Page 181 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
Património Cultural da Marinha
Peças para Recordar
16. ACOLECÇÃO SEIXAS
A Colecção Seixas, como é vulgarmente conhecida, constitui um dos mais extraordinários e comple-
tos conjuntos de artigos e documentos relacionados com o mar e actividades a ele ligadas desde sem-
pre existentes e representou, sem sombra de dúvida, a parte mais importante e significativa do acervo
do Museu de Marinha que em 1948 se instalou numa parte do Palácio dos Condes de Farrobo, às
Laranjeiras, em Lisboa e que aí ocupou catorze salas durante cerca de 12 anos, até à sua transferência
para as actuais instalações na Praça do Império.
Tal colecção era fundamentalmente constituída por cerca de 20 000 chapas fotográficas, na altura
designadas por “clichés”, sobre assuntos navais e marítimos dos mais variados, que vão desde finais do
século XIX até aos anos quarenta do século XX e por aproximadamente 300 modelos de navios de
guerra dos mais variados tipos e de embarcações de pesca e de tráfego fluvial, além de outros relativos
à marinha de recreio. Acresce ainda a este extraordinário conjunto, um apreciável quantitativo de
gravuras, nacionais e estrangeiras, aguarelas, cópias fotográficas e centenas de desenhos e planos de
navios e embarcações.
Tudo se deve, afinal, a um homem simples, natural de Silves, onde nasceu em 15 de Abril de 1886,
a quem foi dado o nome de Henrique Maufroy de Seixas e que, movido por uma particular vocação
náutica e por um acrisolado amor às coisas do mar, devotou grande parte da sua vida e da sua fortuna
pessoal à organização de tão importante colecção, que acabou por transformar em Museu e que
instalou numa parte significativa da sua residência, situada na Rua Dona Estefânia, em Lisboa.
Tal Museu possuía a sua própria oficina, onde eram executados, por artífices especializados que
para ele trabalhavam em exclusivo, os modelos construídos em escala e com um rigor e meticulosidade
extraordinários. E os muitos milhares de chapas fotográficas da sua notável colecção foram obtidas no
decurso de inúmeras reportagens que, por iniciativa de Henrique Maufroy de Seixas e com a ajuda de
alguns dos melhores fotógrafos então existentes, foram cobrindo os principais temas e acontecimentos
da época, sobretudo quando relacionados com a Marinha e os seus navios e com as diferentes activi-
dades marítimas.
Dotado de indiscutíveis qualidades de organizador e de uma apreciável fortuna pessoal, começou
metódica e entusiasticamente a reunir os meios indispensáveis à obra que afinal veio a conseguir
realizar. Mas ele foi muito mais do que o coleccionador curioso e entusiasta, podendo considerar-se um
dos mais notáveis homens de cultura da primeira metade do século XX. Teve a necessária sensibilidade
e talento para ir seleccionando os temas que, segundo o seu esclarecido discernimento, deveriam ser
recolhidos, tratados e preservados, por forma a poderem vir, mais tarde, a ser apreciados pelas gerações
vindouras.
Em 13 de Agosto de 1931, Henrique Maufroy de Seixas, então com 45 anos, foi condecorado, por
proposta do Ministro da Marinha, com o grau de Comendador da Ordem de Cristo, distinção justíssima
para quem, como ele, tanto contribuiu para a cultura do seu país e, em particular, para o enriquecimento
do acervo do Museu de Marinha, que em 1948 veio a receber, por legado do seu proprietário, o valiosís-
simo conjunto de objectos e a extraordinária colecção de fotografias que constituem a Colecção Seixas.
NOTAS:
1. A escolha do modelo apresentado recaiu na corveta “Mindelo”, após exclusão, por virem a ser publicadas na R.A., dos modelos emblemáticos
do Bergantim Real e da Fragata “D. Fernando II e Glória”. A sua execução pertence a Luís António Marques (artífice) e Mário Lúcio Martins de
Barros (desenhador), colaboradores da oficina de Seixas, que foram acompanhados na sua tarefa de levantamento de pormenores pelo então
1ºTenente Gago Coutinho da guarnição do navio.
2. Fotografia panorâmica do Arsenal da Marinha em 1932, tema dos mais exaustivamente tratados na Colecção. Montagem efectuada no Instituto
Hidrográfico, baseada em 4 fotografias da autoria de Horácio Novaes, sob encomenda de Henrique Seixas.
Museu de Marinha
(Texto – Manuel Seixas Serra, CMG)