Page 5 - Revista da Armada
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Tejo estará sempre ligado à nossa Marinha, enquanto poiso   vendo o seu desenvolvimento enquanto vila, com um foral tardio
         O e descanso dos navios e guarnições, entre duas missões ou   dado por D. José. Foi ele que lhe deu mais protagonismo, cons-
          viagens. Sonham os marujos (hoje homens e mulheres) com uma   truindo ali o seu palácio e organizando a actividade económica à
          “janela enfeitada de alecrim” e a saudade acorda à vista de S. Ju-  volta das suas terras. Em Oeiras teve lugar a primeira exposição
          lião, quando o rio se espraia no Atlântico e o ar carrega o seu sabor   agrícola e industrial portuguesa – talvez a primeira da Europa –,
          a sal. Oeiras nasceu e cresceu a ver os navios que seguem o seu   quando Pombal ali acolheu o monarca, no ano de 1770, e orga-
          rumo com destino ao mundo, ou que chegam em ávida demanda   nizou um certame para lhe mostrar alguns dos sucessos do seu
          do porto. A proximidade da capital e a sua localização sobre a barra   governo, com a exibição de produtos agrícolas e artefactos de pro-
          do Tejo deu-lhe este privilégio, garantindo-lhe um lugar especial   dução nacional.
          no coração dos homens do mar. Quem parte, deixa em Oeiras –   Entre São Julião e o Bugio se estabeleceu o portão de acesso à
          “entre torres” – a maternal protecção do rio e, quem chega, recu-  capital, protegido com artilharia e com navios fundeados em per-
          pera ali o abrigo e o conforto do cheiro a casa.    manência na barra. Mas Oeiras e a sua fortaleza recordavam aos
           Em tempos mais antigos, quando Portugal ensaiava os primei-  marinheiros os limites da segurança dos navios, no local onde se
          ros passos na saga das navegações que lhe deram a notoriedade   encontram os dois canais de acesso ao Tejo, hoje designados como
          assumida no século XVI, o local era pouco mais do que um ermo,   a “barra sul” e a “barra norte” (noutros tempos “barra grande” e
          rico em vinha, cereais e hortas, mas de acessos algo difíceis e gran-  “barra pequena”). Ali começam ou acabam os maiores perigos e
          des perigos. O próprio nome de Oeiras resultará de uma evolução   ali se perderam alguns navios. Um dos casos mais conhecidos – re-
          fonética a partir da expressão “lugar de eiras” que se tornou no   centemente estudado – foi o da nau Nossa Senhora dos Mártires,
          topónimo de hoje. Diz-se que foi D. Manuel I quem primeiro ima-  vinda da Índia no ano de 1606 e chegada à costa com sudoeste
          ginou fazer uma fortaleza na ponta de S. Julião, quando, já velho   violento, a dificultar a entrada pelo canal da barra norte. Esfalfada
          e doente, por ali perto se recolhia para descanso e recuperação.   por uma longa viagem, forçou a entrada e foi encalhar em S. Julião,
          Numa visita que fazia à ermida de Santo Amaro, deu-se conta do   desfazendo-se nas rochas e deixando no fundo toda a sua carga. É
          valor estratégico daquela península, defronte de São Lourenço da   apenas um exemplo do que seria o último percalço, antes de che-
          Cabeça Seca (Bugio), decidindo construir ali uma fortaleza. Não o   gar a casa: um percalço terrível se o vento era sudoeste e se o na-
          conseguiu fazer durante a sua vida, mas deixou a indicação escrita   vio já vinha com fracas condições de navegabilidade. Hoje, Oeiras e
          para o filho, D. João III, que começou as obras a 9 de Janeiro de   a encosta rochosa que abriga a saída do Tejo continuam a ser uma
          1553. Mas os trabalhos prosseguiram pelo reinado de D. Sebastião   referência para a navegação de quem demanda o porto de Lisboa.
          e Filipe II, que alteraram a traça inicial; e a esplanada e o revelim   À linha de fortalezas vigilantes da barra sucedeu um conjunto de
          virados ao sul, só foram construídos no tempo de D. João IV.   balizas e marcas que guiam os navios e encaminham o tráfico ma-
           À sombra de S. Julião cresceu a comunidade que o Marquês de   rítimo, zelando pela sua segurança, com a figura imponente de S.
          Pombal tomou para si, ao ser intitulado Conde de Oeiras, promo-  Julião a saudar os marinheiros que partem e chegam.

                                                                                                  J. Semedo de Matos
                                                                                                           CFR FZ
                                                              N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
                                                              Foto SMOR L Almeida Carvalho































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