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A DIRECTIVA DE POLÍTICA NAVAL, EXPLICADA

ADirectiva de Política Naval                   No que respeita aos “objectivos do          Na vertente operacional assume prio-
          (DPN) é o documento que es-       mandato” e às “linhas de acção”, a DPN      ridade o desenvolvimento de uma capa-
          tabelece as linhas de orientação  reconhece a significativa evolução que      cidade de vigilância e controlo do espaço
do Chefe do Estado-Maior da Armada e        ocorreu no processo de elaboração da        marítimo que integre os processos de re-
Autoridade Marítima Nacional (CEMA          estratégia naval nos últimos cinco anos.    colha, produção e partilha de informação
e AMN) para o período do seu manda-         Nesta conformidade, quer objectivos         para produzir conhecimento situacional
to. Promulgada em Fevereiro último,         quer linhas de acção são sistematizados     sobre o mar, gerar alertas e desencadear
como referência de planeamento para o       segundo as perspectivas de gestão (gené-    acções. Por outro lado, o aprofundamen-
triénio 2011-2013, a DPN 2011 aparece       tica, estrutural, operacional e de missão)  to do modelo centralizado de treino e de
com um conteúdo reestruturado e com         e atendem aos respectivos temas estraté-    avaliação deverá contribuir para promo-
um novo formato, aspectos que justifi-      gicos (equilíbrio, optimização, duplo uso   ver a compreensão mútua entre diferen-
cam uma pequena análise.                    e eficácia). Trata-se de um passo muito     tes sectores, sistematizar valências, explo-
                                            relevante no sentido de pensar a Mari-      rar melhor as competências do pessoal e
    O CEMA e AMN começa por iden-           nha de forma homogénea e de facilitar       racionalizar processos e tarefas. Os efeitos
tificar o que considera serem os pilares    o alinhamento das iniciativas sectoriais,   combinados destes dois objectivos deve-
que caracterizam a actuação da Mari-        permitindo padronizar os mapas estra-       rão permitir identificar e responder aos
nha (a “transformação” e a “responsa-       tégicos (ver o "Mapa Estratégico da Ma-     desafios emergentes, aprofundar o empe-
bilização”), demonstrando, de seguida,      rinha" na página seguinte) e elaborar um    nhamento colaborativo e aprontar capaci-
como os valores identitários da institui-   único Balanced Scorecard, i.e. um mapa de   dades modulares, o que vai gerar novas
ção sustentam e se relacionam com tais      gestão quantificado que integre os “indi-   sinergias de exploração operacional e de
princípios de acção:                        cadores” e as “metas” a alcançar.           emprego dos meios.
- A “transformação”, como um proces-
so que permite a adaptação permanente          Uma vez que os “objectivos do man-          Na óptica da missão, persegue-se uma
ao meio e a novos desafios, apela a um      dato” devem ser entendidos como             maior abertura à sociedade e o incremen-
esforço concertado que exige espírito de    abrangentes e uma referência para toda      to da atitude colaborativa como veículo
corpo, coesão e sentido do dever – logo,    a Marinha, vejamos a lógica que lhes su-    de promoção da economia de escala, da
“disciplina” –, confiança nas decisões e    perintende e os efeitos que se propõem      racionalização de recursos e da unidade
apoio ao esforço colectivo – em suma,       atingir.                                    de esforço. Propõe-se ainda que a efi-
“lealdade” – e capacidade para impul-                                                   ciência e a economia ao nível da gestão
sionar a mudança – numa palavra, “co-          No plano genético são definidos dois     se espelhe numa maior eficácia na acção,
ragem”;                                     objectivos que se relacionam, um com a      permitindo incrementar a participação da
- A “responsabilização”, relacionando-      edificação do Sistema de Forças – onde      Marinha em operações reais e no âmbito
-se com a conformidade legal e com a        a prioridade se mantém no equilíbrio        das iniciativas de cooperação internacio-
transparência da gestão, sustenta-se        entre capacidades, dado ser esta a lógica   nal superiormente determinadas. Através
numa conduta honesta, na firmeza e          que possibilita que a Marinha actue em      de quatro objectivos de missão, a Marinha
na dignidade de carácter – ou seja, na      vários planos – e outro com o desenvol-     pretende estar presente com utilidade e
“honra” –, bem como no assumir de           vimento de um modelo de gestão flexí-       actuar de forma eficaz, tirando partido
responsabilidades, na credibilidade e       vel de recursos – que se afaste de uma      das acções nos planos científico e cultural
na justeza das decisões e dos actos –       lógica baseada na dimensão estrutural e     para criar valor (para a sociedade), infor-
portanto, na “integridade”.                 se foque nos resultados. Estes objectivos   mar a opinião pública e promover uma
                                            permitirão, no plano das capacidades,       alargada sensibilização e compreensão
    Uma vez reconhecidos os factores        promover uma maior colaboração intra        sobra as matérias relacionadas com o mar.
imutáveis (valores e princípios de ac-      e inter-departamental e, ao nível dos re-
ção), a DPN conduz-nos através da-          cursos, gerar maiores disponibilidades         Finalmente uma palavra no que con-
quilo que são as variáveis passíveis        dentro das actuais existências.             cerne à forma. A DPN 2011 afasta-se do
de afectar a Missão da Marinha (esta                                                    modelo tradicional de directiva, assumin-
também uma referência permanente),             Ao nível estrutural, os objectivos       do uma imagem mais moderna e atracti-
recorrendo a uma análise que justapõe       (quatro) visam a continuação do esforço     va que se enquadra na linha de abertura
oportunidades, desafios, potencialida-      de optimização e de racionalização, pro-    à sociedade preconizada pelo CEMA e
des e constrangimentos. Os objectivos       cesso que deverá ainda beneficiar da im-    AMN.
e as linhas de acção que o CEMA e           plementação, em todos os sectores e ór-
AMN define são o resultado directo do       gãos da Marinha, de uma ferramenta de          Espera-se que a presente exposição
seu juízo relativamente à forma como a      gestão estratégica, planeamento e apoio     possa ter contribuído para ajudar o leitor
Marinha deverá superar as dificuldades      à decisão, e do reforço da presença da      a entender melhor um documento de tão
para, permanecendo fiel ao seus pró-        Marinha noutros organismos da estru-        grande importância para a Marinha. Em
prios valores e princípios, se manter fo-   tura da Defesa Nacional, bem como da        última análise, servirá porventura para
cada no cumprimento da missão. Para         consolidação da posição dos órgãos da       lhe despertar a curiosidade, remetendo-o
o efeito, enuncia a sua “Visão”, o que      Autoridade Marítima Nacional nas es-        para uma análise mais detalhada que po-
não é mais do que sintetizar numa frase     truturas da Segurança Interna e da Pro-     derá fazer acedendo à página da Marinha
de fácil apreensão, a sua própria divisa.   tecção Civil. No seu conjunto estes objec-  na Internet, ou na Intranet, onde a DPN se
Essa “Visão” é a da Marinha como um         tivos permitirão maximizar a integração     encontra publicada.
parceiro indispensável para a acção do      e a partilha de actividades comuns, au-
                                            mentar o controlo e a eficiência da gestão                       Colaboração do EMA
Estado no mar.                              e agilizar o processo de decisão.                                CMG Luís Sousa Pereira

4 MAIO 2011 • REVISTA DA ARMADA
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