Page 193 - Revista da Armada
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tão  rara  que  os  responsáveis  pela   projecto que tem por fim obter infor-
         protecção da natureza começaram a   mações  mais  pormenorizadas  do
         preocupar-se com a ameaça da sua   habitat e do modo de vida do priOlo
         sobrevivência.  No  século  passado   com vista ao estabelecimento de um
         abundava nos Açores, principalmen-  programa  de  prolecção  daquelas
         te na ilha de São Miguel, encontran-  aves.
         do-se hoje apenas em algumas ravi-
         nas  menos  acesslveis  do  Pico  da
         Vara. A Universidade Açoreana e a
         Royal  Sociely  for  lhe  Protection  of                 M.  Curado,
         Birds  iniciaram,  recentemente,  um                       I. ··ItJn. SG




                                                 Voz da Abita









         CARTAS AO DIRECTOR                 glês. Daí o seu sucesso, conquistan-  desviar  a atenção  do  assunto  por-
                                            do  gente  em  todas  as  camadas   que, por estranho que pareça, tenho
             Dos nossos leitores e amigos re-  sociais do país. Algumas figuras na-  tendência  para contabilizar  os  que
         cebemos  a  seguinte  correspon-   cionais ficaram a dever ao pá a sua   diz em  cada  uma das suas  breves
         dência:                            popularidade ...                  palestras. Já o tenho feito e garanto
             Do "Pezinhos  .. , cabo M, Lisboa,   Claro que o pá também não re-  que  são muitos!
         a  carta  que  transcrevemos  na   sistiu ao uso demasiado que fizeram   Dos da segunda espécie há um
         Integra:                           dele e, como tudo nesta vida, passou   muito em  voga  entre  os políticos e
                                            à  história, sendo agora empregado   outras pessoas importantes, ou  pe-
         TIQUES                             apenas por =Iguns saudosistas des-  lo  menos  que  se  julgam  como  tal,
             Da mesma maneira que há pes-   sas  liberdades lingufsticas.     que é nós pensamos.
         soas que sofrem de tiques nervosos    Realmente era prático tratarmo-    A qualquer pergunta que lhes fa-
         - piscar os olhos, falar com a boca   -nos todos por pá: o almirante ao ofi-  çam,  nomeadamente: que tem a di-
         ao lado, roer as unhas, elc. - outras   ciai  superior,  este  ao  subalterno,   zer  sobre  o  assunto?,  qual  a  sua
         há que os têm  na maneira de falar.   este ao sargento e este ao cabo e à   opinião a este respeito?, o que acha
         A estes classifico eu de tiques ... ora-  praça; o juiz ao escrivão, o general   que vai acontecer, etc.,  respondem
         tórios.                            ao  alferes,  o  director  ao  continuo   sempre começando pelo nós pensa-
             Há  uns  anos  atrás,  usava-se  e   etc  .. e ... vice-versa, claro. Mas, por-  mos.  Nunca dizem eu penso, eu jul-
         abusava-se  da  conjunção  pois.  À   que  somos  um  povo  civilizado  e  go, eu suponho ... nada disso, talvez
         medida que se la falando, intercala-  cheio de tradições, voltámos ao an-  porque o nós (não sei  quem são os
         vam-na no discurso, fosse ou  não a   tigamente, desde o Voc~ncia, por ai   outros) lhe encobrem a responsabi-
         propósito. Havia até quem iniciasse   abaixo até  ao tu.             lidade do que dizem a seguir.
         as suas falas com o dito pois, fazen-  Falemos agora de uma outra es-    Não vou maçar o leitor com  ou-
         do a seguir uma pausa como que a   pécie de tiques, que não conquista-  tros  tiques que todos  conhecemos
         tomar fOlego para dizer o resto. Era   ram o grande público por serem de   - portanto, por conseguinte, efecti-
         moda e dava um certo ar de intelec-  natureza pessoal ou usados só por   vamente,  realmente,  etc.  -  mas,
         tual ao  falantel                  certa classe de gente. Existem, tan-  não resisto à tentação de mencionar
             Com o rodar do tempo o pois foi   to  nas  camadas  mais cultas  como   só mais um, o mais original que ou-
         perdendo a força e quase desapare-  nas menos  letradas.             vi em toda a minha vida. Foi há dias,
         ceu. E digo quase porque há sempre    Podia citar vários casos, mas re-  numa entrevista televisiva com  um
         uns teimosos que ainda o usam ...   firo  apenas um de cada espécie.   jogador de futebol, por acaso do meu
             Mas,  imediatamente  apareceu     Da primeira, o digamos,  empre-  clube  de  sempre, o  .. Belenenses ...
         outro em seu lugar - o pá, este com   gado por um especialista em Econo-  Respondendo  a  uma  pergunta
         um significado que não consta nos   mia  que  muito  admiro  e  ouço  na  do entrevistador, o futebolista falou,
         dicionários,  nem  na  gramática.   rádio com toda a atenção pois, sen-  mais ou menos assim: nós, os joga-
         Empregavam-no os seus adeptos in-  do eu um ignorante na matéria, com-  dores, ao fim 6 ao cabo, entrávamos
         distintamente,  em  substituição  de   preendo  perfeitamente  tudo  o  que  em  campo com a ideia  fixa de não
         qualquer forma de tratamento - em   ele diz, o que constitui o maior elo-  sofrer, ao fim 6 ao cabo,  golos. Nes-
         vez de V.Ex.a,  de o senhor,  de vo-  gio que  lhe posso fazer.      tas condições, ao fim  6 ao cabo,  al-
         cê, de minha senhora e de tu. Além    Este tique  -  digamos  ou  diga-  gumas vezes ganhávamos, mas, ao
         de  simples,  era  democrático,  mais   mos  assim  -  metido  a  torto  e  a   fim  6 ao cabo,  geralmente empatá-
         ainda  que  o  democrático .. you ..  in-  direito, tem o inconveniente de me   vamos ou, ao fim  e ao cabo, acabá-

                                                                                                            11
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