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REVISTA DA ARMADA | 552
Foto SAJ A Ferreira Dias
DIA(S) DA MARINHA
O que se pode encontrar em comum entre os dias 3, 20 e 28 de Maio ou 8 de Julho? Em cada um destes dias, pelo menos uma vez, já
foi celebrado o Dia da Marinha.
3 DE MAIO E A EXCEPÇÃO Setembro de 1969, fi xa fi nalmente uma data: 8 de Julho, dia do
ano de 1497 em que ocorreu a largada do Tejo da frota de Vasco
Decreto n.º 26.582 do Ministério da Marinha, de 11 de Maio da Gama, a caminho da Índia.
O de 1936, explica o conceito e determina qual o dia. Refere Desta forma, o dia 8 de Julho, data de celebração de uma parƟ da,
o seu Art. 1.º que “Todos os anos a Armada Portuguesa, procu- dia que foi o culminar de uma longa preparação, técnica e logísƟ ca,
rando fortalecer os laços que a prendem ao senƟ mento popular que permiƟ u essa mesma parƟ da, que levou os primeiros europeus
e evocando os altos feitos maríƟ mos de Portugal, festejará o seu a contornar África e a cruzar o Índico para chegar a Calecute, mante-
ressurgimento em dia que será designado por «Dia da Marinha»”; ve-se como o Dia da Marinha durante quase três dezenas de anos.
refere ainda que o dia deve ser comemorado “(...) nos navios e nas O primeiro número da Revista da Armada (RA), publicado em
demais unidades da Armada com as fesƟ vidades que superior e Julho de 1971, tem um arƟ go de 4 páginas (18 a 21) dedicado a
oportunamente forem determinadas”. Conclui determinando que essa data, assinado simplesmente por J. Cabeçadas . Além de
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o dia seja o 3 de Maio (exceptuando esse ano de 1936, em que a mencionar o despacho ministerial, é desenvolvido o tema da
festa foi adiada para o dia 28 de Maio, coincidindo com o “décimo importância da data escolhida, ou melhor, a importância do acon-
aniversário da Revolução Nacional”). tecimento celebrado.
O que então foi escrito no prólogo, ainda é válido hoje: “Justo é, Sobre a viagem, refere o autor que “(...) foi uma empresa que
pois, que se procure fortalecer os laços que prendem a Armada exigiu estudo, organização, método, pois teve que combinar ele-
ao senƟ mento popular; para isso muito contribuirá a fi xação de mentos anteriores, noơ cias, tentaƟ vas, hipóteses, etc., para aƟ n-
um dia do ano desƟ nado a pô-la em contacto com a Nação, que gir uma grande fi nalidade. Foram de dois longos anos esta expe-
assim apreciará o resultado dos sacriİ cios que lhe são pedidos; dição, tendo chegado a navegar três meses a fi o sem ver terra (...)
tais sacriİ cios certamente lhe parecerão menos pesados ao verifi - [e na] viagem de regresso, no golfão do Índico, gastou três meses
car o aprumo e o garbo dos seus marinheiros e o aspecto correcto menos três dias.” . Para realçar a precisão náuƟ ca da viagem,
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dos seus navios.” E conƟ nua: “Se esse dia for igualmente o aniver- o autor cita Gago CouƟ nho : “Vasco da Gama teve de «buscar
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sário de um grande feito da nossa epopeia maríƟ ma, aƟ ngir-se-á um ponto defi nido depois de uma derrota indirecta de duas mil
o duplo fi m de se mostrar ao País os progressos realizados e de léguas apenas guiado pelos astros» e ao chegar «passados três
avivar a recordação daquele feito”. meses de viagem, sem ver terra, à baía de Santa Helena – que
O dia 3 de Maio, por lei de 1 de Maio de 1912, havia sido decla- ainda hoje conserva este nome, desembarcava com o astrolábio
rado feriado ofi cial, por ser “data gloriosa do descobrimento do grande e concluía que faltavam trinta léguas para o Cabo. Não
Brasil”, cf. Diário do Governo (DG) n.º 104, de 4 de Maio. Esse chegaram a errar duas léguas»”. Depois de referir ainda os con-
feriado desapareceu em 1951, ao deixar de estar contemplado na tratempos (as áreas ainda desconhecidas e os obstáculos colo-
legislação que estabeleceu os (novos) feriados nacionais (Decreto cados por alguns dos homens que iam encontrando), diz que o
n.º 38.596, publicado no DG n.º 1, I Série, de 4 de Janeiro de 1952). “que Vasco da Gama realizou – chegar ao Oriente, à terra das
Todavia, o Dia da Marinha manteve a sua data. riquezas – foi a grande aspiração da maioria dos descobridores,
foi o grande sonho náuƟ co da Europa”.
8 DE JULHO Resumidamente, a data escolhida era o “dia do início da grande
jornada que nos levou até à Índia”.
A 2 de Maio de 1957, o DG publica o Decreto n.º 41090, que irá Como confi rmaria o Comandante Sousa Machado, em arƟ go
permiƟ r ao Ministro da Marinha, por Despacho, designar anual- publicado nas páginas do n.º 22 da RA, a “(...) Armada, como as
mente a data em que se deve realizar o Dia da Marinha. E só uma marinhas mercantes, de pesca e de recreio, aproveitam a efemé-
dúzia de anos depois, o despacho ministerial n.º 89, de 12 de ride para celebrarem do modo que lhes seja mais adequado as
6 JUNHO 2020