Page 35 - Revista da Armada
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Navios Hidrográficos
10. O Navio Hidrográfico Beira
Construído no Arsenal da Marinha, em Lisboa, foi aumentado ao perante a ameaça submarina alemã.
Efectivo dos Navios da Armada em 30 de Dezembro de 1910 e classifi- Em Agosto de 1936, a “Beira” passou a navio hidrográfico e foi des-
cado como canhoneira.
tinada à missão hidrográfica de Angola, criada nesse ano, resultado da
As suas principais características eram as seguintes: colaboração tripartida entre os Ministérios da Marinha e das Colónias
Deslocamento máximo..................................................... 500 toneladas e o Governo de Angola.
Comprimento (fora a fora)............................................... 45 metros
Boca....................................................................................... 8,30 “ O navio chegado a Luanda em Novembro de 1936, iniciou os seus
Calado................................................................................... 2,34 “ trabalhos no ano seguinte dando apoio aos trabalhos de hidrografia nos
Velocidade máxima............................................................ 13 nós portos de Luanda e Lobito e Baía Farta. Em 1938, nos portos de Mossâ-
Velocidade de cruzeiro...................................................... 9 “ medes, Benguela e Baía dos Elefantes. No ano de 1939, nos portos do
Autonomia (a 9 nós).......................................................... 3200 milhas Cuío, Porto Amboim e Baía de Santa Maria. Em 1940, na Baía das Lu-
Possuía duas máquinas alternativas ciras e, finalmente, em 1941, nas baías de Baba e de Porto Alexandre.
de tríplice expansão com 700 cavalos de
potência, sendo o carvão o combustível A utilização do navio possibilitou à
utilizado. Armada com quatro peças Missão Hidrográfica de Angola produ-
de artilharia Hotchkiss, duas de 65 mm zir, num curto espaço de tempo, a carta
e outras duas de 47 mm. A sua guarni- hidrográfica nº. 309, (desde a foz do Rio
ção inicial era de 71 homens (4 oficiais, Cubal da Hanha até ao Cabo de Santa
8 sargentos e 59 praças). Maria), a carta nº. 310 (desde o Cabo de
Os primeiros 25 anos de serviço re- Santa Maria à Baía de Baba) e ainda os
partiram-se em missões de fiscalização planos hidrográficos das baías de Luan-
da pesca no Continente, patrulhas nos da, Lobito, Benguela, Farta, dos Elefan-
Açores e ocasionalmente na Madeira, permanências em Cabo Verde e tes, de Santa Maria e de Porto Amboim
Angola e a participação no “Périplo de África”, em 1924/25, integrada e dos portos do Cuío e de Mossâmedes.
na Divisão Naval Colonial. De salientar a sua notável acção durante Após cinco campanhas hidrográficas, cujo alcance se revelou da maior
a Grande Guerra, na defesa do porto cabo verdeano de São Vicente importância em termos económicos e também para a soberania portu-
guesa em Angola, o navio hidrográfico “Beira” foi, em 1 de Setembro
de 1941, abatido ao Efectivo dos Navios da Armada.
11. O Navio Hidrográfico Carvalho Araújo I
Foi construído em 1915 nos Estaleiros Charles Connell & Co. Ltd, em quais implicaram sucessivos levantamentos a fim de se procederem a ac-
Glasgow, para a Marinha Britânica. Após participar na Grande Guerra tualizações. Em 1953 a área atribuída à M.H.A. foi ampliada, passando
foi adquirido, em 1920, pelo Governo Português, classificado de cruza- também a incluir oArquipélago de S. Tomé e Príncipe, sendo o seu nome
dor e baptizado de “Carvalho Araújo”. Em 1932 foi considerado como alterado para Missão Hidrográfica de Angola e S. Tomé (M.H.A.S.T).
aviso de 2ª. classe e adaptado a navio hidrográfico em 1937, tendo sido
o primeiro deste tipo com aquele nome. Com propulsão a carvão, o “Carvalho Araújo” começou a apresen-
tar problemas devido à sua idade avançada pelo que, a partir de 1958,
Possuia as seguintes características: submeteu-se anualmente a reparações na Cidade do Cabo. Em virtude
Deslocamento máximo........................................................... 1210 toneladas de ter deixado de existir carvão em Luanda, ia reabastecer-se na Nigéria.
Comprimento (fora a fora)..................................................... 78,90 metros Chegou então a ser aventada a possibilidade de o converter para nafta,
Boca.............................................................................................. 9,90 “ mas, devido ao seu mau estado, optou-se por o substituir por outro na-
Calado máximo.……….......................................................... 3,60 “ vio, o que veio a suceder.
Velocidade máxima................................................................. 17,25 nós
Dispunha de duas máquinas com a Em 1959, o N.H. “Carvalho Araújo” foi abatido ao Efectivo dos Na-
potência de 2.750 cavalos. Tinha uma vios da Armada.
guarnição de 90 homens. Entre os comandantes do navio sa-
Durante o segundo semestre de 1937 lienta-se o então Capitão-tenente Lu-
e o ano seguinte apoiou a Missão Hidro- ciano Ferreira Bastos que assumiu o
gráfica da Ilhas Adjacentes (M.H.I.A.). comando em 24 de Julho de 1953, ten-
De acordo com o relatório do Chefe da do desde essa data e até 1960 chefiado
Missão, de 1936 a 1939 a M.H.I.A. reali- a M.H.A.S.T. e a ela voltado no ano se-
zou o levantamento hidrográfico completo do guinte. Considerado um dos mais dis-
arquipélago da Madeira e Ilhas Selvagens o tintos engenheiros hidrógrafos, foi o au-
qual compreendeu 12 cartas e planos hidrográficos, exigiu uma navegação de cer- tor da proposta de criação do Instituto
ca de 10.000 milhas, durante cerca de 3.000 horas, em que se efectuaram 12.000
sondagens em profundidades até 4.000 metros, durante as quais se enrolaram e Hidrográfico, apresentada em 1960 à Superintendência dos Serviços da
desenrolaram cerca de 9 milhões de metros de fio de prumo. Armada. Em 2002, num gesto simbólico de profundo significado, o Vice-
Apartir de Maio de 1939 e até quase ao fim do ano seguinte, participou -almirante Luciano Bastos procedeu à entrega ao Instituto Hidrográfico
nos trabalhos que se realizaram nas ilhas açorianas de S. Miguel e Santa da bandeira, da flâmula e do jaque içados pela última vez no N.H. “Car-
Maria. Em 1941 foi atribuído à Missão Hidrográfica de Angola (M.H.A) valho Araújo”, em 23 de Setembro de 1959.
e até 1953 deu apoio aos levantamentos hidrográficos desde Lândana
até à Baía dos Tigres, trabalhos que originaram quatro cartas gerais, dez O navio foi afundado a 13 de Novembro de 1963 ao largo da costa
costeiras e 30 planos de portos, baías, barras e troços de costa, alguns dos de Angola, com cargas de dinamite e fogo de artilharia, pela fragata
“Diogo Gomes”.
Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO