Page 30 - Revista 532
P. 30

VIGIA DA HISTÓRIA                           102








                                                              AMEAÇAS DO


                                                              SECRETÁRIO









                                                                 uando o Vice-Rei da Índia se ausentava de Goa, em especial
                                                              Qno decurso de expedições militares, os assuntos correntes
                                                              da governação ficavam entregues ao Secretário do Governo que,
                                                              através de mensageiros, ia mantendo o Governador ao corrente
                                                              da situação.
                                                               Durante o mês de Fevereiro de 1695, o Vice-Rei da Índia, Pedro
                                                              António de Noronha, 2º conde de Vila Verde, encontrava-se no
                                                              Norte e o Secretário, Manuel Pereira Peres, mandara aprontar
                                                              uma embarcação para ali seguir com avisos quando, no próprio
                                                              dia previsto para a partida, e ainda sem ter a respectiva escolta
                                                              militar embarcada, foi a embarcação tomada, na praia de Cola,
                                                              onde  se  encontrava  fundeada,  por  umas  galvetas  que,  veio  a
                                                              saber-se  depois,  pertenciam  a  Qhema  Saunto.  Os  poucos  tri-
                                                              pulantes embarcados, segundo o Secretário todos eles negros,
                                                              aquando do ataque haviam fugido deitando-se ao mar e nadando
                                                              para terra.
                                                               Resolveu então  o  Secretário  escrever uma  carta a Qhema
                                                              Saunto, na qual afirmava que, se era verdade que tinha muita
                                                              amizade com os portugueses, conforme apregoava, tinha agora
                                                              oportunidade  de  o  demonstrar,  promovendo  a  entrega  da
                                                              embarcação tomada, juntamente com os seus pedreiros (peças
                                                              de artilharia) e 20 mosquetes que se encontravam a bordo.
                                                               Referia  ainda,  na  carta  em  questão,  que  Saunto  não  deveria
                                                              procurar desculpas para não fazer a entrega, afirmando não ser
                                                              o assalto da sua responsabilidade, mas sim de Sivagy, porquanto,
                                                              mesmo que tivesse sido esse o caso, a Saunto não lhe faltaria o
                                                              poder para fazer a entrega, ainda para mais conhecendo o valor e
                                                              grande paixão do Vice-Rei que, muito certamente, iria empenhar
                                                              todas as suas forças, apesar do risco, para assolar todas as suas
                                                              terras.
                                                               Acrescentava ainda o Secretário o seguinte:
                                                               “Veja Vª. Senhoria se por tão pouco lhe convêm arriscar muito
                                                              e que o Vice-Rei desconfie de Vª. Mercê porque, para onde ele se
                                                              inclinar com o seu poder, há-de destruir tudo“.
                                                               A carta terminava com o aviso de que ele, Secretário, não iria
                                                              avisar o Vice-Rei do sucedido enquanto não recebesse resposta
                                                              à presente carta.

                                                                                                                                                Cmdt. E. Gomes


                                                              N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
                                                              Nota: Dado que, durante muitos anos mais, os portugueses combateram Qhema Saunto,
                                                              é de admitir que as ameaças do Secretário tenham caído em saco roto.
                                                              Fonte: Livro nº 6 dos Reis Vizinhos in Boletim da Filmoteca Ultramarina Portuguesa,
                                                              vol. Nº 41/43.



                                                  DR  DR
   25   26   27   28   29   30   31   32   33   34   35