Page 379 - Revista da Armada
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HISTÓRIAS DE MARINHEIROS

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                   m  1939.  após  o  fim  da  guerra
                   civil  espanhola.  a  Marinha
             E portuguesa recebeu convite para
             visitar  Sevilha.  Um  grupo  de  navios
             subiu  assim  o  Guadalquivir  - o  rio
             grande dos árabes -. numa  navegação
             lenta e cautelosa, a que obrigava a sinuo-
             sidade do rio.
                Logo  que  chegaram.  os  convites
             começaram a chover a bordo. Eram jan-
             tares,  recepções, espectáculos, festas foI-
             dóricas.  Ninguém  era  esquecido.  As
             praças. os sargentos e os oficiais tinham
             os dias cheios. Nu~s(ros h~ntIDnos pri-
             mavam na exibição da sua distinta fidal-
             guia em bem  receber.
                Do  programa da  recepção constava
             uma  visita  à  catedral  -  O monumento
             religioso  caraclcrfstico do  burgo.  com
             uma  história  velha  de  alguns  séculos.
                Um padre jovem ciceronou um gru-
             po de oficiais alrav6s das múltiplas ma-
             ravilhas do templo. Integrava-se nele um
             moço 2. O-tenente. de forte compleição,
             feições  atraentes  e  trato  insinuante.
                Era,  deceno,  esse  conjunto  que
             seduzia  as  mulheres  e  fazia  dele  um
             D. Juan.
                Já  em  aspirante.  nas  viagens  de
             instrução,  quando  nos  panos,  pairava
             junto do  ponaJó.  à  hora  das  visitas  a
             bordo.  Via  desfilar.  interessado,  as
             moças que  entravam.  Quando  uma  lhe
             agradava. logo se aproximava.  E com a
             sua voz envolvente. aveludada, prontifi-
             cava-se  para  mostrar  o  navio  -  esse
             eterno argumento que o  marujo invoca
             abordo. para  os  primeiros  contactos.
                Sempre  colhia  um  sucesso  ceno.
   •         Novo encontro  ficava  combinado para
             terra ...
                Dele se poderia afinnar. com verda·
             de. como no velho dito marinheiro, que
             tinha umo em cada porro! Isto para não
             dizer que,  em  Lisboa.  - Base  Naval,
             naqueles tempos - linho umo em cada
             porta ...
                No prosseguimento da visita à cate-
             dral. o guia chamou a atenção para um
             altar onde se erguia a imagem do Meni·
             no Jesus - EI Nillo Mudo. como lhe cha-
             mou. E por que mudo? Porque era a seus   guardar  sempre,  para  si,  o  segredo   sua.  lá ia à catedral converter em orações
             pés que as sevilhanas ajoelhavam, cheias   confiado.                 frementes  a ansiedade que a queimava.
             de  fé. a  pedir a  graça de um  noivo,  na   Moça que desesperasse.  algum  dia.   O  noivo  apetecido  seria  decerto  de
             garantia  cena  que  o  Menino  saberia   em encontrar na vida a  alma gêmea da   feições  indefinidas.  na  aspiração apres-

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