Page 159 - Revista da Armada
P. 159
nado, resolveu arribar a Cosmim (actual
Rangoon) que era o porto que servia a
PEGÚ
cidade do Pegú, à qual está ligado por
RIO DE COSMIM
um rio.
De início, nâo houve problemas,
sendo os portugueses bem recebidos e 1516
autorizados a instalar uma feitoria tem~
porária em terra para mais facilmente
poderem transaccionar as mercadorias
que levavam por aquelas que preten~
diam. Porém, passados alguns dias, os
donos do junco que havia sido apresado , , v<~ sIÃo
e que, por acaso, eram mercadores de ~
Cosmim, foram queixar~se ao rei do
Pegú do que os nossos lhe haviam feito, ,
acusando-os de pirataria. E a sentença do I. Andaman ,
rei foi que todos os portugueses fossem I , .~
mortos! I. ,
Porém, como quase sempre aconte~ ,
cia no Oriente, as noticias corriam mais (i) Rouo prov~~el
depressa do que as acções e o nosso de Henrique
l.<m<
feitor, que estava em terra com mais três ,
,
portugueses e oito escravos javos, foi
avisado e pôde tomar algumas precau~ • , \
ÇÕC$. Não obstante, os donos do junco, \
\
com muitos «mouros .. seus amigos, aca~
baram por atacar e lançar fogo à feito~ I. "
"""""
ria. Defenderam~se os portugueses com ~
os seus escravos durante mais de três
horas, metidos no rio com água pela
cintura, até que o batel da nau os foi
recolher.
Ao outro dia, pela manhã, aparece~
ram cerca de quatrocentos paraus cheios
de soldados"que, juntamente com muitas
balsas de fogo, o rei do Pegú enviara
para tomar ou queimar a nau portuguesa.
Henrique Leme mandou incendiar o
junco que fora o «casus belli .. e, apesar
de não haver vento, preparou~se para
abandonar o porto levando consigo uma
champana (pequeno junco), que estava
sendo usada para trazer carga de terra,
e um calaluz de Malaca que, entretanto,
tinha aparecido. Mas em breve ficou
rodeado pela multidão dos paraus do
Pegú contra os quais começou a dispa- quantidade do que a que consegUIam novo, esgotar água! E nesta «dança_
rar furiosamente a artilharia da nau. esgotar. Embora dispusesse apenas de diabólica se mantiveram os portugueses
Respondiam os paraus com nuvens quarenta portugueses, todos empenhados durante um dia inieiro, ora acorrendo à
de flechas , ao mesmo tempo que tenta- em combate. Henrique Leme viu-se obri- anilharia, ora acorrendo aos entrefun-
vam aproximar-se dela para a aborda- gado a desguarnecer uma parte da arti- dos, comendo apenas uns pedaços de
rem. Porém, como eram muitos e ataca- lharia e a mandar uns tantos para os pão, enquanto disparavam as bombardas
vam sem disciplina, embaraçavam-se uns entrefundos a fim de ajudar a esgotar a ou trabalhavam com os gamotes.
nos outros e tomavam-se presa fácil para água com gamotes (pequenos baldes). Ao cair da noite, os paraus do Pegú.
os nossos bombardeiros. Muitos paraus Mas, sempre que o fogo dos nossos muito massacrados, afastaram-se, o que
foram afundado!. e outros obrigados a canhões enfraquecia. os ataques dos permitiu a Henrique Leme, apesar de ter
retroceder, destroçados e pejados de paraus inimigos tornavam-se mais peri- os seu homens extenuados, começar a
mortos e feridos. O pior foi que, devido gosos e era preciso mandar chamar parte sair no rio com a nau a reboque do batel,
ao couce provocado pelo disparo das da gente que estava a esgotar a água para da lanchara e do calaluz de Malaca, já
bombardas. a nau. que era velha, come- ajudar no serviço de artilharia: quando que continuava a não haver ponta de
çou a abrir pelas costuras e a afundar- a nau se começava a afundar, era indis- vento. Apercebendo-se do movimento
-se! Por mais que os escravos dessem à pensável retirar parte do pessoal que dos portugueses, um certo número de
bomba, a água que entrava era em maior manobrava as bombardas e mandá-lo. de paraus. apesar da escuridão, vieram de
13