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REVISTA DA ARMADA | 550

              aƟ vamente em seis deles, nomeadamente nas áreas de Comando &   despesas de desenvolvimento conjunto de equipamentos e tecno-
              Controlo, mobilidade militar, ciberdefesa, rádios militares, guerra de   logias de defesa (Capacitação). Porém, na altura em que este arƟ go
              minas e proteção portuária (ver tabela junta). Nesta linha, a Marinha   é escrito, ainda está a ser negociado o quadro fi nanceiro plurianual
              teve a incumbência de assegurar a parƟ cipação nacional nestes dois   para o período 2021-27, ou seja, o próximo orçamento da UE, tendo
              úlƟ mos projetos, inƟ tulados:                      sido divulgadas noơ cias de que o Fundo Europeu de Defesa poderá
               –  MariƟ me (Semi-)autonomous Systems for Mine Counter-Measu-  sofrer cortes de cerca de 50% relaƟ vamente à verba inicialmente
                res (MAS MCM), liderado pela Bélgica; e           anunciada. Independentemente do valor que vier a ser consagrado,
               –  Harbour & MariƟ me Surveillance and ProtecƟ on (HARMSPRO),   importa destacar que o Fundo Europeu de Defesa vai  fi nanciar
                liderado pela Itália.                             somente projetos colaboraƟ vos que envolvam um mínimo de três
                                                                  EM e cofi nanciar o desenvolvimento de protóƟ pos comuns quando
              SEGUNDA VAGA DE PROJETOS PESCO                      os EM se comprometerem a comprar o produto fi nal. Isto traduz-se
                                                                  numa metodologia de invesƟ r para receber, que implica que os EM
               Entretanto, ainda no rescaldo da primeira vaga, a UE avançou, no   idenƟ fi quem formas de fi nanciamento a médio e longo prazo. No
              primeiro semestre de 2018, com a segunda vaga de projetos PESCO.   caso nacional, a viabilização fi nanceira da parƟ cipação nestes proje-
               Nesta fase, foram adotados (pelo Conselho da UE de 20 de novem-  tos, passará pela Lei de Programação Militar, principal instrumento
              bro de 2018) mais 17 novos projetos, que se vieram somar aos 17   para a edifi cação das capacidades militares nacionais.
              iniciais. A Marinha assegura a representação nacional num desses   Na perspeƟ va estrutural, existe o desafi o de concreƟ zar a estru-
              projetos: o GeoMETOC Support CoordinaƟ on Element (GMSCE), lide-  tura de governação da PESCO. EfeƟ vamente, o Conselho da UE
              rado pela Alemanha, que tem por objeƟ vo melhorar o apoio meteo-  é responsável pelas orientações estratégicas relaƟ vas à PESCO,
              rológico e oceanográfi co às missões executadas no âmbito da PolíƟ ca   sendo as decisões tomadas pelos 25 EM parƟ cipantes, por una-
              Comum de Segurança e Defesa.                        nimidade, exceto as decisões relaƟ vas à suspensão de membros
                                                                  ou à entrada de novos membros, que são tomadas por maioria
              TERCEIRA VAGA DE PROJETOS PESCO                     qualifi cada. Isso vai, certamente, consƟ tuir um desafi o signifi ca-
                                                                  Ɵ vo, pois o desinteresse ou a relutância de um EM pode prejudicar
               Em 2019, decorreu o processo relaƟ vo à terceira vaga de proje-  o aprofundamento da PESCO.
              tos PESCO, em que o Ministro da Defesa Nacional defi niu o objeƟ vo   Numa perspeƟ va operacional, não é, ainda, inteiramente claro
              de Portugal liderar um ou mais projetos. Nesta terceira vaga, foram   qual o contributo efeƟ vo que os projetos PESCO vão dar para
              aprovados (pelo Conselho da UE de 12 de novembro de 2019) mais   melhorar a resposta operacional da UE. Neste quadro, não se
              13 projetos, elevando o número total para 47. Destes 13 novos pro-  pode dizer que os projetos PESCO eliminem as dúvidas quanto à
              jetos, Portugal parƟ cipa aƟ vamente em três (ver tabela), um relacio-  verdadeira capacidade dos europeus em intervirem em cenários
              nado com materiais e componentes tecnológicos e dois outros que   operacionais de grande escala, tal como tem sido revelado pelo
              resultaram de propostas nacionais, a saber:         facto dos BaƩ le Groups, criados em 2003 e operacionais desde
               –  EU Cyber Academia and InnovaƟ on Hub (EU CAIH); e  2007, nunca terem sido empregues. EfeƟ vamente, a Europa, com
               –  MariƟ me Unmanned Systems for AnƟ -Submarine (MUSAS).  um invesƟ mento militar correspondente a cerca de metade do
               Ambos estes projetos estão a ser liderados por Portugal, o primeiro   dos Estados Unidos da América (EUA), tem conseguido um pro-
              pela Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional, do Ministério   duto operacional que (de acordo com dois estudos efetuados já há
              da Defesa Nacional, e o segundo pela Marinha, jusƟ fi cando-se, por   alguns anos, mas cujas premissas se mantêm mais ou menos inal-
              isso, uma breve descrição do mesmo.                 teradas) oscilará entre 10% (InsƟ tut Royal Supérieur de Defénse, da
               O projeto MUSAS visa desenvolver uma arquitetura avançada de   Bélgica) e 15% (The Heritage FoundaƟ on, dos EUA) do norte-ame-
              Comando, Controlo & Comunicações (C3), para múlƟ plos sistemas   ricano. Esse é, pois, um desafi o de monta: transformar capacida-
              autónomos maríƟ mos, a operar em diferentes domínios (aéreo,   des em produto operacional efeƟ vo.
              superİ cie e subsuperİ cie), com especial enfoque na luta anƟ ssub-  Em jeito de conclusão, podemos afi rmar que a UE tem vindo a
              marina. O projeto tem previsto estender-se até 2026, contando já   dar passos signifi caƟ vos para o alargamento das iniciaƟ vas na área
              com diversos EM parƟ cipantes (Portugal, Espanha, França e Suécia)   da PolíƟ ca Comum de Segurança e Defesa e para o aprofunda-
              e observadores (Bélgica e Itália), além do interesse de outras nações   mento da edifi cação das capacidades militares, miƟ gando as lacu-
                             e de várias empresas no âmbito da indústria de   nas existentes no quadro europeu, bem como nos respeƟ vos EM.
            Comentários      defesa nacional.                     Os projetos PESCO não vão ser a bala prateada da construção da
                                                                  idenƟ dade europeia de segurança e defesa, mas refl etem um nível
                             CONSIDERAÇÕES FINAIS:                acrescido de ambição políƟ ca e consubstanciam mais um pequeno
                                                                  passo (naquela políƟ ca dos pequenos passos, tão comum na UE)
                             OPORTUNIDADES E DESAFIOS             na consolidação da “Europa da Defesa”, contribuindo para miƟ gar
                              Apesar das oportunidades, este processo não   lacunas nas capacidades militares, potenciar economias de escala,
                             está isento de desafi os, que se estendem às   esƟ mular a indústria de defesa e aumentar a capacidade de res-
        ParƟ cipação nacional a cargo   perspeƟ vas genéƟ ca, estrutural e operacional.  posta militar. Portugal deve encarar este processo de reforço da
        da Marinha            Na perspeƟ va  genéƟ ca, o maior desafi o   defesa europeia, não como uma despesa ou um custo, mas como
        ParƟ cipação nacional a cargo   prende-se com o fi nanciamento dos projetos   uma oportunidade de invesƟ mento no exercício da defesa na
        da Marinha                                                região Euro-AtlânƟ ca.
        ParƟ cipação nacional a cargo   e, nomeadamente, com o papel de incenƟ vo
        da Marinha           moƟ vacional que poderá ser desempenhado
        Projeto liderado por Portugal  pelo Fundo Europeu de Defesa. Inicialmente,                      Sardinha Monteiro
        Projeto liderado por Portugal;   foi anunciado que este fundo iria ter um orça-                          CMG
        ParƟ cipação nacional a cargo   mento de 13 mil milhões € entre 2021 e 2027,                     Rodrigues Pedra
        da Marinha           dos quais 4,1 mil milhões € para fi nanciamento                                       CFR
                             direto de projetos colaboraƟ vos  de  InvesƟ -                           Lourenço da Piedade
                             gação e 8,9 mil milhões € para cofi nanciar                                           CFR


                                                                                                         ABRIL 2020  5
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