Page 248 - Revista da Armada
P. 248

muito rústica e  resistente a doenças, devido   gal. Das primeiras, cuja importância se torna   cravo e o gengibre. Quando os portugueses
          a segregar um  leite que queima e afasta os   desnecessário realçar, citam-se a mandioca,   ocuparam  a  Guiana  francesa,  em  1809,
          insectos..  e  as  cabras.  As  sementes  eram   o mil~o, a batata.<Joce, o amendoim, os feio   levaram para o Jardim Botânico de Olinda,
          exportadas para Lisboa e o óleo que delas se   joeiros, os cajueiros e os cacaueiros.   Pernambuco,  várias plantas  que  ali  se  acli·
          extrai,  fortemente  purgativo,  era  usado  no                      mataram, como a fruta-pão, o giroflé (cravo
          fabrico de sabões e  na  iluminação das ruas.   BRASIL               da índia) e  a  noz  moscada.
          No Brasil, oode é mais conhecido por pinhão                             O  chàzeiro foi  uma  das  últimas  plantas
          manso,  procura-se agora utilizar o seu óleo   Os  portugueses  encontraram  no  Brasil   introduzidas no  Brasil.  O uso,  pelos chine-
          como substituto do diesel.         uma flora e uma fauna exóticas, ricas c abun-  ses, da infusão das suas folhas como bebida
             O  cafézeiro  foi  introduzido  na  ilha  de   dantes, e  povos nómadas ainda  na  Idade da   a  que  chamavam  chá,  perde-se  no  tempo.
          S.  Nicolau só no fim do séc. XVIII e o sisai,   Pedra.              Monges  budistas  levaram  para o  Japão,  no
          para  cordame,  aparece  depois  em todas  as   A  concessão  de  terras  de  sesmarias  a   século  XVII,  rituais  desta  bebida  que  no
          ilhas.                             quem as aproveitasse dentro de certo prazo,   século seguinte se tornou popular.Quando os
             Quanto a animais, as ilhas de Cabo Verde   sistema ainda hoje em uso,  contribuiu  para   nossos  marinheiros,  comerciantes e  missio-
          estavam desabitadas e nem macacos ali havia!   que surgissem lavouras, engenhos de açúcar,   nários chegaram àqueles dois países, devem
          Os  primeiros  povoadores  levaram  bois  e   fazendas de gado, assim como o aproveita-  ter  ficado  impressionados  com o  uso  desta
          cabras  para se reproduzirem  em liberdade.   mento  de  plantas  indígenas  e  de  outras   bebida  tradicional  que  tirava  a  sede  e  era
          Depois,  foram as  ovelhas,  porcos e jumen-  trazidas de  regiões distantes.  Com a ida de   estimulante,  sendo,  ao  contrário do  vinho,
          tos que se foram aclimataodo. O cavalo, por   escravos africanos criaram-se relações inten-  que embebeda, uma bebida própria de civi·
          exemplo, adaptou-se as condições locais e é   sas  com  a  Africa,  sobretudo  com  Angola.   lizações requintadas. Os ingleses e os holan·
          hoje um animal pequeno, resistente e sóbrio.   Estima-se  em  mais  de 4  milhões o  número   deses, ao apoderarem-se do comércio portu·
             As  ilhas  de  S.  Tomé e  Príncipe,  foram   de  escravos  que se encontraram  no  Brasil,   guês no Oriente,  introduziram e divulgaram
          encontradas  também  desabitadas;  Valentim   alguns  dos  quais  levaram algumas  plantas,   o  consumo  do  chá  na  Europa.  Na  corte
          Fernandes  refere,  logo  a  seguir ao  povoa·   tais como a palmeira dem.<Jem, de cujo fruto   inglesa foi a princesa portuguesa Catarina de
          menta,  a  introdução de  figueiras,  videiras,   se  extrai  o  óleo  e  a  manteiga  de  palma.   Bragança que, ao tornar-se rainha de Ingla-
          manneleiros  e  citrinos  e,  em  meados  do   A cana do açúcar, introduzida logo após   terra por ter casado com Carlos II,  introdu-
          séc.  XVI,  oliveiras,  pessegueiros  e  amen-  a  descoberta,  espalhou-se  rapidamente  no   ziu na corte o costume de se  beber chá.  A
          doeiras,  e que  muitas destas  plantas não  se   litoral  e  tornou-se  a  principal  actividade   grande divulgação do consumo do chá, deve-
          adaptaram.                        económica, servindo de  base ao estabeleci-  -se ao facto de, além de ser uma bebida agra-
             Por volta de  1552,  um  piloto anónimo   mento dos colonos.  Com a cultura da cana   dável não ser transmissor de doenças por ser
          de  Vila do Conde distinguia correctamente   Portugal  foi  pioneiro  na  criação  da  grande   feito com a água fervida. O comércio do chá,
          as  várias  drogas  ali existentes e dava conta   lavoura fora da Europa como parte integrante   entre o  Oriente e  a  Europa,  provocou  um
          da introdução da bananeira, bem como de ten-  da economia desta.     notável  progresso  na  navegação oceânica e
          tativas de cultivo da oliveira e outras árvores   O trigo entrou  por S.  Paulo e passou ao   na  construção  naval,  dando  origem  a  uma
          de fruto que não frutificavam e de hortaliças   NE,  sendo  o  Brasil  o  primeiro  país  a   verdadeira corrida para navios cada vez mais
          que  degeneravam  rápidamente.    exportá-lo.                        rápidos  para  realizarem  as  viagens entre  os
             A cana do açúcar acompanhou sempre os   Também  o  arroz  indiano,  no  final  do   dois  continentes.  Ficaram  famosos  alguns
          Descobrimentos  porque,  além  de  ser  uma   século XVII, começou a ser exponado de lá   clipers, do chá, que deram enonnes fortunas
          cultura lucrativa, os marinheiros portugueses   para o  nosso  país.   aos seus annadores - o .. Ariel_, o .. Titanea.,
          lhe atribuiam propriedades anti-escorbúticas.   Para consumo caseiro, foram introduzidas   o  «Sir  Lancelot_,  elc.,  e  acima  de  todos  o
          Introduzida  em  S.  Tomé  no  séc.  XVI,   no Brasil muitas plantas alimentícias - cou-  «Tennopilae. e o .. Cutty Sark. que, curiosa-
          adaptou·se bem, mas devido ao incremento   ves, alfaces, nabos, coentros, hortelã, melan-  mente, vieram acabar as suas carreiras de mar
          que  a  cultura  teve  no  Brasil,  a  produção   cias, melões, gcrgelim, e quiabo - umas de   em  Portugal.
          decaiu  muito.                    origem europeia e outras africana.    Quando a famflia real portuguesa esteve
             A canela começou a ser ali cultivada no   Apesar da  grande  riqueza  em fruteiras,   no  Brasil.  tentou-se  o  cultivo do  chá  para
          séc.  XVI,  desenvolveu-se  no  séc.  XVII  e   foram  introduzidas  no  Brasil  muitas  outras   abastecer  a  Europa.  Mandaram-se vir  300
          decaiu no seguinte. O cafézeiro foi  introdu-  idas de Portugal, África, Ásia, Oceânia, e de   chineses de Macau e plantas, mas a produção
          zido no final do séc. xvm e o cacaueiro no   outras regiões das Américas, que a variedade   não conpensava e desistiu-se do chá a favor
          princípio do passado. e dali passaram à costa   de climas do país pennitia aclimatar. De Por-  do café. No entanto, ochàzeiro foi levado do
          de África onde eram desconhecidos. Em mea-  tugal podem citar-se as videiras e os citrinos,   Brasil  para  os  Açores,  onde ainda  hoje se
          dos do séc. XIX foram introduzidas a bauni-  sendo hoje o Brasil o primeiro produtor muno   cultiva, e  para Ponte de Lima e para Sintra,
          lha e a  fruta-pão,  ambas  levadas do  Brasil.   dial de laranjas e primeiro exportador do seu   onde  ainda  existem  alguns  exemplares em
          No final desse mesmo século, o Governo por-  sumo;  o  marmeleiro,  que se julga ter sido   jardins de solares.
          tuguês mandou quineiras do Jardim Botânico   levado  por  Martin  A.  de  Sousa  em  1532,   PlaTltas  medicinais  do  Brasil
          de  Coimbra,  que  se adaptaram  muito  bem   sendo a mannelada muito utilizada pelos ban-  Foram  principalmente  os  jesuitas,  que
          acima dos 800 m.  Com a produção do quinino   deirantes por ser de fácil conservação; roman-  tinham um boticário em cada colégio, os que
          de síntese, esta cultura deixou de interessar.   zeiras, com  várias  aplicações  do  fruto e  da   utilizaram  e  divulgaram  muitas  plantas
             Feito assim o  percurso das  nossas  ilhas   raíz; as figueiras; as pereiras; os pesseguei-  medicinais  existentes  no  Brasil.  Algumas
          qo  Atlântico,  vejamos  o  que  se  passou  em   ros;  as  alfarrobeiras;  as  amoreiras,  para a
          Africa,  no  Brasil  e  na  índia.   produçâo de  seda,  etc.  De África foram  as
                                            tamareiras e os  taramindeiros.  Da América
          ÁFRICA                            Central  os  abacates  e  as  anonas  (ou  atas).
                                            Destas  últimas,  uma  variedade  introduzida
          A flora africana, a sul do Saará, era rica nas   pelo conde de Miranda, ainda hoje é chamada
          regiões  equatoriais,  embora  fosse  pouco   . fruta do conde_.  Da Asia foram  variedades
          variada.  Estudos feitos  recentemente no ex-  de bananeiras, melhores que as indígenas, as
          -Congo Belga, mostraram que, de 500 plantas   mangueiras, que se generalizaram a partir da
          ali existentes. 317 eram originárias da Ásia.   Baía,  os  jamboeiros,  que  nos  Açores  são
          167 das Américas e só  16 de África!  As de   conhecidos por ameixoeiras do Malabar,  as
          valor  económico são  apenas  o  cafezeiro,  o   jaqueiras. cujos frutos chegam a pesar 30 qui·
          rícino,  o  sorgo  e  a  palmeira  dem.<Jem.   los e que,  introduzidas  no  século xvm, se
             Os árabes  foram  os principais difusores   espalharam por todas as regiões húmidas,  e
          das plantas asiáticas no norte e na costa orien-  os coqueiros que modificaram a paisagem dos
          tai, e aos portugueses cabe o grande mérito   litorais  baiano e  nordestino.
          de terem introduzido nas duas costas plantas   A perda do comércio das especiarias do
          americanas e na costa atlântica plantas origi-  Oriente fez com que se aclimatassem no Bra-  A ipecacunnho ainda hoje é ustukl Com{) calmante
          nárias  da  Ásia,  além  de  algumas de  Portu-  sil a canela, a pimenta indiana e africana, o   tkl  fOsse.
          30
   243   244   245   246   247   248   249   250   251   252   253