Page 90 - Revista da Armada
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Sondar:
uma operação indispensável
prum o é, sem duvida, o mais antigo instru+ Também o !!Roteiro de African, de Valentim Fer-
mento náutico. Apesar de ser um dispositivo nandes, manuscrito ainda do século XV, existente na
O extremamente simples, quantos navios não Biblioteca do Estado, em Munich, várias vezes se re-
se terão salvo, durante a longa história da navegação, fere a sondagens. Eis uma das passagens a este res- í
devido à pronta utilização deste instrumento? E, em peito:
contrapartida, quantos naufrágios não tiveram lugar Sabe que através do rio do Ouro se sondares nas
por não se ter apalpado o fundo e verificado que a 17 braças e nas 18 acharás um fundo muito miúdo
água debaixo da quilha ia perigosamente diminuin- como farelos com conchas e búzios (' . .J.
do? Além da sua antiguidade como instrumento náu-
A mais remota notícia respeitante à utilização do tico o curioso é o prumo ter mantido a mesma forma
prumo é devida a Heródoto, esse incansável viajante durante longos séculos, sendo constituído por um
e notável historiador que, cerca de 50Da.C., a ele se peso de chumbo com fonua de tronco de prisma e sus-
refere, quando se aproximava, por mar, da entrada do penso por uma linha graduada.
Nilo. Em documentação portuguesa recorremos a Os chamados prumos ordinári08 são destinados
Pêro Vaz de Caminha, que na carta que escreveu em a medir pequenas profundidades e o seu peso regula
Porto Seguro no dia 1 de Maio de 1500, afirma: entre 3 e 4 quilos. A linha com o comprimento de cer-
Mandou lançar o prumo em frente de Vera Cruz; ca de 200 braças é graduada em braças ou metros
acharam 25 braças; e ao Sol posto, obra de 6 léguas (usando nós) e meias braças ou meios metros (usando
de terra, surgimos âncoras em 19 braças, ancoragem tiras de coirol, normalmente a partir de um ponto
limpa. afastado da chumbada igual à distância que vai da
mão do prumador à superficie da água. A cerca de
duas braças da chumbada a linha dispõe de uma pega
de madeira, o trambelho, que o prumador segura
para lançar o prumo enconstando-se a um avental de
lona montado num patim, como existia nos antigos
navios.
O prumo é arremessado no sentido do avanço do
navio, o que se faz sem dificuldade até 6 nós. Porém,
os bons prumadores, fazendo rodar completamente o
prumo na vertical, conseguem prumar até velocida-
des de 12 nós. Após o prumo tocar no fundo, o pruma-
dor vai ajustando a linha e quando esta passa pela
vertical ele dirá dez braças (ou metros) na marca ou
8 braças (ou metros) escassas. Quando não encontrar
fundo o prumador dirá larguei 15 braças (ou metros)
e não encontro fundo.
Para conhecer a natureza do fundo, o que é indis-
penSável quando o navio vai fundear, existe uma con-
cavidade na parte inferior do prumo onde é colocado
sebo, que recolhe uma amostra do funda, sabendo-se
assim se é areia, concha moída, lodo, ou mesmo ro- )
cha. E, este procedimento já era seguido no século XV 1
como se verifica da leitura dos textos atrás referidos
de Valentim Fernandes e Vaz de Caminha.
Para sondagens de grandes profundidades usa-
ram-se prumos de maior peso, de 15 a 20 quilogra-
mas, suspensos de uma linha, chamada 8ondarez&
graduada de 5 em 5 braças ou metros. Dado o seu
grande peso a sondareza dava volta numa patesca.
Também foi utilizado o prumo registador de fabrico
Prumo Walkerparamedição Walker que dispunha de um hélice, que rodava com
da profundidade alé 150 braças,
cercade /875(MuseuMarílimo a descida e accionava um contador. Quando o prumo
Almiran/eRamalho Ortigâo, Faro). tocava no fundo o hélice era bloqueado.
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