Page 93 - Revista da Armada
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trado no Tejo no domingo anterior, para meter carvão e ção, decidiu efectuar ainda mais quatro disparos, resul-
efectuar pequenas reparações. tando do fogo feito uma pequena amolgadela numa cha-
Presumia-se serem o vapor «Sacramento» e a corveta miné. sendo também atingida de raspão uma trincheira.
«S. Luís», que algumas vezes haviam entrado em Lisboa. Logo após o sucedido, o comandante'da unidade fede-
Nas ruas da cidade viam-se oficiais da Marinha confe- rai protestou contra os tiros disparados. visto ter arriado
derada, impecavelmente uniformizados de cor cinzenta e oportunamente a bandeira.
com um porte exemplar. Por sua vez, o ~ncarregado dos negócios dos Estados
No porto encontravam-se amarnldas as nossas corve- Unidos pediu satisfação ao Governo português sobre a
tas «Sagres» e «Mindelo»(~) com as guarnições em postos ocorrência. alegando que os navios não se dispunham a
de combate. estando prontas a largar das amarrações, na sair e que , após terem recebido o aviso da Torre. com o
expectativa da necessidade da sua eventual intervenção. primeiro tiro , que, segundo entendia. deveria ser de pól-
Na «Sagres» tinham embarcado, para reforço, vinte e vora seca. tudo indicava pretenderem regressar ao primi-
cinco praças da «Duque de Palmela». tivo ancoradouro.
Pelas 19.00 horas entraram finalmente no Tejo os dois Perante a situação, o Governo de Sua Majestade(')
navios esperados, verificando-se tratar-se da fragata resolveu admoestar o governador da Torre, porque reco-
«Niagara», de sistema misto, e do vapor «Sacramento». nheceu que ele errara. Deliberou também que. à saída
Depois de identificados, o capitão-tenente Francisco Tei- destes dois navios, deveria ser dada uma salva de vinte e
xeira da Silva, comandante da «Sagres», comunicou por um tiros de parte a parte. içando a Torre a bandeira ame-
mensagem a sua chegada ao visconde de Soares Franco, ricana e os navios a bandeira portuguesa.
major-general da Armada. Em decreto. transcrito na «Ordem do Exército». lê-se
Pouco tempo depois, uma canoa conduziu a bordo da oseguinte:
«Sagres» aquele oficial general, acompanhado pelos aju- Torre de S. Vicente de Belém. Exonerado do governo,
dante e conselheiro capitão-de-mar-e-guerra Francisco o coronel reformado Marluel Joaquim da Silva. - Sua ma-
António Gonçalves Cardoso. jeslade el-Rei manda declarar que o coronel reformado
Entretanto. o comandante da «Sagres» já tinha ido a I Manuel Joaquim da Silva foi exonerado do governo da
bordo do «Slonewall» intimando o comandante a sair no Torre de S. Vicellle de Belém, .e repreendido, por haver
prazo de 24 horas. Mas com a chegada dosfedemis, houve mandado fazer fogo sobre lima fragata dos Estados Uni-
necessidade de demorar e adiar a saída , para a manhã do dos da América, depois de e.S/aler arriado a sua bandeira
dia seguinte. e virado de bordo, reconhecendo assim o sinal dado pela
Os federais, após terem fundeado foram igualmente mesma fortaleza que lhe fizera alguns riros com o fim de
intimados a não sair a barra. sem terem passado 24 ho- que mio cominuasse a navegar rlll direcçào da bllrra do
ras, depois de ter seguido viagem o navio confederado. Tejo.
Este. porém , ao sair, passou arrogante nas águas dos A fraga ta «Niagara» veio a sair em 13 de Abril, em
seus inimigos, levando içada a bandeira separatista. conformidade com o cerimonial superiormente estabele-
Esta atitude provocante não a suportaram os norte- cido, ficando ainda nas nossas águas o vapor «Sacramen-
-americanos. que se apressaram a seguir-lhe a rota. A To- to» , que só retirou no dia 26seguinte.
re de Belém. por não ter sido acalada a ordem dada, não Sanado o acidente no Tejo. dizia-se que o «Stonewa1J»
tardou em disparar três tiros sobre a fragata. estaria no mar. a aguardar com impaciência o combate
Esta arriou imediatamente a bandeira, em atitude de com os dois navios inimigos.
respeito pela nossa soberania. Espalhou-se ainda o bO<ltO que ele veio a ser batido.
O goyernador da Torre de Belém. apesar de ali se ter não longe de Lisboa. nada o tendo confirmado. nem des-
dirigido um tenente da corveta «Sagres». aconselhando-o mentido.
a suspender o fogo. por considerar que a «Niagara» não Verifica-se que tanto as autoridades portuguesas
pretendia sair. mas foi simplesmente mudar de amarra- como os comandantes dos navios americanos actuaram de
acordo com os usos e costumes internacionais da época.
(') Em com/mdlllll! pelo Cllpil/io-I/'1l{'IIII' Cllrl/IIIII Ale.w/JIdT/' dA/má-
hoje expressos no Direito Marítimo Internacional.
dI! Alhlll/llrrl/llr.
Jo.\"é Ago51inho de SOIl.HI Mi'lIdes.
I·Ufl·-I1I. -.l(.
(') D. Lld.~ I .
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