Page 47 - Revista da Armada
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Chamar as coisas pelos seus nomes
P ertencemos ao número das pessoas que gostam
de chamar as coisas pelos seus nomes.
Em princípios de 1989 escrevemos um
pequeno artigo intitulado KDa Terminologia Naval»
que foi publicado no n O. 213 da Revista da Armada,
no qual nos insurgimos contra o facto de no ({Correio
da Manhã» de 20 de Dezembro de 1988 ter aparecido
um artigo no qual a autora, por várias vezes, apoda-
va, erroneamente, de embarcação, o belo navio que
foi a fragata i(D. Fernando II e Glória»,
Escrevemos então que não gostaríamos de morrer
sem antes termos tido o prazer de var aquela fragata
restituída à sua traça primitiva, aberta a visitantes,
funcionando c9mo museu.
Porém, na ocasião, poucas esperanças tínhamos
que tal hipótese viesse a ser concretizada, pois a ex-
periência da vida ensinara-nos a sermos cépticos quan·
to a estes assuntos, porque ainda estamos recordados U/ysses, fragata de 44 bocas de fogo constroJda em Lisboa, no ano
de 1792.
do projecto abortado da nau uSo Vicente)), que chegá-
mos a visitar, atracada na Rocha do Conde de Óbidos.
encontra hoje nos Estados Unidos onde, com o nome
Estamos também lembrados das tentativas, igualmen-
de 41GazeUa of Philadelphiall, ainda navega e ganha di·
te goradas, do Grémio Literário, para evitar que ove· nheiro passeando turistas. Desse, felizmente, existe
lho navio-escola uSagresll, à data já rebaptizado de
um bonito modelo no Museu de Marinha..
,,-Santo Andréll e reclassificado de navio-depósito, fos-
Mais recentemente, houve ainda a tentativa da
se vendido para o estrangeiro. construção de uma réplica. em tamanho natural, da
É de lamentar não ter havido neste país querer
caravela !!S. CrisróvãoH, pelo Grupo de Amigos do Mu-
nem força de vontade suficientes para o conservarmos
seu de Marinha que também se gorou.
entre nÓs, reconstruido e preservado com o nome de Quanto à fragata uD. Fernando)), já em 1973 se fa-
I(SagreS", como monumento vivo aos muitos marinhei-
lara muito na hipótese da sua reflutuação e reconstru-
ros portugueses que a seu bordo tanto aprenderam
ção para depois cair tudo, novamente, no
durante cerca de 36 anos em que serviu como navio· esquecimento.
·escola da Armada nacional, desde que em 1926, por
Em face de tudo isto, não pudemos deixar de ficar
ordem do ministro da Marinha Fernando Pereira da
de pé atrás quando lemos o citado artigo do nCorreio
Silva, a barca mercante «Flores)) foi transfonnada no
da Manhã)) sobre a reconstituição da fragata , pois
navio·escola l<Sagresn. É do conhecimento geral que
achámos que seria bom demais para poder ser
se encontra, hoje, surto no porto de Hamburgo, devol-
verdade.
vido à sua traça original como cargueiro (armando em
Calcule·se. portanto, o nosso entusiasmo ao lermos
barca) e ostentando o seu nome de origem KRickmer
em liA Capital» de 2 de Outubro de 1990, um artigo.
RickmerslI, aberto ao público, funcionando como mu-
seu. Ê também lamentável que a sua figura de proa,
representando o Infante D. Henrique, que foi retirada
pelas alemães, pois pouco lhes diria, não tenha, ela
ao menos, ficado em Portugal onde poderia estar ac·
tualmente enriquecendo a colecção do nosso Museu
de Marinha, onde, ainda hoje, não se encontra expos·
to um modelo daquele navio. (1)
Não estaríamos ainda a tempo de conseguirmos
da Alemanha a devolução daquela carranca?
Outro caso deplorável foi ter·se pennitido que fos·
se vendido para fora do país o airoso lugre-patacho da
pesca de bacalhau. à linha. "Gazela Primeiro», que se
(1) Foi·nos dito que durame o incêndio que deflagrou em 1969 no
edificio do Ministério da Marinha. ardau um modelo da ~Sagres. que
se encontrava quase conclufdo. Prasentementa encontra·sa outro
em constroç'o nas oficinas do Museu de Marinha mas, a avaliar pejo
estado em que o vimO:!f hlt alguns meses, ainda vai demorar bas· Rainha de PonugaJ. veleiroadquiridoam Inglaterra, no ano de J831 •
la1Ite tempo atê estsr terminado. e transformado, em França, em fragata de 62 bocas de fogo.
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