Page 113 - Revista da Armada
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m Nota de Abertura
Nós, os militares
Forças Armadas não devem intervir nos feridos em combate e 15 041 por acidente, além de
conflitos sociais nem ser imunes a criticas, 84 286 baixas por doença.
~as o seu prestígio deve ser defendido, até Resumindo diremos que o total de mortos foi
porque os jovens têm cada vez menos vontade de de 6 340 e o de feridos em combate, por acidente
seguir a carreira militar. e doentes foi de 112 205. (2)
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(general soviético Boris Cromov, Neste caso, os vivas e palmas eram dados à che-
am recentes declanlÇóss ã NOVOS17) gada às zonas de campanha, pelos que lá viviam,
ameaçados de vida e bens ...
As declarações acima reproduzidas levaram-me No regresso, tal como sucedera na 1.a G. Guer-
a pensar no tema: prestigio dos militares. Portugue-- ra, apenas os beijos e abraços de familiares e
ses, claro. amigosl
Quando Portugal era uma Monarquia. os mili- Mas, estas guerras tinham-se tomado impopu-
tares desfrutavam de enorme prestigio. Tanto, que lares e polémicas. por não se ver que podessem ser
os próprios reis vestiam com orgulho as suas far- ganhas militarmente por qualquer das partes. E os
das. A titulo de exemplo. e falando apenas na Ma- militares, interpretando o sentir da maioria. fize-
rinha, diIei que D. Luís I era oficial da Armada, de ram a Revolução do 25 de Abril. pondo fim às guer-
carreira. tendo comandado dois navios de guerra ras e ao regime.
antes de subir ao trono. Seu neto, D. Manuel II, E foi esta, até ver ... , a última vez que os milita-
frequentava a Academia Real de Marinha para lhe res tiveram vivas e palmas ...
seguir as pisadas mas, a morte prematura de seu Voltemos agora ao prestígio dos militares, que,
pai, D. Carlos I. por assassínio, obrigou-o a inter- como diz B. Cromov, deve ser defendido.
romper o curso para lhe suceder. Esquecidos os sacrillcios e o mais que pela
Proclamada a República. em 1910. os militares Nação e pelo povo fizeram os nossos militares,
mantiveram intacto o seu prestígio, até porque neste longo período da vida nacional, verifica·se
foram eles que, apoiando o povo, a fizeram triunfar. que, inexplicavelmente. passaram a ser os fIlal
Vivas e palmaS lhes foram dadas por isso ... amados do Pais e que o seu prestígio, também inex-
A Alemanha, em 1916, declarou guerra a Por- plicavelmente, foi... a piquei Limito-me a constatar
tugal, e os nossos militares lá marcharam: 57 000 essa evidência. sem a comentar.
para França e 32 000 para as colónias. Em todas Eles, que antigamente serviam para tudo - mi-
as frentes. tivemos um total de 7 989 mortos e nistros, deputados. autaIcas, etc. - não servem
14784 feridos. desaparecidos e incapazes do ser- hOje para nada!
viço. (1). Aliás, é uma característica muito nossa, povo
Os que regressaram, ilesos ou estropiados. do oito ou oitenta. Quando alguma coisa vai mal
desembarcaram em Lisboa sem vivas nem palmaS, e os militares são chamados a intervir ... palmaS ...
mas com a certeza do dever cumprida, recebendo vivas ... oitenta; quando tudo vai bem. ignora-se a
apenas, como recompensa dos grandes sacriffcios sua existência, os seus anseios e até as suas
feitos os abraços e beijos de familiares e amigos I necessidades, chegando-se a dizer que eles não
Em 1926. estragada que estava a República, os deviam existir ... oitol
militares, correspondendo aos anseios do povo, Ora a verdade é que nós, militares, nunca
fizeram a revolução do 28 de Maio. derrubando o pedimos, nem pediremos. vivas e palmas por aquilo
governo constituído e implantando uma ditadura que f82emos; pedimos sim, para sermos tratados
militar que viria a durar 50 anos. com amizade, com justiça e com o respeito que
Mais vivas e palmaS lhes foram dadas então ... merecemos. Só isso ...
Nas décadas de 60170, mais precisamente entre
1961 e 1974, estivemos envolvidos nas Guerras do
Ultramar, nas quais tivemos 3 265 mortos em com- .,u . .bP J~
bate, 3 075 mortos em acidentes de viação. com c/alm.
armas e outros. doenças e desaparecidos; 12 878
(2) . Idem na obm cÂhica, a Victórla Traieta., de generais Lw
(J) _ Ndmeros constantes da obra do general Ferreira Martins Cunha. Xatllza de Aniaga. Beultncourt Rodrigues fi Silvmo Sil-
tcPortugal na G. Guerra .• vério Marques.
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