Page 9 - Revista da Armada
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permitindo dar suporte a uma gestão verdadei- um enfoque essencialmente na vertente terres-               tenciando a utilização eficiente do espaço
ramente integrada, progressiva e adaptativa do tre, não contemplando a vertente marítima ou               marítimo no quadro de uma abordagem
oceano e da zona costeira e do desenvolvimen- não considerando o âmbito multidimensional                  integrada e intersectorial;
todasactividadesassociadas(…)”.Estepilares- do mar, isto é, o fundo, a coluna de água, a su-         •	 Definir os parâmetros de desenvolvimen-
tratégico resulta depois em 4 medidas: inventa- perfície, o litoral e a atmosfera, foi considerado        to sustentado de cada actividade e do es-
riar as formas de utilização do espaço marítimo importante encontrar uma maneira de regular               paço marítimo em que cada uma se pode-
pelas diferentes actividades; promover o orde- esta matéria de forma coerente e articulada.               rá desenrolar;
                                                    Esta necessidade tem sido potenciada pela        •	 Definir outras actividades passíveis de de-
namento espacial das actividades actuais, pre-                                                            senvolvimento a médio e longo prazo;
vendoaspotenciaisutilizaçõesfuturasecriando multiplicidade de actividades que têm surgido            •	 Fomentar a importância económica, am-
mapas de oportunidade a nível local, regional e relacionadas com o espaço marítimo, havendo               -biental e social do mar;
nacional; agilizar e simplificar procedimentos necessidadedeasregularededirimireventuais             •	 Definir as orientações para o de-senvol-
de licenciamento das actividades; e acompa- conflitos que surjam da sua concretização.                    vimento de indicadores de avaliação do
                                                                                                          desempenho sustentável das actividades
nhar e contribuir para a articulação da utilização
                                                                                                               marítimas e respectiva monitorização.
de sistemas de segurança, acompanhamento,                                                                          Tal como em terra, o ordenamento

vigilância e controlo das actividades                                                                          do mar visa a organização do espaço
                                                                                                               numa perspectiva de equilíbrio entre
marítimas e costeiras. Aqui, sim, são                                                                          o uso desse espaço e o aproveitamen-
                                                                                                               to e conservação dos seus recursos.
lançadas as bases e aberto o caminho                                                                           Complementarmente, e de acordo
                                                                                                               com a ENM, o POEM, como instru-
para o Despacho n.º 32277/2008 da                                                                              mento de planeamento e ordenamen-
                                                                                                               to espacial, deverá “asse-gurar uma
CIAM, de 18 de Dezembro, que                                                                                   visão de conjunto assente nos princí-
                                                                                                               pios do desenvolvimento sustentável,
incumbiria uma equipa multidisci-                                                                              da precaução e da abordagem ecos-
                                                                                                               sistémica, através do levantamento
plinar de proceder à elaboração do                                                                             e ordenamento das utilizações exis-
                                                                                                               tentes e futuras, permitindo dar su-
Plano de Ordenamento do Espaço                                                                                 porte a uma gestão verdadeiramente
                                                                                                               integrada, progressiva e adaptativa
Marítimo (POEM).                                                                                               do oceano e da zona costeira e do de-
                                                                                                     senvolvimento das actividades que lhes estão
Num outro nível, pelo interesse                                                                      associadas”.

que estas matérias assumem para a                                                                    Área de intervenção do POEM

União Europeia (UE), a Comissão                                                                         A área de intervenção do POEM correspon-
                                                                                                     deatodososespaçosmarítimosnacionaistendo
Europeia elaborou a COM(2008)791,                                                                    como limite exterior o da plataforma continen-
                                                                                                     tal, tal como consta na proposta apresentada às
denominada “Roteiro para o Orde-                                                                     Nações Unidas e como limite interior o da linha
                                                                                                     da máxima preia-mar de águas vivas equino-
-namento do Espaço Marítimo:                                                                         ciais (LMPAVE) ou o das linhas que fecham as
                                                                                                     embocaduras de rios e lagoas costeiras. Quando
definição de princípios comuns na                                                                    existirem obras de fixação das embocaduras ou
                                                                                                     obras exteriores de protecção de infra-estruturas
UE”,ondeapresentaalgumasrazões Perspectiva das actividades desenvolvidas no                          portuárias, este limite corresponde à intersecção
para a necessidade de ordenar o es- e sobre o espaço marítimo                                        da face interior dessas obras com a LMPAVE e
                                                                                                     à linha recta que une as suas extremidades.
paço marítimo, aponta as vantagens                  Visão, missão, objectivos
de uma abordagem europeia a esta questão,           e princípios do POEM                                Sobre o limite interior importa referir que a
identifica os instrumentos legais internacionais                                                     escolha desta linha não foi consensual no seio
                                                                                                     da equipa multidisciplinar considerando o sig-
e europeus com impacto no ordenamento do            A visão para o espaço marítimo subjacente à      natário que deveria ser o da linha de base nor-
                                                                                                     mal a partir da qual se mede o mar territorial.
espaço marítimo e enumera os princípios fun- elaboração do POEM, encontrada pela Equipa              Receia-se que aquele regime possa vir a confli-
damentais que emergem da prática do ordena- Multidisciplinar, é a de um “Espaço Marítimo             tuar com certas actividades e usos do domínio
mento do espaço marítimo. Refere, ainda, que diferenciador da identidade nacional, sustentá-         público marítimo, na faixa intertidal.
o ordenamento do espaço marítimo é um dos vel, ordenado e seguro, suporte de actividades
instrumentos relevantes no âmbito da Política sócio-económicas e potenciador de recursos,               Sobre o limite exterior, há quem defenda
Marítima Integrada que se encontra em desen- assente no conhecimento, na inovação e na es-           que não deveria ser considerado o da platafor-
volvimentonaUEequecontémdiversasinicia- pecificidade geográfica”.                                    ma continental por ainda não ter sido aprovado
tivas relativas ao mar, entre outras: a Estratégia                                                   no âmbito da Comissão das Nações Unidas
                                                    Por sua vez, a missão para o POEM foi defi-      responsável por este assunto. Considera-se,
paraoAtlântico;umroadmapparao“estabeleci- nida como sendo: “Afirmar a importância eco-               porém, que a assunção deste limite nesta fase
mentodeumsistemadeinformaçãopartilhada nómica, ambiental e social do Mar, assente na                 reforça a vontade portuguesa em reivindicar
no domínio marítimo”; a “Estratégia para a Vi- promoção do conhecimento dos recursos na-             aquele espaço como de sua soberania, apos-
gilância Marítima”; e a Directiva da “Estratégia turais e das actividades existentes e potenciais e  tando claramente em defender os direitos que
Marinha”. Com um carácter mais jurídico, a Di- no ordenamento integrado e gestão adaptativa          sobre ele pretende, e espera, vir a exercer.
recção-GeraldosAssuntosMarítimosedasPes- dos usos que se desenvolvem no espaço marí-
cas, publicou, em Outubro de 2008, o relatório timo, em estreita articulação com a gestão da            Ainda relativamente à área de interven-
Legal Aspects of Maritime Spatial Planning, onde zona costeira, com o normativo internacional,
além de princípios legais e enquadramento jurí- comunitário e nacional e demais instrumentos              9REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2011
dico sobre o ordenamento do espaço marítimo, de planeamento sectorial e de gestão do territó-
apresenta a situação de alguns Estados neste rio,envolvendoosdiferentesactoreseagentes.”
contexto, onde ainda não constava Portugal.
                                                    Os objectivos específicos do POEM são os
Apesar deste esforço da UE para harmoni- seguintes:
zar a forma como os Estados-Membros devem •	 Efectuar o levantamento de todas as acti-
tratar esta matéria, a verdade é que vários paí-
                                                    vidades que se desenvolvem nos espaços
ses têm, desde há algum tempo, a sua própria
                                                    marítimos sob soberania ou jurisdição por-
abordagem à temática, encontrando-se em fase
                                                    tuguesa, cartografando essas actividades e
um pouco mais avançada que Portugal neste
                                                    identificando o respectivo grau de depen-
processo, mas padecendo, ao que se sabe, de
                                                    dência das comunidades locais e delimitar
problemas que nós queremos ultrapassar rapi-
                                                    os espaços já consignados;
damente, como é o caso do regime de licencia- •	 Ordenar os usos e actividades do espaço
mento simplificado das actividades marinhas e
                                                    marítimo, presentes e futuros, em estreita
marítimas, a que nos referiremos mais adiante.
                                                    articulação com a gestão da zona costeira;
Tendo presente que os instrumentos de •	 Garantirautilizaçãosustentáveldosrecur-
gestão territorial existentes a nível nacional têm
                                                    -sos, a sua preservação e recuperação, po-
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