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PONI'O AO MEIO DIA
o mar~ O primeiro
itinerário principal português
OS últimos anos, tem·se assistido a sejam economicamente competitivos e Nessas circunstâncias, compete, a todos
um grande esforço na melhoria e que as linhas de navegação e o acesso os que alguma vez envergaram a farda do
Nmodernização das vias de comuni- aos portos sejam, em caso de necessida- botão de âncora, rebater argumentos
cação terrestre portuguesas. As comunica· de, devidamente defendidos. iníundados, esclarecer propósitos e defen-
ções internas e as ligações com a Europa Medidas visando esses objectivos cons- der conceitos que, em nossa consciência,
est~o mais facilitadas com as novas auto- tam do programa do Governo. são do interesse nacional.
-estradas e com os muitos IP (itinerários Porêm, se à generalidade dos portugue-
principais) que, por todo O lado, vão ses não se levantam dúvidas quanto aos A Marinha Militar é, em Portugal ,
sendo rasgados. dois primeiros objectivos, jâ, no que res- cceva com os fundamentos da própria
Nào há cidadão que em Portugal seja peita ao desenvolvimento da Marinha nacionalidade e, ao longo de oito séculos
insensível a esse surlO de progresso. Militar, se ouvem vozes discordantes, e meio, sempre demonstrou ser essencial
Contudo, também haverá alguns portu- que, quais Nvelhos de aspecto veneran- à defesa do país, que, territorial mente, é
gueses que ainda não estão suficiente- do", invocam os mais variados argumen- constituído por uma faixa litoral e dois
mente conscientes de que o mar, para tos, que, por via de regra, incidem sobre a arquipélagos.
efeitos de tráfego, sempre foi, e continua- sua desnecessidade ou os seus elevados A alteração nas relações leste-Oeste
rá a ser, O primeiro IP de Portugal. custos. não acabou com a necessidade da Ma-
De facto, como conse· rinha Militar em Portugal.
quência inevitável da confio Para além das missões
guração arquipelâgica do específicas, que subsistem,
pais, escasso em recursos e num quadro de empenha-
carente de matérias primas, mento autónomo ou colec-
é pelo mar que são normal· tivo , hoje, como sempre,
mente asseguradas 92% das continua também a mani-
importações e 80"10 das festar-se a necessidade do
exportações. seu emprego numa pers-
Se necessidade houvesse pectiva de defesa de inte-
de demonstrar um postula- resses de natureza político-
do, a nossa História compro- -económica.
va a veracidade do seguinte Em qualquer dos quadros
princípio, que perfilho: de aplicação, avulta sempre
A defesa e a segurança a segurança e, se necessá-
económica, se não mesmo a rio, a defesa do primeiro IP.
riqueza e o poderio das Quanto ao argumento
nações banhadas pelo mar, dos custos, recordo as
estiveram sempre ligadas e seguintes palavras de
dependentes do desenvolvi- Oliveira Martins, quando,
mento da sua Marinha em finais do século XIX,
Militar e da sua Marinha dissertava a favor de um
Mel'Glnte. maior desenvolvimento da
De fadO, foi pelo mar que Marinha:
Portugal se afirmou e man- Proteger é semear. Nem
teve como nação indepen- sempre colhe o fruto aquele
dente; foi pelo mar que que espalhou a semente;
ganhou dimensão à escala mas uma naçAo nAo é um
universal; foi ainda pelo mar dia; é a sucessào das gera-
que Portugal conheceu a ções dos seus filhos. O
prosperidade. sacrifício de hoje, quando
Para que o primeiro rp de sacrifício exisfa, é o penhor
Portugal satisfaça as necessi- da fortuna de amanhà. .t
dades do país e contribua
para o seu desenvolvimento,
torna-se imperioso que a
Marinha Mercante seja F.M.P .Machado eh Silva
desenvolvida, que os portos VAtM
6 SETEMBRO/OUTUBRO 92 a REVISTA DA ARMADA