Page 149 - Revista da Armada
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m Nota de Abertura
Colégio Militar
Uma Escola de virtude
Entretanto, passados poucos anos sobre a sua fun·
O
« Colégi.o Militar educa os seus alunos no amor dação, já o Colégio começava a dar que falar, quando,
e respeito às Instituições Militares e é por
por altura das invasões francesas, os primeiros alunos
isso que, quando o Bata.lhão desfila avenida
abaixo, é aplaudido freneticamente pelo povo que vê ali educados se distinguem, pelos seus conhecimentos
nestes pequenos soldados o mais puro espírito militar militares e pelo seu comportamento e bravura, nas cam-
da Nação. Os alunos do Colégio Militar aprendem o que panhas contra as tropas agTessoras de Napoleão Elo-
é o peso do dever, o que é a força do heroísmo. Por isso napane.
nenhum regimento marcha com tanta unidade, tanta cer· Falecido a 6 de Outubro de 1825 o marechal Teixeira
teza, com uma tio intensa expressão de força de brio Rebelo, a sua obra estava já de tal modo enraizada e
marcial e de bravura guerreira. Graves, sérios como solidificada, que perduraria, incólume e cada vez mais
granadeiros da velha guarda, de cabeças altas, olhar em fértil. dinAmica e prestigiada, até aos nossos dias, não
frente, espingarda ao ombro, marcham triunfantes como sem algumas vicissitudes de percurso, incluindo esp0-
se fossem conquistando passo a passo o terreno em que rádicas ameaças por pane dalguns, felizmente poucos,
pousam os pés .• que parecem incomodar-se com o patriotismo, com a
Assim se exprimia, acerca do Colégio Militar e dos honra, com a dignidade, com a disciplina e com a cama·
seus alunos, o insigne escritor Ramalho Ortigão, ele radagem, que têm sido e continuam a ser apanágio dos
próprio filho dum antigo aluno do referido colégio, na meDinos da Luz, cujo lema é UM POR TODOS, TODOS
notabillssima obra «As Farpas., em. vemá.cula prosa que POR UM.
continua a manter Dagrante actualidade. Mas, a contrariar essas doentias e compJexadas men-
De facto, foi essa mesma agradável impressão que talidades e a atestar o valor do ensino e da educação
eu colhi, quando, em Março passado, a convite do seu ministrados no Colégio Militar, ai estão os nomes de
director, genElIal Calixto e Silva, me foi proporcionado tantos portugueses ilustres que se têm distinguido nos
o feliz ensejo de participar nas comemorações de mais mais variados sectores da vida nacional. Aqui e por
um aniversário de tão nobre e vetusta instituição, que razões compreensíveis, mencionarei apenas alguns dos
me merece o maior respeito. admiração e simpatia, pelo mais notáveis oficiais da Armada que por lá passaram,
que conheço da sua história quase bicentenária e dos já todos falecidos, como César de Campos Rodrigues,
seus notáveis pergaminhos e do que representa como António Baldaque da Silva, Hugo castelo Branco, Joio
escola lmpar, que, dentro de um enquadramento militaJ" Baptista Ferreira. Guilhenne Ivens Ferraz, Abel Fontoura
em que nAo se esquece que os alunos são jovens em da Costa, Ernesto de Almeida Carvalho, Luis Magalhães
formaçAo e não apenas pequenos soldados, se preocupa Coneia, Filipe Vieira da Rocha, Manuel Pereira Ctespo,
em facultar-lhes uma elevada e sólida preparação, cien- Vasco Martins Rodrigues, Jorge Ramos Pereira e José
tifica e intelectual. humana e física, moral e cívica... Camões Godinho, tendo tido eu a honra de S6lVir sob o
Como nasceu o Colégio Militar? Em resultado de um comando dos dois últimos em longas comissões de
saudável e louvável estado de esp!rito de inSatisfação e serviço, embarcado, na Índia e em cabo Verde, respec-
inquietaçlo do então comandante do Regimento de tivamente.
Artilharia da Corte, aquartelado no Forte de S. Julião da O Colégio Militar, esse, irá continuar, cã.da vez mais
Barra, em Oeiras, coronel António Teixeira Rebelo, que vivo e dignificado, com as suas portas abertas, não só
mais taJ"de viria a ascender ao posto de marechal. o qual, para os filhos dos oficiais, sargentos e praças dos três
preocupado com a ocupação e a educação dos jovens ramos das Forças Armadas, como para os filhos de ele-
filhos dos homens da sua guam.ição e dos civis da zona, mentos das Forças de Segurança e até de civis, mediante
resolveu criar, na Feitoria anexa, uma escola, cujos agen. concursos de admiss'o adequados, mantendo decerto a
tes de ensino seriam os próprios militares do seu regi· sua tradiçêo de alfobre de homens de verdade, leais e
mento e a que seria dado o nome de Colégio da Feitoria, bonr:ados, respeitadores e generosos, valentes e deste-
fundlÍdo em 3 de Março de 1803. Transferido em 1814 midos, disciplinados e abnegados, sabedores e compe-
para Lisboa, para o edifício do antigo Hospital de Nossa umtes.
Senhora do6 Prazeres, no Largo da Luz, mandado edi6car
pela Infanta D. Isabel, filha de D. Manuel I, agora com
a designação de Real Colégio MilitaJ", só viria todavia a
instalar-se definitivamente ai em 1873, após curtas pas-
sagens por outros locais, como os Conventos de Rilha·
foles e de Mafra. CALMMN
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