Page 88 - Revista da Armada
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Batalhas e combates





            da Marinha portuguesa




                                                                                                                      ,
                    este número iniciamos a publicação
                     duma série de relatos sucintos das
            N principais batalhas e combates tra-                                                                     •
            vados pela  nossa Marinha, desde a  funda-                                •  Gua..ri ..
            ção da nacionalidade até aos nossos dias.
            É seu autor o comandante Saturnino Mon-                                               ,
            teiro,  antigo professor de História Maríti-
                                                                                                  \
            ma da Escola Naval. Dado que se trata dum
            capítulo relativamente pouco conhecido da                                             :'
            nossa História e  que se prende com a  pró-
                                                                                 · 1<o 1 .. 1a
            pria essência  da nossa  Armada,  estamos
            certos  que  estes  relatos  não  deixarão  de
            merecer o interesse dos nossos leitores.

                                                                    ,.
            CABO ESPICHEL (Julho de 1180)
                                                                                             ...
                                                                                           ,  Gu~~a
               Depois da conquista de Lisboa por D. Afonso Hen-
            riques, em 24 de Outubro de 1147, começaram a apa-
                                                                                           /
            recer com frequência ao largo da barra do Tejo corsá-
            rios e mesmo armadas mouras, com o fito de apresar
            os navios de comércio que em número cada vez maior
            passaram a frequentar aquelas paragens.
               Em 1179, uma dessas armadas teria mesmo che-
            gado a penetrar no estuário do Tejo, apresando vários
            navios que ai se encontravam, ao mesmo tempo que
            desembarcava grupos armados que durante alguns
            dias assolaram as duas margens destruindo hortas e
            pomares e fazendo numerosos cativos.
               Embora faltem os documentos históricos compro-
            vativos, referem alguns cronistas que no ano de 1180,
            estando  el-rei  D.  Afonso  Henriques  em  Coimbra  e
            tendo notícia de que ao largo da barra do Tejo andava   os Portugueses travaram no mar e não será de estra-
            novamente  uma  armada  de  galés  mouras  inter-   nhar que a vitória nele alcançada lhes tenha aguçado
            ceptando as comunicações marítimas, encarregou D.   o apetite para novas façanhas do género.
            Fuas Roupinho, um dos mais afamados cavaleiros do
            seu tempo, de armar as galés que havia em Lisboa e
            sair a combatê-Ia.                                  CEUTA (17 de Outubro de 1182)
               Assim o fez D. Fuas que, navegando para sul em
            demanda do estuário do Sado, onde constava achar-      Depois da vitória do cabo Espichei (1180), a arma-
             -se fundeada a armada inimiga, a encontrou inespera-  da de D. Fuas Roupinho voltou a fazer-se ao mar, cor-
            damente  ao largo do  cabo Espichei a  15  ou  20  de   rendo as costas de Portugal e  do Algarve e  aventu-
            Julho.                                              rando-se  mesmo  a  entrar  na  bala  de  Ceuta,  onde
               Travou-se logo um furíoso combate em que foram   apresou grande numero de embarcações que trouxe
            mortos muitos mouros, entre os quais o seu almiran-  para Lisboa. E, embora não haja notícia disso, é muito
            te, acabando por serem tomadas todas as galés inimi-  provável que  durante  o  ano  seguinte  também não
            gas que foram trazidas em triunfo para Lisboa, facto   tenha deixado de inquietar os mouros.
            que, naturalmente, deu lugar a granêies festejos por   Naturalmente que estes, perante tal situação não
            parte da população da cidade.                       poderiam ficar de braços cruzados. Não admira, por-
               Terá sido este o primeiro combate importante que   tanto, que tivessem começado a organizar uma pode-

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