Page 37 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
Património Cultural da Marinha
Peças para Recordar
A partir do presente número a Revista da Armada vai passar a publicar na sua
contra-capa fotografias de peças do seu património artístico, científico
e literário que se encontram não só nos seus organismos culturais como,
eventualmente, noutras unidades. Cada peça será acompanhada
pela sua história, quando existe, dado que, em muitos dos casos,
a proveniência perde-se no tempo.
Deste modo, a Revista da Armada espera contribuir para divulgar
um património que, por vezes, foi esquecido ou que passou despercebido
aos visitantes dos organismos culturais.
1. GLOBOS WILLEM BLAEU
Num belo dia de 1982, D. Maria Helena Mendes Pinto, prestigiosa conser-
vadora do Museu Nacional de Arte Antiga, sabendo do nosso interesse por
instrumentos científicos e náuticos, perguntou-me: “Conhece dois globos
antigos que se encontram na Biblioteca da Casa Pia, mesmo aqui a seu
lado?”
Não conhecia e por isso fui vê-los graças às facilidades que me foram dadas
pelo Dr. Segismundo Pinto. Eram dois globos com 68 cm de diâmetro, mas
encontravam-se em mau estado, devido aos gomos de papel, que represen-
tam o Céu e a Terra, estarem muito alterados pela luz e pela poeira.
As bases também estavam muito atacadas por xilófagos. A ruína poderia
agravar-se caso não fossem restaurados. A Casa Pia estava ciente da situação
mas, infelizmente, não dispunha de verbas para a reparação
Nestas condições a Provedoria deste centenário estabelecimento, aceitou
trocar os globos por outras obras de arte existentes nas reservas do Museu
de Marinha, que não eram de temática naval. Estabeleceu-se um protocolo
entre o Ministério da tutela da Casa Pia e o Chefe do Estado Maior da
Armada, e os globos entraram no património do Museu de Marinha.
Para restaurar os globos escolheu-se a conceituada oficina da Biblioteca
Nacional de Viena de Áustria. A verba para pagamento desta despesa foi
disponibilizada pelo Almirante António Leitão, ao tempo Chefe do Estado
Maior da Armada. O restauro foi magnífico e hoje estes dois globos são das
peças mais apreciadas das colecções do museu instalado nos Jerónimos.
Os globos foram fabricados na oficina de Willem Blaeu, que sobreviveu a
este artista, falecido em 1638, e que é considerado o mais prestigioso
holandês que teve esta actividade. O globo terrestre é de cerca de 1645 e o
celeste de cerca de 1700.
Dadas as suas dimensões estes globos dispõem de bases para serem coloca-
dos no chão, ao contrário de outros, de menor diâmetro, que são usados em
cima de móveis.
Museu de Marinha. Cotas: Globo Terrestre IN-II-91, Celeste IN-II-92
(Texto de A. Estácio dos Reis, CMG)