Page 381 - Revista da Armada
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Conversa entre Marinheiros ...
Conduzida pelo CALM Malheiro
do Vale.
Intervenientes (na foto da es-
querda para a direita): CMG MN
Carneiro de Menezes, CFR José
V. Cabrita, dr. Carlos Pereira de
Lemos (Cl), CALM Malhelro do
Vale, CFR António Cardoso, CFR
Martins Soares e CMG Sousa
Machado (todos Interessados no
assunto).
dr. Carlos de Lemos nasceu em Melgaço em conchas e sedimentos marinhos, provavelmente dessa
1926. Foi topógrafo da Direcção-Geral dos data também, expressões IIngulsticas de nativos que
O Serviços Hidráulicos nas obras do Limpopo, lembram o português - não constituem prova bastante
Moçambique, e lop6grafo-chefe em Timor. Especializou- e o assunto requer investigações mais profundas.
-se em Hidrografia, estudou nas universidades de Na- E deixo aqui um apelo aos investigadores portugue-
tal e de Rhodes, na África do Sul e na de Melburne, ses para desenterrarem dos arquivos nacionais qualquer
Austrália, onde se licenciou em Ciências Politicas e So- documento que, duma vez por todas, dissipe as duvidas
ciais e onde foi assistente nessas matérias. Sempre que existem ainda.
alento a assuntos comunitários relacionados com o nos- Como se compreende que alguém possa afirmar
so pais, iniciou em Melburne um programa de rádio em categoricamente que o navio de mogno é apenas uma
língua portuguesa e fundou escolas de português para lenda, se existem muitas cartas de pessoas que viram
os filhos dos nossos emigrantes. Vive na Austrália des- os seus restos a descrevê-lo? Uma delas, da autoria de
de 1963 - 4 anos em Camberra e depois em Melbur- um marinheiro australiano, leva a pensar que era uma
ne, onde exerce as funções de cônsul honorário de caravela.
Portugal, desde 1968. RA - Lá na Austrália, tem-se feito alguma coisa para
Aproveitando uma das suas curtas estadias em esclarecer a situação?
Portugal, da qual tivemos conhecimento através do CFR CL - Claro que sim. Procedeu-se recentemente a
Martins Soares, que recentemente deixou as funções grandes escavações, no local onde dIzem ter sido visto
de director dos Serviços de Marinha de Macau, pedimos- o navio, infelizmente sem êxito. Mas não se desiste e
-lhe para termos esta conversa sobre o apaixonante vai-se continuar ...
tema do descobrimento da Austrália, Já versado nos Durante as comemorações do bicentenário da
n." 174 e 175 desta Revista. Austrália (1788-1988) o respectivo ministério da Educa·
Afinal, quem descobriu a Austrália: nós, portugue- ção publicou duas magnIficas edições sobre as origens
• ses, os espanhóis, os holandeses ou os ingleses? do paIs; uma destinada a Jovens, que é lida nos liceus,
Ouçamos o que diz o dr. Lemos sobre o assunto. outra destinada a professores, mais desenvolvida e com
indicação das fontes a que podem recorrer os inte-
RA - O doutor leu, certamente, o que publicámos ressados.
sobre a matéria. Por Isso, pedImos-lhe que acrescente Na primeira afirma·se, nomeadamente: .. Os primei·
o que entender ao que ficou dito. ros europeus que estiveram na Austrália foram os por·
CL - Não sou um historiador, mas tal como a maio- tugueses que nos princIpias do século XVI chegaram
ria dos australianos e a totalidade dos portugueses que à Indonésia para comerciar especiarias ...
ali trabalham (50/60 mil), aceito a tese de terem sido por- Ambas com o mesmo tftulo .. Southland - The
tugueses os primeiros europeus que ali desembarcaram, Maritime Exploration of Australia .. , mas a segunda com .
apesar de saber perfeitamente que há quem assim não o sub-titulo .. Teachers Guide .. (Guia para Professores).
pense. E, curiosamente, mais cá do que lá ... RA - Sabemos que foi erguido um padrão dos
Como se disse nas Revistas atrás citadas, e outros Descobrimentos perto de Warrnnanbul. ..
indlcios que a sustentam - mapas de Dleppe, navio de CL - É verdade. Esse padrão. que é uma réplica
mogno, uma pedra de um forte em ruinas onde se vê dos que os navios dos Descobrimentos levavam nos
a data de 1522, chaves de ferro encontradas entre porões, a servir de lastro, para serem erguidos no ponto
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