Page 322 - Revista da Armada
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DESPORTO



                                                  DESPORTO AVENTURA
                                                  DESPORTO AVENTURA
           Até aos finais dos anos                                                      pos, centrando-se mais numa
         70, os desportos tradi-                                                        questão geral de atitude, que de-
         cionais constituíam a                                                          ve obstar à transferência de mul-
         principal ocupação de                                                          tidões de citadinos para locais
         lazer, e o ar livre pouco                                                      onde se pretendia a evasão, e
         mais significava do que                                                        evitar desequilíbrios ambientais e
         praia ou campismo. A                                                           sociais. Lembremo-nos de que a
         exemplo do que se já se                                                        planta que  se está a recolher po-
         fazia um pouco por toda                                                        de ser rara, que os animais selva-
         a Europa e EUA, numa                                                           gens preferem ser vistos ao lon-
         reacção natural ao stress                                                      ge, e que as Áreas de Paisagem
         citadino, por uma natural                                                      Protegida e Parques Nacionais
         aproximação da natureza                                                                 merecem um trata-
         e pela necessidade da                                                                   mento e olhar aten-
         confrontação com situa-                                                                 tos. No que respeita
         ções de risco, surge en-                                                                às pessoas, é neces-
         tão o Desporto Aventura.                                                                sário ter em conta
           Rapidamente as activi-                                                                que se está a lidar
         dades ao ar livre ganham milhares  limites, o valor formativo do                        com gente com uma
         de adeptos, quer de uma forma  medo, respeita a natureza e o                            escala de tempo e
         individual e espontânea, quer  material com que lida, não acei-                         valores diferentes do
         através de organizações e clubes  tando riscos inúteis.                                 visitante, devendo-se
         desportivos, por vezes enquadra-  A credibilidade dos formado-                          ouvir com paciência
         dos em iniciativas oficiais ou de  res coloca-se sobretudo em                           e respeito todas as
         autarquias que logo se apercebe-  modalidades que possam envol-  tual falta de exigência de um  suas explicações, e nunca recu-
         ram do seu potencial para a des-  ver um maior risco, apesar de  “check-up” prévio destes prati-  sando um copo de vinho ou
         coberta do interior do nosso País.  calculado, e que ainda se en-  cantes.     uma fatia de presunto...
           A sua prática, no entanto, se  contram em evolução, como é o  O respeito pela natureza, não
         pretendermos colher todos os  caso do promissor Parapente,  se traduz somente no habitual  Abel Melo e Sousa
         benefícios de uma actividade  onde ainda existem lacunas de  lixo que é deixado pelos cam-       CTEN SEG
         desportiva e do salutar contacto  legislação para a sua prática e
         com a natureza, deverá estar  aprendizagem; já o mesmo não
         condicionada a três factores:  se passa com modalidades com
         - o risco                  reconhecido passado, apoiadas
         - a credibilidade dos formadores  em experientes Federações,
         - o respeito pela natureza  como são, entre outras, o caso
           A vertigem do risco tem cons-  do Pára-quedismo, Mergulho,
         tituído tema obrigatório para os  Espeleologia, Montanhismo,
         cientistas sociais nos anos 80 e  Canoagem, etc. Outro campo
         90, como sublinha o sociólogo  não menos importante consiste
         francês André Le Breton, «cada  na existência de alguns “jeito-
         um é levado a uma busca de  sos” que intervêm em modali-
         sentido sobre o significado e o  dades de montanha actualmente
         valor da sua existência. E uma  em voga, sem qualquer tipo de
         das formas de o fazer é, precisa-  formação, e que têm originado
         mente, testando os seus limites»,  graves acidentes, como foi o
         mas claro que existem limites,  recente caso da morte de 21
         quer para o equipamento, quer  aventureiros em Interlaken nos
         para quem os utiliza... A inter-  Alpes Suíços. Englobam este
         pretação do factor de risco origi-  grupo o Canyoning (Acompa-
         nou erradamente um conceito  nhamento de rios, vencendo
         comercial que infelizmente tem  todos os desníveis), o Hidros-
         tido alguma divulgação, e que  peed (Descida de rios em trenó
         conduziu ao homem-radical, ar-  ou “banana”) e o Rafting (Des-
         quétipo antiquado, tolo, “ram-  cida de rios em embarcações de
         boista”, desconhecedor da natu-  borracha).
         reza, fingindo não sentir o medo,  A um nível menor, existe ain-
         e aceitando todos os desafios  da quem junte dezenas de pes-
         que descambam inúmeras vezes  soas em passeios a pé, onde difi-
         em situações trágicas. Em oposi-  cilmente alguém poderá apre-
         ção, e numa perspectiva correc-  ciar as formas, as cores, os sons,
         ta, encontramos então o homem-  e os odores dos nossos cami-
         -aventura, que conhece os seus  nhos, já para não falar da habi-
                                                                               REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 99  31
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