Page 397 - Revista da Armada
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Setting Sail
Setting Sail
8. PANO REDONDO
Vamos consagrar este episódio à nomenclatura e cabos relacionados Forra de rizes – Reforço de lona ou tecido sintético colocado na faixa
com o pano redondo, sendo de assinalar que os segundos, para mais fá- da vela que recebe os ilhoses (14) por onde enfiam os rizes. Caso a vela
cil percepção da respectiva função, aparecem na imagem anexa em duas possua mais do que uma linha de rizes, estas são numeradas, de baixo
cores distintas: em azul (–), os cabos utilizados para içar/caçar a vela, e para cima, por ordem numérica, como primeira forra de rizes (15) e se-
a rosa (–), os cabos com que se entra quando o objectivo é carregar ou gunda forra de rizes (16), etc. O mesmo que percinta.
rizar o pano. Por outro lado, aqueles que se encontram por ante a ré da
Gávea – Segunda verga a contar de baixo num mastro redondo. Exis-
vela, logo invisíveis na perspectiva que ilustra este artigo, optámos por tindo gáveas partidas ou dobradas, estas designar-se-ão, respectivamente,
os representar mais esbatidos. De notar ainda que em certos veleiros al- gávea baixa (17) e gávea alta (18).
guns destes cabos trabalham de forma diversa, apresentando-se aqui as
aplicações mais comuns. Lados da vela – gurutil (19) – lado superior –, esteira (20) – lado infe-
rior –, e testas (21) – lados verticais, sendo uma de barlavento e outra de
Adriça (1) – Cabo que serve para içar uma verga, recebendo o respec-
tivo nome (e.g. adriça do joanete de proa). A manobra de arriar e feita sotavento.
com este cabo sob volta. Largar pano – Acção que visa efeito contrário ao ferrar.
Aluamento – Curva mais ou menos reentrante na esteira, entre os pu- Ostaga (1) – Nome dado às adriças utilizadas para içar as vergas das
nhos das escotas. A sua existência dá passagem ao vento para as velas gáveas altas. A manobra de arriar é feita com este cabo sob volta.
que se situam a vante, nomeadamente quando se navega com o vento
nos sectores da popa. Papa-figo (22) – Denominação da verga inferior de um mastro redondo,
sendo que a respectiva vela recebe igual designação, seguida do nome do
Amura (2) – Cabo que caça para vante o punho de barlavento dos papa- mastro respectivo (e.g. papa-figo do traquete, papa-figo do grande, etc.).
figos, de forma a optimizar o comportamento desta vela, sendo que para O designado papa-figo de correr, identifica uma pequena vela que aí se
ré se ala pela escota de sotavento. Nos papa-figos ambos os cabos são enverga para navegar debaixo de mau tempo.
conhecidos como escotas de arrastar.
Punho – Nome atribuído a cada um dos cantos de uma vela, surgindo
Apaga (3) – Cabo de laborar cuja finalidade é carregar a parte inferior a sua denominação dependente da posição e/ou função concretas – pu-
da testa da vela do papa-figo de maneira que esta se prolongue com o res- nho da escota (23) e punho do gurutil (24).
pectivo gurutil, facilitando assim a posterior manobra de ferrar. Desempe-
nha função análoga à das sergideiras existentes no restante pano redondo. Rizar – Acção cujo objectivo é reduzir a superfície de uma vela ex-
O mesmo que apaga-penóis ou apaga-fenóis. posta ao vento, regra geral quando entra mau tempo. Com igual signi-
ficado podem ouvir-se os termos enrizar, tomar rizes ou meter nos ri-
Bicha – Pequeno pedaço de gacheta que cosido no vergueiro do pano zes. A operação inversa designa-se por deitar fora dos rizes, largar os
serve para amarrar a vela para a verga aquando da manobra de ferrar rizes ou desrizar.
Briol – Cabo vertical que cosido na esteira da vela serve para a carregar Rizes (25) – Pequenos cabos que existem passados nos ilhoses das forras
de encontro à verga. Os brióis de fora (4), mais comuns, passam por ante com o mesmo nome. Servem para amarrar contra a verga o bolso que se
a vante da vela, enquanto que os brióis de dentro (5) trabalham por ante forma na operação de rizar a vela. Ao conjunto destes cabos existentes na
a ré. O designado briol do meio (6), ou do centro, é aquele que, sendo o mesma forra dá-se o nome de linha de rizes. O mesmo que rizos.
número total ímpar, actua no ponto de maior aluamento. Nalgumas velas
os brióis podem passar por um ponto na testa da vela (7), dispensando-se Sergideira (26) – Cabo fixo na testa das gáveas, joanetes ou sobres, cuja
a existência da sergideira função é levar este lado da vela a prolongar-se com o gurutil quando se
pretende carregar o pano. Surgem ainda como corruptelas os termos ser-
Caçar – Entrar com as escotas e amuras com o objectivo de bem ma- zideira ou sirgideira.
rear a vela.
Talha do lais – Cabo cuja função é carregar para o terço a testa (27),
Carregar – Acção de abafar o pano para a verga. Para tal entra-se com podendo também ser aquele que traz o garruncho da testa da vela ao lais
brióis, estingues, apagas, talhas de lais e sergideiras, conforme aplicável, da verga (28) quando se pretende rizar o pano.
depois de folgadas escotas e amuras.
Tralha – Nome dado ao cabo que cosido na vela reforça a respectiva
Envergar – Operação que consiste em amarrar o gurutil à verga, por orla, tomando o nome do lado onde se encontra fixado – tralha do guru-
intermédio de pequenos cabos denominados envergues (8). til, tralha da esteira e tralha da testa.
Escota (9) – Cabo que serve para caçar o pano, em função da intensi- Verga – Peça em madeira ou metal, diminuindo a sua secção do ter-
dade e marcação do vento. ço para os respectivos laises. Pode ser fixa (29), ou de içar (30) se o ca-
çar da correspondente vela obrigar ao seu movimento na vertical, para
Estingue – Cabo que fixo no punho da escota tem a finalidade de o
levar ao terço (10), nalguns casos ao lais (11), com o intuito de facilitar posição superior.
a manobra de ferrar a vela. Também utilizadas as designações estinque Vergueiro do pano (31) – Delgado varão em ferro enfiado em olhais
e ostingue. situados por ante a vante da parte superior da verga, onde pelo gurutil é
envergada a vela. Por ante a ré e paralelo a este corre um outro verguei-
Ferrar – Operação que visa amarrar a vela à verga depois de carregada,
contanto que esta fique devidamente abafada dentro da respectiva camisa. ro (32), cuja denominação desconhecemos. É nele que os marinheiros se
Utiliza-se a expressão «ferrar a preceito» para caracterizar a forma espe- prendem com as mãos e/ou cinto próprio, quer no movimento ao longo
cialmente cuidada de ferrar uma vela. dos estribos (33) quer durante as manobras de ferrar e largar pano.
Forra de brióis (12) – Reforço de lona ou tecido sintético cozido na António Manuel Gonçalves
faixa da vela que recebe os ilhoses que albergam os sapatilhos (13) por CTEN
onde correm os brióis. am.sailing@hotmail.com