Page 57 - Revista da Armada
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aguardavam. ansiosamente, outros elementos que a Se o leitor que, corajosamente, nos seguiu até aqui,
pudessem confinuar, o bem conhecido semanário julga esta história acabada, está redondamente
!(Manchete», na sua edição de 9 de Abril de 1983, enganado.
publicava um artigo que começava assim: Imaginem De facto, apesar de tudo parecer linear, há ques-
se a descoberta tivesse ocorrido depois da minha tões que podem ser colocadas e que ainda não tive-
morte! Essa histÓria inspira uma reflexão desconcer- ram resposta. Por exemplo, as ânforas encontradas no
tante: de quantas falsidades estará cheia a história da fundo do mar, são as mesmas que ali foram colocadas
humanidade? Este desabafo era do mergUlhador por Santarelli, há um quarto de século? O oleiro
veterano Américo Santarelli, de 58 anos, que em 1960 português ainda existe e garante que foi ele que as
descobriu no Mediterrâneo, a 55 metros de profundi- fabricou?
dade, dezenas de ânforas pertencentes a um navio Outras perguntas podem ser formuladas. E, todas
• afundado. Recuperou mais de vinte, em perfeito elas servem para mostrar que não é fácil provar a
estado, mas as leis italianas impediram que ele levasse verdade, mesmo quando ela parece evidente e indis-
um único exemplar para o Brasil. cutível. Por esta razão, alguns arqueólogos e) consi-
Em 1961, Santarelli, desejando decorar a sua casa, deram que é necessário reabrir o processo, e tratar este
encomenda a um oleiro português que vivia nas pro- caso das ânforas seguindo os preceitos da investiga-
ximidades, algumas ânforas, que foram fabricadas com ção científica, na qual terá um lugar de destaque a aná-
base em fotografias. Para lhes dar um aspecto verosí- lise morfológica do barro. Só então se poderá encerrar,
mil, Santarelli coloca-as no fundo da baía de definitivamente, o assunto.
Guanabara, pensando recolhê-las alguns anos depois.
A. Estácio dos Reis,
Entretanto, em 1978, um caçador submarino
cap.·m.-g.
encontra, ocasionalmente, este tesouro e leva uma das
(2) É esta a opini~o de Jean-Yves Blot, conceituado arqueólogo
ânforas para casa. Tempos depois, Robert Marx sabe
franc{Js, radicado há alguns anos em Portugal e que se distinguiu
da descoberta. Mergulha ele próprio e afirma que as
por UH"descobeno e explorado os restos da fragata ..MédusEl». Actual·
ânforas são antigas, o que, naturalmente, faz nascer mellle, está a proceder a um trabalho de recuperaç~o dos restos do
uma hipótese pré-cabralina. Começa aqui um misté- navio de 64 peças ~San Pedro de Alcantanu, afundado junto a
rio que, como vimos, foi desvendado. Peniche no ano de 1786.
Numismática
e Medalhística
•
10. o ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA DE MARINHA O anverso reproduz, além da legenda no 5. o Cen-
tenário da Viagem de Bartolomeu Dias (na orla), outras
Para assinalar o seu 10. o aniversário, a Academia como; 1969 - Grupo de Estudos de História Marftima,
de Marinha mandou cunhar uma medalha, a qual é mais 1970-1978 - Centro de Estudos de Marinha e 1988-
uma bonita criação do capitão-de-mar-e-guerra Sousa X. o Aniversário da Academia de Marinha.
Machado. Esta numisma está inserida na lemática No reverso todo o chão central é ocupado por uma
náutica e, de certo modo, na dos Descobrimentos, rosa-dos-ventos - o emblema heráldico da Academia -
porquanto os seus motivos estão ligados ao mar e evoca e com as legendas Por Mares Nunca De Outro Lenho
o 5. o centenário da passagem do cabo da Boa Arados - Academia de Marinha.
Esperança. Desta medalha, cunhada pela Gravo no módulo de
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