Page 197 - Revista da Armada
P. 197
ses elos que, umas vezes, lhe fu·
giam vertiginosamente com um
roido de tempestade e, outras, en·
travam sub·repticiamente pejos
escovéns, a escOlTerem limos, loda-
centos e esverdeados, no ritmo que
lhes era marcado pelo bater dos pés
dos marujos em volta do cabres-
tante_
*
Como todos os cães de bordo o
IfCaminhall gostava de ir a terra. la
com o Fiel de géneros, com o cabo
do rancho ou com as licenças, ape-
nas para lhes aproveitar a compa-
nhia, pois ao chegar à embarcação
armava em carranca de proa, as
narinas dilatadas, os olhos chame-
jantes, a aspirar as baforadas de ar C'!. t-1,y-IIAW <l '
fresco que vinham da terra.
Ladrava então a tudo, às bóias "/D
de canal, aos dongos, onde um prs-
to nu içava o seu pano numa vara,
caricias e tagatés: os outros sd recordações e nas minhas saudades
a armar em vela, e aos bandos de
interessavam enquanto estivessem um lugar de destaque. Feito pare
alegres toninhas que passavam à no «Álvaro Caminha», distrair os que soúem e exemplo de
distAncia, ondeando em curvas ca-
Uma mudança de navio, além virtudes para os que duvidam, o
prichosas e elegantes sobre o espe-
doutros inconvenientes, trazia sem- teu zelo pelo Ifserviçoll que voluntá-
lho das águas.
pre a indiferença, senão o despre- riamente te impuseste, era exemplo
No cais, o ((Caminha» saltava
zo desse curioso cãozíto. que a todos aproveitava.
primeiro que ninguém, investia
Só ao portaló, se ali voltásse- - Vamos, rapazes, já Já está o
com os pretos que desconhecia,
mos, poderfamos reatar as relações. IfCaminhaPl ...
corria atrlÍS dos outros cães e, de-
Então lá nos aparecia, ao apito de E a amarra a correr, uma quar·
pois, com a lIngua pendurada,
«cabos», com a pequenina cauda a telada, outra quartelada, enquanto
ofegante, arrependido talvez desse
dar, pronto a saltar-nos às canelas o «CaminhaR espreitava colérico a
passeio inevitável, procurava qual-
ou a lamber-nos as mãos, nessa sino chegada das manilhas pintadas
quer pessoa do navio, acompanha-
cera manifestação de alegria que para lhes ladrar furiosamente.
va-o submisso e vigilante, e com ela
Deus só concedeu aos cães e aos
regressava a bordo. homens ... enquanto crianças} Falasse ele, e nunca haveria
Nunca se enganava.
enganos nessa contagem, às vezes
Bom «Caminha, lidímo repre- tão dílicill...
* sentante de todos os NCaminhasll
Tinha um dono, evidentemente: de todos os navios e todos os tem· (ln _No Mundo da AnCOIV, de Henrique
para esse iam as suas melhores pos, também tu ocupas nas minhas TraVaBS08' Valdez)
Canto de velas feito
As velas se soltaram, verbo ir A /onjura lerrena st encunou
Domando o mar altivo, tenebroso A gesta lusa enfim se consumou
O lusitano crer a traduzir No despertar da musa de CamiJes
Rotas dwn feito raro, grandioso
Assim paniu um po~'o a descobrir
Os segredos dum mundo nebuloso H.R. - J." pnmJo dos ""ogos Florais lAgos 89.
tel?nto li/terdrio (J()S Dtescobrim~nJ(}.J.
Le\'alldo intrepidez. fé no porvir
A finneza dum sonho vigoroso
A. Santos Coentro.
E vencido o medonho Adamastor cap.-/ter!. SE
Dobrados jd os cabos do furor
••••••••••••••••••
Do saber descerraram-se poniJes
15