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REVISTA DA ARMADA | 559
aproximasse da americana e se lhe juntasse neste nível. O maior
risco para a hegemonia norte-americana seria a possibilidade de
declínio progressivo para o segundo nível, onde teria a companhia
de outros membros.
2.º Nível: Marinhas com Média Capacidade de Projeção de Força
Global (Rank 2: Medium Global Force Projec on Navies): Estas
marinhas têm capacidade para conduzir uma operação de grande
dimensão fora de área, i.e., para além do oceano conơ guo. Grove
idenƟ fi cou três marinhas neste nível: a russa, a britânica e a fran-
cesa, visto possuírem porta-aviões (apesar da perda temporária
desta capacidade por parte do Reino Unido), capacidades anİ bias,
forças de superİ cie vocacionadas para o controlo do mar, subma-
rinos nucleares balísƟ cos, submarinos nucleares de ataque e apoio
logísƟ co condicente. Na altura, Grove esƟ mava que as Marinhas
Chinesa e Indiana estavam à porta deste nível. Porta-aviões Liaoning, da Marinha Chinesa.
3.º Nível: Marinhas com Média Capacidade de Projeção de Força O caso da Índia é, aliás, bastante interessante, pois apesar de ser a
Regional (Rank 3: Medium Regional Force Projec on Navies): maior democracia do Mundo (embora considerada por muitos ana-
Grove defi ne estas marinhas como sendo as que têm capacidade listas como uma democracia iliberal, conforme defi nição de Fareed
para projetar força no oceano conơ guo, tendo incluído nesta cate- Zakaria), o seu desenvolvimento tem sido prejudicado pelos blo-
goria marinhas como as de Japão, Coreia do Sul, Índia, Espanha, queios decorrentes da sua peculiar forma de estraƟ fi cação social,
Itália, Alemanha, Brasil ou Austrália, entre outras. consubstanciada num sistema de castas que provoca profundas
4.º Nível: Marinhas com Capacidade de Projeção de Força em desigualdades. O cienƟ sta políƟ co indiano Pratap Bhanu Mehta cap-
Áreas Adjacentes (Rank 4: Adjacent Force Projec on Navies): Para turou bem a realidade do seu país, numa frase em que compara os
Grove estas marinhas são as que têm alguma capacidade para pro- dois gigantes asiáƟ cos: “A Índia é uma sociedade aberta com uma
jetar força à distância, como por exemplo as marinhas de Turquia, mente fechada; a China é uma sociedade fechada com uma mente
Portugal, Polónia, Grécia, Chile, Peru, Israel e África do Sul. aberta”. EfeƟ vamente, a rigidez do sistema de castas tolhe a moder-
5.º Nível: Marinhas de Defesa Territorial Longe da Costa (Rank 5: nização da Índia, difi cultando a alocação, à sua marinha, dos recur-
Off shore Territorial Defence Navies): Trata-se de marinhas com sos que lhe permitam subir para o 2.º nível.
boas capacidades para operações defensivas (e, naturalmente, Por contraste, a China tem evidenciado um extraordinário cresci-
também de imposição da lei) nos espaços maríƟ mos que se esten- mento económico e uma grande capacidade de inovação, nomeada-
dem até ao limite exterior da Zona Económica Exclusiva (200 mente nas novas tecnologias, o que permiƟ u um invesƟ mento sem
milhas da costa). Grove incluiu neste nível, inter alia, as marinhas precedentes na sua marinha. Isso fez com que a Marinha Chinesa
de ArgenƟ na, Egipto, Marrocos e Argélia, com esta úlƟ ma a visar, desse um enorme salto em termos de capacidades, nomeadamente
já na altura, o nível acima. com os seus dois porta-aviões (Liaoning e Shandong), os novos
6.º Nível: Marinhas de Defesa Territorial Junto à Costa (Rank 6: navios anİ bios porta-helicópteros (Landing Helicopter Dock) do Ɵ po
Inshore Territorial Defence Navies): Estas marinhas possuem 075 e sete submarinos nucleares balísƟ cos. Em setembro de 2020,
essencialmente capacidades para defesa territorial junto à costa, foi até bastante noƟ ciado que a Marinha Chinesa ultrapassara, em
além de capacidades para imposição da lei nos seus espaços marí- número de unidades navais, a US Navy. Porém, a esquadra chinesa –
Ɵ mos. Uma marinha ơ pica desta categoria é a fi nlandesa. que totaliza cerca de 350 navios e submarinos (por contraponto aos
7.º Nível: Marinhas de Imposição da Lei (Rank 7: Constabulary quase 300 da US Navy) – é muito baseada em navios do Ɵ po fragata
Navies): Este nível inclui marinhas que não se desƟ nam a comba- ou corveta, fi cando ainda aquém da sua congénere norte-americana
ter, mas apenas a atuar no quadro da imposição da lei nos res- em tonelagem e em capacidade de fogo, a que acresce o handicap
peƟ vos espaços maríƟ mos. Nalguns países, essas forças adotam a de não ser testada em operações reais e em combate. De qualquer
designação de guarda costeira, em vez de marinha. Dois exemplos forma, é bem provável que o Prof. Eric Grove tenha que voltar à sua
clássicos de marinhas desta categoria são a irlandesa e a islandesa. escala anƟ ga de 9 categorias, recriando o 2.º nível para acomodar
8.º Nível: Marinhas Simbólicas (Rank 8: Token Navies): Este nível uma cada vez mais impressionante Marinha Chinesa.
engloba as marinhas dos restantes países do mundo, as quais ape- Esse crescimento da Marinha Chinesa tem provocado um efeito
nas podem aspirar, na melhor das hipóteses, ao desempenho das de arrastamento noutras marinhas do Sudeste AsiáƟ co, como a
mais básicas tarefas de imposição da lei. japonesa e a sul-coreana, que se têm desenvolvido bastante nos
úlƟ mos anos. De facto, o Japão tem, provavelmente, a marinha
BREVES REFLEXÕES SOBRE ALGUNS mais desenvolvida do 3.º nível, aspirando mesmo ao nível de cima.
DESENVOLVIMENTOS DESDE 2012 Já a Coreia do Sul é outro caso interessante, pois a sua marinha
estava no 5.º patamar na década de 90 e subiu para o 3.º nível
Naturalmente, a hierarquia das marinhas (que não a concetuali- em 2012, aí se tendo cimentado como uma das marinhas mais
zação das diferentes categorias) envolve sempre alguma subjeƟ vi- robustas, graças aos seus contratorpedeiros Aegis, à sua numerosa
dade e tem um caráter temporal, qualifi cando a situação de cada esquadrilha de submarinos e às crescentes capacidades anİ bias e
marinha num dado momento, situação essa que pode evoluir, em de reabastecimento.
senƟ do posiƟ vo ou negaƟ vo. Nesta óƟ ca, analisando esta lista, além Finalmente, uma referência para a Europa, onde as alterações têm
de outras subidas e descidas de nível que não é possível detalhar, sido bem mais modestas, destacando-se sobretudo a ascensão da
por razões de espaço, destaca-se o crescimento muito signifi caƟ vo Marinha Turca, que já se encontra, presentemente, no 3.º nível, dado
do poder naval da República Popular da China nos úlƟ mos anos. o forte invesƟ mento que tem sido feito nas suas capacidades.
Conforme já referido, em 2012, Eric Grove Ɵ nha esƟ mado que as
Marinhas Chinesa e Indiana já estavam à porta do 2.º nível, mas isso Sardinha Monteiro
confi rmou-se apenas no caso da primeira. CMG
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