Page 9 - Revista da Armada
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de conciliação das nossas realidades  única nem suficiente na estratégia  Escandinávia à Califórnia; desta, passando
          geopolíticas e geoestratégicas e colo-  que a nossa posição geopolítica exige.  pela Venezuela e Brasil, encontra outro
          ca Portugal numa posição central,   A nossa política externa já considera  vértice a SE do Cabo da Boa Esperança,
          retirando-o da periferia a que uma  a existência de três dimensões, para  fechando-se o triângulo ligando esse vér-
          exclusividade europeia obrigaria.   não falar de uma quarta - a moral –  tice ao que fica na Europa setentrional.
            Forçoso é que a sua importância  ligada à defesa dos direitos humanos,  Este  triângulo limita, penso eu, o
          seja, por nós, mantida, assegurada e  em especial os do povo de Timor: a  espaço dos interesses nacionais que
          desenvolvida.                      europeia; a transatlântida, que vai, em  importa defender e aprofundar.
            Hoje, com o fim do deslumbramen-  termos de defesa, para W e, em termos  Poderia ter-se aproveitado a insti-
          to europeu, com a evolução, no senti-  de interesse para Sul; e a africana que  tucionalização da Comunidade dos
          do positivo, em África, com o GATT  dá especificidade política e diplomáti-  Países de Língua Portuguesa para
          e com o fim do proteccionismo      ca a Portugal na Europa.          dar um passo em frente na criação,
          europeu relativamente ao comércio   Se quisermos delimitar o espaço  defesa e fortalecimento desse espaço.
          com o exterior, continuamos, e bem,  onde temos interesses, comunidades  Como foi reconhecido na mesa
          ligados à ideia Europeia - onde aliás  ou necessidade de defesa da língua,  redonda havida, em Janeiro de 1994,
          sempre estivemos - mas já há cons-  como elo de ligação entre povos de  em Luanda, com a CPLP, ganhar-se-
          ciência que a integração europeia,  história comum, e veículo do ecu-  -ia um instrumento de cooperação e
          sendo uma componente essencial da  menismo que nos caracteriza, encon-  integração política, cultural, social e
          nossa política, não é componente   tramos um Triângulo que vai do norte da  económica, o que é perfeitamente
                                                                               compatível com os demais compro-
                                                                               missos bilaterais, regionais e multi-
                                                                               laterais dos Países Lusófonos.
                                                                                 O desenvolvimento, em todas as
                                                                               vertentes desta Comunidade poderá
                                                                               ser a última oportunidade para voltar-
                                                                               mos a afirmarmo-nos “de facto” o
                                                                               que, pelo menos geograficamente,
                                                                               nunca deixamos de ser: um País Euro-
                                                                               -Atlântico.
                                                                                 A EXPO 98 terá despertado cons-
                                                                               ciências, pois parece haver algumas
                                                                               indicações de renovado interesse de
                                                                               Portugal pelo Mar.
                                                                                 Oxalá esse interesse não seja só
                                                                               momentâneo e platónico; não po-
                                                                               demos perder esta derradeira oportu-
                                                                               nidade.



                                                                                                  Machado da Silva
                                                                                                           VALM

                                                                                        REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 99  7
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