Page 90 - Revista da Armada
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Os faróis em Portugal
Dai-nos Senhor 81112 para nos jluminar
o caminho (Padre Antõnio Vieira)
Há meses, numa troca de impressões com o almi-
rante médico naval Gualter Marques, espírito jovem
ligado a uma profissão velha de séculos - a notabilís-
sima classe dos médicos e cirurgiões da Armada-,
falou-se no farol da Guia onde, na capelinha que lhe
fica anexa, realizou, recentemente, uma cerimónia
familiar.
O assunto - faróis -levou-me a dizer que devia
ter, na babel de papéis velhos.que me cerca, algo que
a eles se referisse. E tinha1 Num atado de antigos de-
cretos, alvarâs, cartas e provisões régias, topei com
o que dou à estampa, por ser o primeiro em letra de
Farol do cabo de Uo Vicen te.
forma que se imprimiu (na contracapa reproduzimos.
em fac-símile, a primeira página deste documento).
Apensa, a nota de haver pertencido ao almirante Leo-
te do Rego, que publicou um notável roteiro sobre fa-
rolagem do antigo ultramar. A nota acrescida ainda
havê-lo eu adquirido, com outra papelada, na antiga
Livraria Eclética, na Calçada do Combro, em 1945. O
alvará, velhinho de 226 anos, data de 1 de Fevereiro
de 1758, foi sugerida por Pombal, e mandava estabe-
lecer faróis na Guia, por já não existir o primitivo que
fora mandado construir em 1537 pela irmandande de
Nossa Senhora da Guia, para ter 4 a 5 luzes que alcan-
çassem 10 léguas e se acendessem durante as nojte~
de oito meses, gastando uma pipa de azeite.
Tanto a capela como o farol foram reedificados em
1810 pela Junta do Comércio, a cargo da qual estava
então a Direcção de Faróis do reino. Em 1906, o farol
da Guia possuia 16 luzes fixas, como nos diz o rrDicio-
nArio Histórico de Portugal», volume V, página 703.
Munido do velho alvará pombalino, procurei ou-
tras achegas para saber desde quando os faróis se
instalaram na costa portuguesa. O mais antigo, se-
gundo o referido dicionário, data de 1515, parecendo
haver sido o bispo do Algarve, D. Fernando Coutinho,
que o mandou edificar numa torre do Convento de
São Vicente, no cabo do mesmo nome, compadecido
da muita necessjdade que dele tjnham os navegantes
e poderem com aquela luz, ter aviso em tempo de
tempestade e se fazerem ao largo desvjando-se do
perigo. A grafia é deliciosa, género tábua votiva, tra-
dicional num povo de marinheiros. Começou a bonda-
de do bispo a dar início aos trabalhos, em 1515, cons-
truindo a torre anexa ao convento, sendo este ocupa-
do pelos monges em 1516. A torre era uma espécie de
terraço, sobre quatro pedras de alvenaria. Mais tarde,
ali se iriam refugiar os monges quando os cismáticos
de Martinho Lutero se quiseram apoderar do Sacra-
mento e das Relíquias de São Vicente.
• Mas as vicissitudes do farol não ficaram por aqui .
Em 1587, o pirata inglês com carta de corso, Francis
Drake, elevado ao título nObiliárquico de Sir por Isa- Farol do cabo da Roca.
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