Page 296 - Revista da Armada
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PONI'O AO MEIO DIA




                         o mar~ O primeiro





           itinerário principal português







              OS  últimos anos,  tem·se assistido a  sejam  economicamente competitivos  e   Nessas circunstâncias, compete, a todos
              um  grande  esforço  na  melhoria e  que  as  linhas  de  navegação e o acesso   os que alguma  vez envergaram a farda  do
         Nmodernização das vias de comuni-  aos  portos  sejam, em  caso de  necessida-  botão de âncora,  rebater argumentos
         cação terrestre portuguesas. As comunica·   de, devidamente defendidos.   iníundados, esclarecer propósitos e defen-
         ções  internas e as  ligações com a Europa   Medidas visando esses objectivos cons-  der conceitos que, em  nossa  consciência,
         est~o mais  facilitadas com as novas auto-  tam do programa do Governo.   são do interesse nacional.
         -estradas e com  os  muitos  IP  (itinerários   Porêm, se à generalidade dos portugue-
         principais) que,  por  todo O  lado,  vão   ses  não se  levantam  dúvidas  quanto aos   A Marinha  Militar é, em  Portugal ,
         sendo rasgados.                    dois  primeiros objectivos,  jâ,  no  que res-  cceva  com  os  fundamentos  da  própria
           Nào  há  cidadão que em  Portugal  seja   peita  ao  desenvolvimento da  Marinha   nacionalidade e, ao longo de oito séculos
         insensível  a  esse surlO  de  progresso.   Militar, se ouvem  vozes  discordantes,  e meio, sempre demonstrou ser essencial
         Contudo,  também  haverá  alguns  portu-  que,  quais  Nvelhos  de  aspecto veneran-  à defesa  do  país,  que,  territorial mente, é
         gueses  que  ainda  não  estão  suficiente-  do",  invocam  os  mais  variados  argumen-  constituído  por  uma  faixa  litoral  e dois
         mente  conscientes de  que  o mar,  para   tos, que, por via de regra,  incidem sobre a   arquipélagos.
         efeitos de tráfego, sempre foi, e continua-  sua  desnecessidade ou  os  seus elevados   A alteração  nas  relações  leste-Oeste
         rá a ser, O primeiro IP de Portugal.   custos.                        não  acabou  com  a necessidade da  Ma-
           De  facto,  como conse·                                                        rinha Militar em Portugal.
         quência  inevitável  da  confio                                                   Para  além  das  missões
         guração  arquipelâgica do                                                        específicas, que  subsistem,
         pais, escasso em  recursos e                                                     num  quadro  de empenha-
         carente de  matérias primas,                                                     mento autónomo ou colec-
         é pelo mar que são  normal·                                                      tivo  ,  hoje, como sempre,
         mente asseguradas 92% das                                                        continua  também  a mani-
         importações  e  80"10  das                                                       festar-se  a  necessidade  do
         exportações.                                                                     seu  emprego  numa  pers-
           Se  necessidade houvesse                                                       pectiva  de defesa  de  inte-
         de  demonstrar  um  postula-                                                     resses  de  natureza  político-
         do, a nossa História compro-                                                     -económica.
         va a veracidade do seguinte                                                       Em  qualquer dos quadros
         princípio, que perfilho:                                                         de aplicação, avulta sempre
           A defesa  e a segurança                                                        a segurança  e, se  necessá-
         económica, se não mesmo a                                                        rio, a defesa do primeiro IP.
         riqueza  e o  poderio  das                                                        Quanto  ao  argumento
         nações  banhadas pelo mar,                                                       dos  custos,  recordo  as
         estiveram sempre  ligadas  e                                                     seguintes  palavras  de
         dependentes  do  desenvolvi-                                                     Oliveira  Martins, quando,
         mento  da  sua  Marinha                                                          em  finais  do século  XIX,
         Militar e da  sua  Marinha                                                       dissertava  a favor  de  um
         Mel'Glnte.                                                                       maior desenvolvimento da
           De fadO, foi  pelo mar que                                                     Marinha:
         Portugal  se afirmou  e man-                                                      Proteger é semear. Nem
         teve como  nação  indepen-                                                       sempre colhe o fruto aquele
         dente;  foi  pelo  mar  que                                                      que  espalhou  a  semente;
         ganhou  dimensão à  escala                                                       mas  uma  naçAo  nAo  é  um
         universal; foi  ainda pelo mar                                                   dia; é a sucessào  das gera-
         que  Portugal  conheceu  a                                                       ções  dos  seus  filhos.  O
         prosperidade.                                                                    sacrifício  de  hoje,  quando
           Para  que o primeiro rp de                                                     sacrifício exisfa, é o penhor
         Portugal satisfaça as necessi-                                                   da fortuna de amanhà.   .t
         dades  do  país  e contribua
         para o seu desenvolvimento,
         torna-se  imperioso que a
         Marinha  Mercante  seja                                                             F.M.P .Machado eh Silva
         desenvolvida, que os  portos                                                                      VAtM

      6   SETEMBRO/OUTUBRO 92  a  REVISTA DA ARMADA
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