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Navios Hidrográficos
18. O Navio Hidrográfico Salvador Correia III
Construído em 1942 nos estaleiros Goole S. B. & Repair, na Escócia, do Ultramar, sob a orientação dos biólogos Herculano Vilela e Pedro
para a Marinha do Reino Unido com o nome de HMS Ruskholm, foi Guerreiro da Franca.
adquirido em 1948 pelo Governo Português e adaptado a navio ocea-
nográfico destinado ao estudo das pescas. Em 22 de setembro de 1960, foi criado o Instituto Hidrográfico e, no ano
seguinte, o N.O. Baldaque da Silva classificado como navio hidrográfico e
Foi batizado de Baldaque da Silva em homenagem ao Capitão de mar rebatizado Salvador Correia, tendo sido o terceiro a ostentar o nome daquele
e guerra António Artur Baldaque da Silva, personalidade que se dis- Almirante dos Mares do Sul que, em meados do século XVII, reconquistou
tinguiu pelos estudos que realizou no âmbito da geologia marinha, os territórios de Angola e São Tomé e Príncipe ocupados pelos holandeses.
investigação das pescas, trabalhos portuários, hidrografia e oceano-
grafia, tendo publicado diversos trabalhos científicos como o “Estu- Também em 1961 o N.H. Salvador Correia II alterou o seu nome para
do histórico-hidrográfico Baldaque da Silva. Tratou-se na realidade de uma permuta de nome entre
sobre a barra e o porto de
Lisboa” e o primeiro tomo os dois navios. A confusão
do “Roteiro marítimo da que daí resultou levou a
costa ocidental e meridio- que os próprios marinhei-
nal de Portugal”. ros passassem a denominá-
-los Baldaque Correia e Salva-
Adquirido conjunta- dor da Silva
mente com o Salvador Cor-
reia II, possuía as mesmas Em 1961, foi constituída
características deste na- a Missão de Oceanografia
vio, a seguir indicadas, e Física, tendo o N.H. Salva-
pertencia à classe com o dor Correia sido-lhe atribuí-
seu nome. do, continuando no entan-
to a prestar em simultâneo
Deslocamento máximo..............................................780 toneladas apoio às actividades desen-
Comprimento (fora a fora) .......................................45,57 metros volvidas pelo Instituto de Biologia Marítima e pelo Centro de Biologia
Boca..............................................................................8,5 “ Piscatória da Junta de Investigações do Ultramar. Nesse ano, efetuou
Calado máximo .........................................................4,57 “ diversos cruzeiros e, em 1963, encontrava-se em Angola a prestar apoio
Velocidade ..................................................................9,5 nós à investigação das pescas.
Propulsionado por uma máquina de tríplice expansão com uma po- A este propósito, conta o Capitão de mar e guerra José Parreira, à al-
tência de 850 cavalos, a sua guarnição inicial era de 36 homens. tura Diretor do Instituto Hidrográfico, nas suas “Notas sobre o Institu-
Em 4 de novembro de 1948, foi constituída a Missão de Estudos de to Hidrográfico – 1963”, o seguinte: “A Missão de Oceanografia Física está
Pesca da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais presentemente em Angola a realizar o programa de trabalhos determinado por
que, três anos mais tarde, passou a denominar-se Missão de Estudos este Instituto, de acordo com o Centro de Biologia Piscatória, e estava previsto
das Pescas de Angola, a qual foi então dotada com o N.O. Baldaque da o seu regresso a Lisboa, no navio, em meados de Dezembro próximo. Sucede,
Silva para apoio às suas actividades. Entretanto, em 1950, foi criado o porém, que em princípios de Outubro comunicou a Junta de Investigações do
Instituto de Biologia Marítima, entidade que centralizou as suas inves- Ultramar (Processo P.26.01-1) que, por despacho de Sua Exª o Subsecretário
tigações oceanográficas no domínio das pescas. de Estado do Fomento Ultramarino, tinha sido mandada incluir a dotação de
Em 1951, o N.O. Baldaque da Silva deu apoio à campanha que a Mis- 1.700.000$00 no II Plano de Fomento para 1964, destinados a encargos do N.H.
são de Estudos de Pescas de Angola realizou sob a direção técnica do “Salvador Correia” em Angola.
biólogo alemão Wilhelm Nümann e que se prolongou até 1953. Noti- Nestas circunstâncias, talvez seja mais conveniente ficar em Angola o N.H.
ciava a revista “Anais da Marinha”, na sua edição de setembro de 1950: “Salvador Correia”, até final da próxima campanha, assunto que tem que ser
Em breve, deverá seguir para a costa de Angola o navio oceanográfico e de posto à consideração de Sua Exª o Ministro da Marinha.”
estudos da pesca “Baldaque da Silva” que ali vai proceder a trabalhos cientí- Entre 1964 e 1969, o N.H. Salvador Correia participou em diversos cru-
ficos, promovendo estudos de natureza oceanográfica e biológica dos quais se zeiros realizados ao largo dosAçores para investigação das condições de
possam tirar conclusões práticas que beneficiem a pesca. Este barco, adquirido propagação acústica submarina no âmbito da campanha MILOC (Mili-
recentemente pelo Ministério das Colónias e tripulado por pessoal da Marinha tary Oceanography), determinada pelo Grupo de Oceanografia Militar
de Guerra, leva a bordo um grupo de cientistas e mestres de pesca que acom- da NATO. No ano seguinte, foi integrado na campanha oceanográfica
panham uma moderna aparelhagem destinada aos respectivos estudos, além de “Mediterrâneo Outflow” realizada entre Huelva e o Cabo de S. Vicen-
um equipamento adequado à prática das pescas. te, destinada a estudar o grau de penetração da água do Mediterrâneo
Em 1956, o Ministério da Marinha cedeu o navio à Missão de Biologia no Oceano Atlântico. Em 1966, foi ainda a bordo que se efetuaram os
Marítima da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultra- cruzeiros MALAC, junto ao Cabo de Santa Maria, destinados a apoiar
mar, tendo servido até 1961 na Missão de Estudos de Pesca emAngola e a captura do atum.
Cabo Verde. Em 1957, realizou uma campanha oceanográfica emAngo- O N.H. Salvador Correia foi abatido ao Efetivo dos Navios da Arma-
la, tendo os resultados destas campanhas sido publicados pelo Centro da em 27 de março de 1967 e substituído, nas suas funções, pelo anti-
de Biologia Piscatória da Junta de Investigações do Ultramar e estado go draga-minas S. Jorge. Pese embora a sua classificação como “navio
na origem das primeiras cartas da pesca de arrasto da costa de Angola. hidrográfico”, o Salvador Correia prestou sempre apoio às atividades
Prestou ainda apoio a outras campanhas idênticas naquele territó- ocean ográficas para as quais estava destinado, desde que, em 1948, foi
rio e também em Cabo Verde, onde participou em três integradas nos adquirido pelo Governo Português.
trabalhos da Missão de Biologia Marítima da Junta de Investigações
Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO
REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2003 11