Page 334 - Revista da Armada
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dar para as nossas embarcações saírem Pois mesmo assim, a armada portu- mais uma vez, prevaleceu a superiorida-
do rio. guesa avançou resolutamente ao encon- de da nossa artilharia. Por mais esfor-
Enquanto os portugueses estavam tro da inimiga travando com ela um vivo ços que as lancharas inimigas fizessem
distraídos com o ataque ao porto, o exér- duelo de artilharia. Por azar, numa das para aferrar o nosso bergantim, batel ou
cito de Bintão atacou pelo lado de terra. nossas lancharas, ao ser disparada a pri- lancharas, para tirar partido da sua
Dado que dispunha de muito pouca gen- meira salva, pegou-se fogo à pólvora. esmagadora superioridade numérica,
te, Afonso Lopes resolveu permanecer Rebentando esta, a lanchara abriu e foi nunca o conseguiram. As que chegavam
na fortaleza, limitando-se a enviar dois ao fundo, morrendo todos os portugueses mais perto logo eram obrigadas a reti-
pequenos grupos de dez homens cada um que nela estavam, arrastados pelo peso rar com os costados arrombados, os
para as tranqueiras, a fim de retardar o das armaduras. remos partidos e muita gente morta ou
avanço do inimigo. Porém, logo que Mas nem por isso os nossos desani- ferida , em resultado dos nossos pelou-
constatou que esses grupos, auxiliados maram. Continuando a combater animo- ros bem dirigidos. Por fim, afastaram-
pelos malaios da cidade, estavam repe- samente durante mais de três horas, -se e fizeram rumo aMuar.
lindo com sucesso todos os ataques das conseguiram avariar muitas das lancha- Em todos estes combates, tanto em
tropas do rei de Bintão, apressou-se a ir ras de Bintão. provocando-lhes um terra como no mar, morreram por junto
em seu auxílio, com toda a genie capaz elevado número de mortos e feridos e quinze portugueses e parece que alguns
de o acompanhar, levando à frente dois obrigando-as a afastar-se para o largo. dos doentes, com a ex.citação da batalha,
berçQs em carretas. Na fortaleza, fica- Puderam então os nossos navios ir apa- ficaram bons! Dos inimigos, foram mor-
ram apenas os mais doentes, mesmo gar o fogo que continuava a lavrar nas tos mais de quatrocentos e muitos feri-
assim com os capacetes na cabeça e as naus e na galé. dos, além dos que ficaram cativos.
lanças na mão, dispostos a bater-se até Durante dezassete dias consecutivos, Com o seu exército e a sua armada
à última extremidade. o exército do rei de Bintão continuou a destroçados, o rei de Bintão regressou de
Durou a peleja junto das tranqueiras atacar as nossas tranqueiras, dando-lhes novo a Pago continuando dali, como
várias horas até que o inimigo, muito assaltos de manhã e ao fim da tarde, sem anteriormente, a flagelar com os seus
escalavrado pelo liro da nossa artilharia, nunca conseguir vencer a obstinada navios a navegação e os pescadores de
resolveu afastar-se para se recompor. resistência dos portugueses e dos seus Malaca.
Estando a maré já a encher, Afonso fieis aux.iliares malaios. Saturino Monteiro,
Lopes aproveitou a pausa do combate em Por fim, cansado e desiludido, o rei cap.-m.-g.
terra para mandar Duarte de Melo sair de Bintão decidiu retirar. Mas, antes de
com a nossa armada ao encontro da ini- afazer, deu ordem à sua armada para
miga. Compunha-se aquela apenas de um destruir os navios portugueses. Avançou Bilbliogrojia;
bergantim, um batel e cinco lancharas novamente aquela para o porto e nova- «História do D~scobrimenlO ~ conquista da India
pelos Porrugu~sts» d~ F~m40 1..opes th Castmhe-
em que iam embarcados somente trinta mente foi ao seu encontro Duarte de
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portugueses, além dos remadores e fre- Melo com a sua pequena flotilha, tra- India- tk G.:u,oor ÚNnia; .Crónica do F~lidssimo
cheiros malaios nossos aliados! vando-se um violento combate em que, Rei D.Manuel .. de Damit10 de Gois.
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