Page 85 - Revista da Armada
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gumas dezenas de espingardeiros turcos. recompostos, lançou-se novamente ao António Correia o qual a mandou logo
António Çorreia, Fazendo alardo da sua assalto, levando na frente os espingar- para Ormuz, por uma fusta , com a nou-
geme, não achou mais do que cem fidal- deiros e os besteiros. À primeira descar- cia da vitória. Aí, foi metida Dum mau-
gos e cento e cinquenta soldados dispo- ga caíram mortos o rei Mocrim e os sol~ em cujas paredes foram escritos.
níveis para desembarcar. principais capitães que o acompanha- em português e em persa, os sucessos
Não obstante, e de acordo com a opi- vam. Seguiu-se a costumada carga à que tinham levado à mone do rei Mo-
nião da maioria dos seus capitães, resol- lança e à espada. DesmoraJizados e con- crim. Mais tarde, em memória do Feito
veu levar IJClr diante o assalto. fundidos, os defensores de Barém puse- de Barém, o rei D. João m autorizou
No dia 27 de Julho, ainda antes do ram-se em fuga. Foi então que as tropas António COITeia a usar no seu escudo de
nascer do sol, os bat~is portugueses, For- de Ormuz, capitaneadas por Rais Xara- armas a cabeça dum rei mouro.
mados em linha, dirigiram-se para a fo, desembarcaram! Se os portugueses Mono Mocrim e desbaratado o seu
praia tocando as trombetas e, como ha- tivessem sido vencidos ~ muito jX>SSível ex~rcito, um sobrinho que lhe sucedeu
bitualmente, com as suas guarnições Fa- que aquele se tivesse passado para O lado no trono apressou-se a Fazer as pazes
zendo grande alarido, para se animarem do rei Mocrim. Fazendo de conta que com António Correia, reiterando a sua
e para desmoralizar os inimigos. Mas o não percebera a má vontade de Rais vassalagem ao rei de Ormuz e entre-
lugar era muito espraiado e, ainda bas- Xarafo, Amónio Correia pediu-lhe para gando-lhe não só a cidade e a ilha de
tante longe de terra, os batéis encalha- mandar os seus homens perseguir o ini- Barém, afamada em todo o Oriente pelas
ram. Saíram Fora os seus ocupantes e, migo em fuga, já que os nossos estavam suas pescarias de pérolas, mas também
com água pelo joelho, continuaram a muito cansados. Mas nem isso os ormu- a fortaleza de Catifa. situada no conti-
avançar. rinos foram capazes de Fazer JX)Tque logo nente fronteiro e JX)nto de partida das
Apesar de terem chegado a terra se desordenaram, ansiosos por participar caravanas que do Golfo Pérsico se diri-
muito Fatigados e de estarem a ser Forte- no saque da cidade que os portugueses giam a Meca. De notar que, aos olhos
mente flagelados pela artilharia, pelos já tinham começado. dos muçulmanos de Meca, a ameaça JX)r-
frecheiros e pelos espingardeiros inimi- Depois de ler armado cavaleiros al- Nguesa aparecia-lhes agora tanto de
gos, os portugueses arremeteram deno- guns fidalgos, junto ao palácio do rei, Oeste, através do Mar Vermelho. como
dadamente contra a tranqueira e António COITeia, tal como flZCra em Pa- de Leste, através do Golfo P~rsico.
rodeando-a por um dos nancos, conse- go, mandou lançar fogo à annada de Sa- Depois de ter deixado fortes guarni-
guiram despejá-Ia complelamente, após rém cujas cemo e quarenta e sete terradas ções de soldados ormuzinos em Barem
o que entraram na cidade. Mas, aí, se achavam varadas em terra. Raro terá e Catifa, António Correia, a 12 de Agos-
apareceu-lhes pela Frente o rei Mocrim, sido o capitão que se possa ter gabado to, regressou a Onnuz onde, juntamen-
acompanhado de numerosos cavaleiros de, no curto período de um ano e de:t te com os outros capitães foi muito
e peões que os obrigou a retirar nova- dias, ter visto arder duas armadas inimi- felicitado pelo governador e recebeu ri-
mente para a praia. Passaram então os gas, qualquer delas composta por mais cos presentes do rei daquela cidade que,
nossos por grandes dificuldades, sobre- de cem navios! apesar de envolvido na conjuração para
tudo porque os árabes, além de serem Na cidade, foi ainda encontrada uma expulsar os Portugueses, continuava a
combatentes hábeis e destemidos, utili- galeota, acabada de construir pelos Ru- nutrir uma cena amizade por eles e a
zavam lanças mais compridas. Prolon- mes à maneira europeia, que os Portu- admirar-lhes o valor militar.
gou-se a peleja por perto de duas horas gueses, no dia seguinte. conseguiram pôr
sem que a vitória se declarasse por ne- na água, à custa de grande esForço, e
nhum dos lados até que, estando uns e que, deJX)is, levaram para Ormuz. PÔs- Satumino Monteiro.
outros no limite das forças. se apartaram -lhe António Correia o nome de "Mocri- cap.-m.-g.
para descansar. Poderá imaginar-se o 08» em lembrança da forma como havia
esforço físico que exigiria estar a com- sido tomada.
bater à lança e 11 espada durame duas Entretanto, os ormuzinos tinham Bibliografia; . Hislória di) IHsrobri~tlto ~ CotI-
horas, envergando uma pesada annadu- conseguido apanhar o corpo do rei Mo- quiSIa di) {tlilia p~/o$ Ponug~su .. de FemiJo Lo-
ra, sob o sol abrasador de Sarém! crim, quando os seus fiéis o levavam pa- pau Oulanh~: .lUrodas_ tkJolJode Barros;
..Asio Ponuguua .. d~ Faria ~ $oustJ; .úndJu da
António Correia, que fora ferido ra o continente para enterrar, e {tuJiD .. de Gaspar Co"~ia; «CróniCQ do F~Iid.Jsi
num braço, logo que viu os seus homens cortaram-lhe a cabeça que trouxeram a mo Rei D. MOJIM~/ .. d~ Dami40 di! Gois.
Livro das Armadas (37)
Texto actualizado do códice reproduzido na contracapa: .. Graça ... Francisco Figueira de Azevedo;
.. S. Filipe ... D. Francisco Coutinho;
No ano de 561 .. Frol de la Mar .. , Gonçalo Correia;
"Samo Amónio». Manuel Jaques;
Paniu D. Francisco Cominho. COlide do Redondo, por .. Algaravia». Rodrigo Alvares Bogado.
viso-rei da I"dia com cinco naus, e estes capitlJes; e nesta ar-
mada me tomei a embarcar a segunda vez para a India, '10
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nau .. S. Filipe,.:
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