Page 339 - Revista da Armada
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mar onde, nesta al- Após a condecoração do Comandante
tura, navegava e CFR Pires da Cunha com a Medalha de
pintaram o céu de Prata de Serviços Distintos e a leitura do
um amarelo febril. louvor colectivo concedido pelo Almi-
Passado o Mar rante CEMA, o Ministro da Defesa Nacio-
Vermelho, e após nal dirige sentidas palavras de apreço
uma curta perma- pela missão brilhantemente desempenha-
nência num fun- da, palavras essas que calam bem fundo
deadouro ao largo em todos os corações e nos fazem sentir o
do porto de Suez reconhecimento dos nossos superiores
(que deu, porém, após uma tão longa ausência.
tempo para um jan- Por volta das 14.30, o navio atraca,
tar de confraterniza- finalmente, na Base Naval de Lisboa. Em
ção onde se paga- 183 dias de missão, o NRP "Comandante
ram as "multas" – Hermenegildo Capelo" navegara 2800
Trânsito Mormugão/Djibuti. Mar alteroso. atrasadas – refe- horas e percorrera 34500 milhas (1.6
rentes ao julgamen- voltas ao Mundo), tendo visitado 8 países
da Sociedade de Amizade Indo-Portuguesa, to da passagem do Equador), efectuou-se a em 4 continentes e sulcado 3 oceanos.
que ofereceu uma recepção em nossa travessia do Canal com o mesmo nome. Como parecem agora distantes, o cáli-
honra). O grande carinho destes nossos Desta vez, no entanto, ao contrário das do e pachorrento mar de Timor, a exube-
"compatriotas" já tinha sido, aliás, bem nossas expectativas, os pilotos que embar- rante verdura das suas encostas e o ca-
demostrado numa visita de cerca de 50 fun- cámos mostraram-se muito mais comedi- loroso sorriso do seu povo! Tudo agora se
cionários do Consulado (com os respectivos dos nos seus caprichos do que aqueles que afigura como um sonho, mas esta doce e
familiares) logo no dia da chegada do nos tinham acompanhado na primeira tra- suave memória permanecerá, para todo o
navio, tendo-se registado uma verdadeira vessia... Talvez tal se deva ao facto de ser- sempre, nas almas de todos os que tive-
avalanche de fotografias e de efusivos aper- mos, já, "clientes" conhe-
tos de mão. cidos.
Frio, mesmo, foi só o tempo, não em
termos de temperatura, mas pela intensa HERAKLION (CRETA)
chuva que se fez sentir ininterruptamente 14 E 15 DE JULHO
durante os três dias da estadia (a monção
estava no seu vigoroso início) e a todos Já em pleno Mediterrâ-
encharcou "até aos ossos", não tendo po- neo e cada vez mais pró-
rém, conseguido ensombrar o estrondoso ximos do nosso destino,
sucesso desta empresa diplomática.
a curta estadia em Hera-
klion revela-se uma agra-
DJIBUTI - 7 DE JULHO dável surpresa, não só
pela beleza desta ilha
Os nossos camaradas indianos bem nos transbordante de história
tinham avisado que a monção nos iria e de antigas lendas, com
tornar extremamente desagradável esta tira- as suas majestosas ruínas
da! Foram, de facto, sete dias como ainda e bucólicas paisagens, mas também pelo
não tínhamos tido durante esta missão, com descontraído ambiente de veraneio que nos
mar grosso e ventos de força 7 que nos fi- faz recordar os cálidos cenários algarvios.
zeram sentir como a "roupa dentro da má- Enfim, um "cheirinho" de casa, quando se
quina de lavar" e causaram danos materiais, está, já, tão perto.
tendo-se perdido no mar um bote com o
respectivo motor e palamenta, danificado o
seu picadeiro, partido o visor do apontador A CHEGADA
de estibordo da torre de 100 mm nº 1 (na
proa) e torcido o portaló de estibordo. Na manhã do dia 20 de Julho o navio
Outro efeito do mau tempo foi o atraso inicia, finalmente, a entrada da barra do
na chegada ao Djibuti, devido aos bordos porto de Lisboa, que é, sem dúvida, o
que nos obrigou a fazer. Não pudemos, as- mais bonito do Mundo (quem, numa al- O Ministro da Defesa Nacional na alocução à
sim, pernoitar e desfrutar da "intensa" vida tura destas, ousa dizer o contrário?!). É guarnição do navio à chegada a Lisboa, no Cais
nocturna deste porto situado estrategica- com indisfarçável emoção que vemos de Sta. Apolónia.
mente à entrada do Mar Vermelho que desfilar, diante dos nossos olhos, a Torre
pouco mais é, na verdade, que "um posto de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, a ram o privilégio de dar o seu contributo à
de gasolina no meio do deserto". Assim Ponte e a Praça do Comércio, imediata- construção daquele país-irmão. E ficamos
sendo, poucos aproveitaram as três horas mente antes de atracarmos no cais de também com a certeza de que, pelo
de licença que foram concedidas, não se Santa Apolónia, ao som dos primeiros menos no grande coração dos timorenses,
tendo registado, porém, entre a guarnição, acordes da "Marcha dos Marinheiros", pri- o NRP "Comandante Hermenegildo
quaisquer queixas por esse facto. morosamente executada pela "nossa" Capelo" nunca deixou nem jamais deixa-
O mar acalmara, finalmente, no abrigo Banda da Armada. Antes, porém, do tão rá as águas de Timor Loro-Sae.
do Golfo de Aden, mas, então, começou a ansiado reencontro com os familiares, a
fazer-se sentir um intenso calor e os ventos guarnição forma para receber a visita do
que sopravam do deserto do Sahara trouxe- Ministro da Defesa Nacional acompa-
ram uma sufocante poeira vermelha que nhado do General CEMGFA e do Almi- (Colaboração do N.R.P. “Comandante
tingiu todo o navio da cor que baptizava o rante CEMA. Hermenegildo Capelo”)
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2000 13