Page 4 - Revista da Armada
P. 4

Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas































































                No antigo Arsenal da Marinha, instalado na Ribeira das Naus, foi, em meados do século XIX, admitido António
              Maria Martins, de 15 anos de idade, para praticar como maquinista.
                Na época era comum os praticantes de um ofício executarem trabalhos para mostrar o estado de adiantamento dos
              seus conhecimentos. Assim, o jovem Martins construiu o pequeno modelo de máquina a vapor cuja imagem acima se
              reproduz. O modelo funcionava como se fosse uma verdadeira máquina e a sua perfeição era tal, que o seu autor foi
              agraciado pelo Rei D. Pedro V.
                António Maria Martins teve uma carreira profissional brilhante. Depois de mais de 20 anos de embarque, em 1874,
              foi a Inglaterra a fim de assistir à construção das máquinas para o couraçado “Vasco da Gama”, corvetas “Rainha de
              Portugal” e “Mindelo”. Em 1878 passou a servir no Arsenal de Marinha, onde fez uma máquina para o escaler da cor-
              veta “Bartolomeu Dias” – que foi o primeiro escaler a vapor na Marinha Portuguesa – e uma outra para o “Dragão”
              do serviço real. Dirigiu a montagem do aparelho motor em diversos navios, até que, em 1888, construiu uma máquina
              de 500 CV para a canhoneira “Zambeze”, que rivalizava com as executadas no estrangeiro.
                Sublinhe-se que é ainda o inventor de um sistema de sangrar caldeiras a vapor que, em 1883, mereceu referência do
              Almirantado inglês.
                Em 1898, já com a patente de maquinista naval chefe, vamos encontrá-lo exercendo o cargo de director do Arsenal
              de Quelimane. Em 1901 vai a Livorno assistir à reconstrução do couraçado “Vasco da Gama”. Faleceu em 1913.
                 Sabe-se que o modelo por ele construído ainda em aprendiz, esteve na antiga Escola Naval tendo dela transitado
              para o Museu de Marinha. Desconhece-se a data em que foi feita tal transferência, mas merece a pena dizer que, na
              altura, foi valorizado em 2$00, o que hoje corresponde à módica quantia de 1 cêntimo! Em 1998, o modelo foi deposi-
              tado na actual Escola Naval, onde hoje se encontra.
                Esta pequena máquina, construída há cerca de 150 anos, foi posta a trabalhar por iniciativa do Comandante António
              Estácio dos Reis no final da palestra que este oficial proferiu na Escola Naval, em 13 de Novembro de 2006, por ocasião
              da apresentação do seu livro “Gaspar José Marques e a Máquina a Vapor. Sua introdução em Portugal e no Brasil”.
   1   2   3   4   5   6   7   8   9