Page 240 - Revista da Armada
P. 240

tificar  e  a  baptizar com  nomes  nacio-                               pregoeiros, varinas, ou simples homens
       nais  as  terras  de além-mar, em  territó-                              e mulheres do povo alfacinha.
       rios de África, América ou Ásia, que de                                   Preocupo-me sobremaneira  vendo
       algum  modo  se assemelhavam  e  lhes                                    este nosso Tejo tantas vezes devassado,
       faziam  recordar as  do  pafs  longínquo,                                ultrajado e desrespeitado com  imundí-
       já  deixado  há  largo  tempo,  meses  ou                                cies  de diversa  ordem,  ofensivas de
       anos.                                                                    toda  a sublime e  boa vontade ecológi-
        Os  monumentos  que  se avistam                                         ca, sendo desvastadas  paisagens e cul-
       navegando ao longo do rio, da foz  para                                  turas e  destruídas  espécies  fluviais  da
       a nascente, são variados, evidenciando                                   fauna e da flora.
       sentimento  luso  e  perfodo dos  desco-                                  A es~olha dos  pontos  mais  adequa-
       brimentos  marítimos: os  fortes  de  São                                dos  para  alicerçar  a  construçao de
       Julião da  Barra  e do  Bugio,  a Torre  de                              novas  pontes  sobre  o  rio  veio  avivar
       Belém, o  Mosteiro  dos Jerónimos, o                                     em  todos  nós,  devidamente  alertados
       padrão  dos  Descobrimentos,  o                                          por esclarecidos ecologistas,  todo  o
       Monumento a  Cristo  Rei,  a  Central                                    fenómeno  e  polémica  ecológica  no  e
       Tejo, o Centro Cultural de Belém, etc ..   Cacilheiros ao pdrdo Sol: ex-Iibris do estu~rio   em torno do Tejo.
         Igualmente,  muitos,  incluindo  visi-  do Tejo.                         Impõe-se  por  isso,  com  um  certo
       tantes estrangeiros,  já  tiveram  a  grata                              carácter de urgência, a adopção da cri-
       oportunidade  de experimentar delicio-  dos  para o  Tejo,  como o  Grupo  N.ll  1   teriosa  utilização  de materiais  recicla-
       sos  passeios  por este  famoso  rio,  ao   de Escolas da  Armada,  a Base Naval,  o   dos,  de  matérias primas  biodegradá-
       longo  das suas  margens  ou  de  uma   Arsenal do Alfeite, a Doca da Marinha,   veis, de técnicas e  métodos de fabrico
       para  a outra, descobrindo a beleza da   o  Museu  da  Marinha,  a  Fábri ca   menos  poluentes,  tendentes  à  não
       paisagem e de todo este colorido casa-  Nacional  de Cordoaria, o  Edifício  da   agressão,  à  poupança  e  conveniente
       rio  lisboeta, escorregando  pelas sete   Marinha,  o  Hospital  da  Marinha,   aproveitamento dos  recursos  naturais,
       colinas,  descobrindo-se aqui  e  além   desenvolvendo-se  nelas  ou  a  partir   com a preservação da natureza,  interior
       outros  soberbos  monumentos,  cúpulas   delas  muitas das actividades  navais   e exteriormente ao ri o.
       de igrejas e conventos.             diárias.                              Torna-se  também  necessário  que
         No  dia  a dia,  o  movimento  do  rio  é                              exista  legislação adequada,  devida-
       intenso,  não  tanto  como se  poderia                                   mente cumprida ,  com  gestores ou
       desejar e  seria  útil  à  economia  nacio-                              coordenadores  do  ambiente  verdadei-
       nal.  conseguindo-se  ainda  identificar                                 ramente empenhados,  estejam  eles
       diversas  pequenas embarcações "ferry-                                   onde estiverem, a  nível  das  Câmaras,
       boats H  ,  cacilheiros,  vedetas,  navios  de                           Juntas de  Freguesia,  Capitanias, e  até
       grande  porte  mercantes ou  de  mari-                                   do  público anónimo.  Há  ainda  uma
       nhas de guerra,  nacionais ou estrangei-                                 necessidade  de trabalhos de  fundo
       ras, num vai-vém constante, rio abaixo,                                  que, para  lá  da  coordenação do  ponto
       rio acima, chegando até à tipicamente                                    de vista ecológico, possam desenvolver
       ribatejana, Vila Franca de Xira.                                         actividades  de  investigação e  desco-
        Se  puxarmos  pela  imagi nação,                                        berta  de  novos  processos  contra  a
       mesmo sem  grande esforço,  podemos                                      degradação do ambiente.
       refazer mentalmente o  inusitado movi-  Com  tanta  beleza  diante  dos  olhos,   Como  fim  último,  é  importante,
       mento  de  naus,  caravf'las e  demais   quer de dia, quer de noite, não nos sur-  acima  de tudo,  a  consciencialização
       embarcações de outrora, polvilhando o   preende  que  este  Tejo  e  as  suas   de todos, enquanto  utentes e consumi-
       rio  continuamente,  entrando  ou  sain-  Tágides tenham sido tão cantadas, lem-  dores  do  ambiente,  no  sentido de,
       do, numa  época áurea  da  nossa  histó-  bradas e  amadas,  em  simples  conver-  como participantes activos ou passivos,
       ria.                                sas,  poemas e canções,  na  imaginação   evitarmos,  a  todo o  custo,  a  alteração
        A Marinha mantém algumas das suas   e  nas  vozes de  marinheiros,  viajantes,   do  meio  ambiente.  Sobressalto-me
       importantes  unidades ou  serviços  vira-  turistas,  poetas,  fadistas,  pescadores,   sempre que me apercebo que este meu
                                                                                querido Tejo, à minha beira, é frequen-
                                                                                tes  vezes ferido,  receando mesmo que
                                                                                possa um dia ser alvo de alguma agres-
                                                                                são  mais  contundente ou  catastrófica,
                                                                                adoecendo  irremediavelmente,  sem
                                                                                qualquer possibilidade de recuperação,
                                                                                e  morrendo mais  ou  menos  lentamen-
                                                                                te,  porque aceitemos que sempre, que
                                                                                ele é  lesado,  também  nós  o  somos
                                                                                igualmente.
                                                                                  Permitam-me, pois,  neste meu  finali·
                                                                                zar,  fazê-lo  com  um  grito  ecológico,
                                                                                não necessariamente filiado ou partidá-
                                                                                rio,  mas,  sem  dúvida  alguma,  cons·
                                                                                ciencializado e  assumido: evitemos
                                                                                ofender ou  lesar  o  Tejo.  Saibamos
                                                                                salvá-lo e  fazê-lo  sobreviver como ele
                                                                                tanto merece e nos é tão necessário.  1


                                                                                                   Marques Robalo,
       A pollfe 25 de Abril nJo colidiu com o deslumbranle cenário Que 'o Tejo jj nossa beira" nos oferece.   CTENMN
       22  JUlHO 92 .  RINIsrASARMADA
   235   236   237   238   239   240   241   242   243   244   245