Page 78 - Revista da Armada
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"REQUIEM" POR UMA BARCA
« ... numa manhã de nevoeiro, depois de uma noite de que a tinham para ali levado a viram e lhe acudiram.
chuva maconde (*), a embarcação foi vista da torre, A MINA foi restaurada, sofreu uma grande operação,
com a popa quase submersa.»
tiraram-lhe as entranhas, alindaram-na, pintaram-na e,
porque já o merecia, deram-lhe um lugar de destaque,
tomaram-na em figura de representação, coloçada em
Assim me chegou a notícia, assim vim a saber da sorte local de panorama extasiante, que viria a ser, afinal,
desta velha embarcação, que nas longínquas mas portu- o sítip que escolheu para se finar!
guesíssimas águas do Niassa terminava os seus dias, can- A inauguração do seu novo poiso, com toda a solenidade
sada de viver e sem forças para mais flutuar! que o acto merecia, foi acontecimento que não mais esque-
A MINA já era de certa idade! Embora não tivesse registo ce, ocorrido nesse ano de 69, com a presença até das mais
- o seu cartão de identidade perdera-se através dos tem- altas entidades do distrito.
pos -, viera já adulta da Metrópole, donde emigrara, A MINA nesse dia, com o seu novo fato branco, com o
dizem, das bandas de Paço de Arcos, para as terras da sol a bater-lhe, resplandecente, na sua pintura, estava
aventura, levada pelos homens que a quiseram utilizar, impecável e linda!
aí por volta dos anos 50 ... , Nas rudes e laboriosas Depois, foi sempre uma vida fácil, com os seus amigos
canseiras de uma hidrografia, cujas tarefas são sempre que a visitavam, principalmente nos fins de semana, que
bem árduas, trabalhando dia a dia, sulcando as águas com ela iam comer, que a procuravam em grupos ou
'numa prestimosa utilização constan,te, o seu coração, isolados, para uns momentos de lazer, para um encontro
a sua máquina, foi-se a pouco e pouco enfraquecendo, melhor com a natureza.
ao mesmo tempo que todo o seu corpo outrora de boa Até que fmalmente desapareceu, como queria, como
fibra, foi permeável ao desgaste do tempo. devia e como é próprio das embarcações que se prezam.
Mais tarde, sôzinha e abandonada, ficou nessas paragens Nasceu, algures, na Metrópole e jaz, ali, na explêndida
de sonho, arrumada numa margem, moribunda e infeliz, Baía de Metangula, Niassa, Moçambique, Portugal!
à espera da sua hora, que certamente degradante seria, Cabe à geração daqueles que ainda a conheceram, que
pois nada há de máis triste na morte de um navio do que com ela privaram, que dela se lembram, continuar a sua
o morrer n~ margem. tradição, construindo e fazendo surgir noutro dia de sol
Mas a sua hora não tinha chegado e o facto é que, por a MINA II, silhueta imprescindível no quadro da incom-
alturas de 69, outros homens da família .'dos mesmos parável beleza do Niassa.
(*) Maconde - expressão que na gíria naval do Niassa, quer
dizer «qualquer coisa em grande», «a nível industrial», etc. A. Chuquere
Efemérides Navais
Relativas aos meses de Novembro e Dezembro
1 -Em 22 de Novembro de 1497, Vasco da Gama, 5 - Em 19 de Novembro de 1724, desaba sobre Lisboa
na viagem da descoberta do caminho marítimo um grande temporal, durante seis horas consecutivas,
para a Índia, dobra o Cabo da Boa Esperança. provocando o naufrágio, no Tejo, de 62 embarca-
2 -Em 23 de Novembro de 1507, sai do porto de ções.
Cochirn uma frota comandada por D. Francisco de 6 -Em 19 de Dezembro de 1488, chega a Lisboa
Almeida, dirigindo-se a Panane, onde se encon- Bartolomeu Dias, depois de ter descoberto o Cabo
travam detidas muitas embarcações portuguesas. da Boa Esperança.
Depois de um violento combate, ficaram vitoriosas 7 - Em 30 de Dezembro de 1508, D. Francisco de
as forças portuguesas. Almeida toma Dabul, na Índia.
3 - Em 27 de Novembro de 1520, depois de grandes 8 -Em 15 de Dezembro de 1516, morre o grande
esforços, Fernão de Magalhães consegue terminar Afonso de Albuquerque.
a travessia do estreito que tem o seu nome e 9 - Em 25 de Dezembro de 1524, morre em Cochirn,
desemboca no Oceano Pacífico. investido do cargo de Vice-Rei da Índia, Vasco
4 -Em 5 de Novembro de 1538, termina o primeiro da Gama.
cerco de Diu, devido à heróica defesa dos portu- 10 - Em 4 de Dezembro de 1898, é inaugurado o
gueses, comandados por António da Silveira. Aquário Vasco da Gama, em Algés.
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