuidade.
Museu de Marinha
(Texto de A. Estácio dos Reis – CMG)
*O autor contou a história destes astrolábios e da sua aquisição na revista Oceanos, nº 2, Outubro de 1989