Page 35 - Revista da Armada
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5ª 2010-
Foi no dealbar do século XXI que, após mais de quatro décadas de opera- comunicações submarinas digitais e a antena rebocada que permite receber
ção dos submarinos da classe Albacora, começou o processo de substituição comunicações até à máxima cota de operação.
dos submarinos da 4ª Esquadrilha. De entre as várias opções, o projeto ale-
mão acabou por ser o aceite, tendo o contrato de construção sido estabele- A cota máxima de operação, superior a 350 metros, associada à incerteza
cido com o estaleiro HDW (Howaldtswerke-Deutsche Werft GmbH) de Kiel, e da sua posição, poder e diversidade bélica, bem como a capacidade dos
assinado em Lisboa a 21 de abril de 2004. Denominados pelo tipo 209PN, seus sensores, eleva o seu grau de dissuasão a um patamar único.
o NRP Tridente e NRP Arpão são submarinos oceânicos de elevada autono-
mia, baseados na junção dos modelos A cerimónia de lançamento à água ocorreu no dia 15 de julho de 2008
alemães U-209 e U-212A, equipados para o Tridente, e a 19 de junho de 2009 para o Arpão, sendo que as entregas
de acordo com requisitos operacionais
adaptados às necessidades do Estado formais à Marinha portuguesa ocorre-
Português. ram a 17 de julho e 22 de dezembro de
2010, respetivamente.
As características principais dos
submarinos da 5ª Esquadrilha são as A formação e treino tiveram início
seguintes: em 2007, com uma formação geral, à
qual se sucederam muitas outras es-
Deslocamento à superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.842 toneladas pecíficas dos equipamentos, segundo
Deslocamento em imersão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.020 ’’ um planeamento intenso. Posterior-
Comprimento máximo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67,90 metros mente o System Instructions (SI) permitiu, já num ambiente de guarnição
Boca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7,25 ’’ constituída, o estudo do navio e de todos os seus sistemas, agora como “um
Calado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,6 ’’ todo”, ao contrário dos sistemas anteriormente estudados de forma isolada
Cota máxima operacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . + 350 ’’ e desintegrada. O SI constituiu assim a primeira das três fases finais da for-
Velocidade máxima à superfície. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .+ 10 nós mação que, juntamente com o “Treino a Cais” e o “Treino de Mar”, permi-
Velocidade máxima em imersão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . + 20 ’’ tiram o adestramento na operação e navegação submarina em segurança.
Autonomia máxima (bateria e AIP). . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12.000 milhas Enquanto decorria a formação e treino das guarnições, a Marinha edi-
Uma das inovações importantes é o facto de serem equipados com um ficou as infraestruturas de apoio logístico, num esforço assinalável de re-
moderno sistema, o AIP (Air Independent Propulsion), que permite a car- novação organizativa, tecnológica e de conhecimento, permitindo assim
ga da bateria mesmo em imersão profunda, não necessitando de estar assegurar as necessidades desta classe de navios.
à cota periscópica para tal. O sistema em questão recorre ao uso de hi- O Tridente entrou pela primeira vez no porto de Lisboa a 2 de agosto de
drogénio e oxigénio, armazenados em tanques especiais, que através de 2010, e o Arpão a 30 de abril de 2011.
uma reacção química produz energia eléctrica e água. Esta capacidade, Chegados a Portugal, os Tridente iniciaram imediatamente um intenso
associada aos dois motores de combustão interna, dá aos submarinos da programa de treino próprio, tanto com o objetivo de aumentar os padrões
classe Tridente uma projeção intercontinental, transformando o espaço de prontidão das guarnições como testar as capacidades e sistemas que
oceânico mundial num tabuleiro de xadrez, onde os submarinos são pe- equipam a classe. Associado a estes objetivos que por si só são concorren-
ças com liberdade total. tes, havia a garantir que todas as anomalias eram detetadas e reportadas ao
Mas é na sua capacidade operacional/tática que o fenómeno tecnológico estaleiro HDW de modo a assegurar a sua reparação aquando da docagem
supera todos os dados anteriores. Aperfeiçoado para além do limite huma- de garantia, sensivelmente um ano após a entrega.
no, os submarinos da classe Tridente apresentam reduzidíssimas assinatu- Navios com capacidades muito superiores aos das anteriores esquadri-
ras acústica, radar, electromagnética e térmica, colocando-os no topo da lis- lhas, os Tridente, apesar de terem só 3 anos de operação, desempenharam já
ta dos submarinos convencionais mais furtivos do mundo. Contam ainda missões muito exigentes em termos operacionais/táticos. Exemplo disso é
com o Integrated Sensor Underwater System (ISUS), sistema que integra, mo- a participação do Tridente no Noble Mariner 2010, Bold Monarch 2011, FleetEx
nitoriza, controla e gere todos os sensores internos multi-espectro (sensores 2012, Certificação do Sistema de Lançamento de Mísseis Sub-Harpoon, INSTREX
acústicos passivos e/ou ativos, electromagnéticos e óticos) e externos, fun- 2013, Operação Active Endeavour e SEABORDER 2013. Ou a participação
dindo os dados num panorama tático único, e que permite ainda a atribui- do Arpão no CONTEX/PHIBEX 2011, Noble Mariner 2012, Operação Active
ção e controlo de armas sob a forma integrada. Para perscrutar o espectro Endeavour 2012, INSTREX 2013, SPONTEX 2013 e colaboração com o FOST.
electromagnético esta classe possui o detetor/intercetor de comunicações Enquadrando as características dos novos submarinos no contexto his-
(COMINT), o detetor/intercetor de emissões radar (ELINT), o detetor de tórico português de domínio do espaço marítimo mundial, e não descu-
emissões laser (LWS) e o radar de baixa probabilidade de interceção (LPI). rando a componente geopolítica actual da sua posição na União Europeia
E se os sensores primários de bordo proporcionam conhecimento, o como país periférico, isolado dos principais centros culturais, industriais,
denominado situational awareness, as armas que equipam os Tridente con- comerciais e das redes de transporte terrestre, os submarinos da classe
ferem-lhes poder. Para tal estão equipados com 8 tubos lança armas que Tridente reforçam a posição central de Portugal e de extraordinário valor
permitem o lançamento de: Sub-Harpoon Block II-G (mísseis subsónicos geoestratégico, com acesso desimpedido a todo o Mundo por via do seu
mar-mar e mar-terra, com uma precisão de menos de 1 metro e com al- espaço marítimo.
cances superiores a 100Km); torpedos filo-guiados de longo alcance Black No ano em que se comemora o centenário da operação de submarinos
Shark (alcances superiores a 50Km e que estando ligados ao submarino por em Portugal, estes mesmos 100 anos que separam o Tridente do Espadarte,
uma fibra ótica, servem também como sensor avançado); minas Murena criam entre si uma barreira tecnológica inimaginável. Autonomia, alcan-
(minas anti-navio e/ou anti-submarino). Para defesa própria possuem ce, mobilidade, discrição, deslocamento, cotas de operação, capacidade
um moderno sistema integrado de defesa anti-torpédica ativo. Também ofensiva e de deteção, capacidades de comando, controlo, comunicações
os indispensáveis sistemas de comunicações sofreram melhorias assinalá- e informações. Tudo foi exponenciado por uma evolução tecnológica que
veis, com o incremento da capacidade SHF SATCOM, as moderníssimas parece não ter limites...
Colaboração da ESQUADRILHA DE SUBMARINOS