Page 339 - Revista da Armada
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qu,lnto ,'I pDss(vel retir,lda cle
objectos ou de partes constitu-
intes do barco, ficou decidido
lentar a recuperação da C,lrran-
CiJ do patrono da fragaM ... na
altufa j,1 com sinais de enegre-
cimento provocados pelo
fumo. Tod,wia, enCOnlrava-se
intacta. Ao mesmo tempo, a
vedeta ela Po/(cia Mar(tima
fazia evoluções .1 tex/a a velo-
cidade ao redor da fragata,
com O intuito de provocar
ondulação nas ;fguas c,l/mas, .1
qual, batendo no casco da
~D.FerniJndo " provocasse
algum arrefecimento, necess;f-
rio ,10 tr,lb,l/ho a executar. A
conjugação da mallobm e dos
jactos de .igU<1 do rebocador !las águas do Tejo, airosa nas A sua recuperação e recons- Durante alguns meses, o seu
permitiu que os mMinheiros suas linhas de rara harmonia e lfllção impunha-se, e está, casco foi preparado e coloca-
enc<1freg,1dos ele retirar a C.1f- esbelta na sua elegante mastre- finalmente, em curso. O finan- do em doca flutuante, por
ranca pudessem começar e ação. Na realidade, a fragata ciamento do respectivo projec- forma a ser transportado para
completar esse tr.,b,1lho. E "O. Fernando" era um expressi- to foi resulamentado através de Aveiro. No dia 1 de Outubro
arrancaram a figura esculpida vo ex-libris do Tejo, e, nela, a um protocolo assinado entre a de 1992, após dois dias de via-
em madeira, d., proa onde esti- imaginação popular via recor- Marinha e a Comissão Nacio- gem, a doca flutuante chegou
vera muitas dezenas de anos. dações tocadas de lenda, sen- nal para as Comemorações dos a Aveiro, onde a M D.Fernando~
A carranca da fraga ta tia a perenidade das naus da Descobrimentos Portugueses, foi entregue ao estaleiro naval
~D. Fernando II e Glória~ en- índia e compreendia a grande- sendo a sua gestão assegurada Ria Marifle, a quem foi adjudi-
contra-se hoje exposta no za da nossa herança histórico- pelo Arsenal do Alfeite. cado o trabalho de recupera-
Museu de Marinha e a sua -marítima. No dia 20 de laneiro de ção e reconstrução. que se
recuperaç~o, quando a fragata Quem sabe se, sentado no 1992, em terceira tentativa, a prevê demore 34 meses.
ainda ardia e se encontrava "seu~ Martinho da Arcada, fragata MD.Fernando· foi de- A primeira parte do sonho
envolta em grossa fumarada, escrevendo a fabulosa e emo- sencalhada do local onde per- de todos os marinheiros, e de
M
representou, simbolicamente, cionante MOde Marítima , não manecia há quase 30 anos, muitos portugueses, está rea-
um decisivo passo para conser- teria Fernando Pessoa buscado numa complexa operação <tue lizada. 1
var, no nosso imaginário colec- alguma inspiração na ~última teve o auxilio de 2 batelões e 5
M
tivo, um pauto da nau que a nau da india , ali à vista e a rebocadores, e foi transportada R. Costa
cidade se habituara a admirar desafiar memórias. para o Arsenal do Alfeite. GEN
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A ULTIMA NAU DA INDIA
A fragata "O. Fernando II e de Goa para a sua primeira
Glória" foi projectada em viagem, com destino a Lisboa.
Lisboa, na Sala do Risco da O almirante Joaquim Pedro
Ribeira das Naus, e lançada à Celestino Soares sintetizou
carreira na Ribeira de Damão, depois as suas qualidades, nos
no dia 13 de Junho de 1832. seguintes lermos: "O barco
Construída em boa teca de flutua admiravelmenle, e
Nagar-Aveli, sob a orientação nunca a onda o enxovalha
do árabe Yadó Simagi e do nem lhe galga acima da borda,
guarda-marinha construtor podendo afoitamente avançar·
naval Gil José da Conceição, a se que não há outro de vela
fragata só foi lançada ã água mais formoso, nem de melho-
no dia 22 de Outubro de 1843. res qualidades náuticas".
O Boletim do Estado da A sua guarnição. aprovada
Índia, publicado em Goa em 4 de Novembro de 1843, anunciava: por portaria de 4 de Agoslo de 1859, era de 400 homens, mas,
"Temos hoje a satisfaçào de anundar aos nossos leitores que a como transporte, este número reduziu-se para 176.
majestosa fragata "O.Fernando U e Glória", que por mais de 11 No seu historial não constam grandes feilos militares, tendo
anos permaneceu no estaleiro de Oamão, caíu finalmente ao mar, sido usada sobretudo como navio de transporte, em viagens ã
com O mais feliz êxito e, no dja 22 p.p., ao meio-dia, e brevemen- Índia, Moçambique e Angola. Em 1878 fez a sua última viagem e
te esperamos vê-Ia surgir no porto desta ddade". não maissaíu do Tejo.
O Arsenal de Goa tomou a seu cargo mastreá-la, aparelhá-la e Aquartelou depois a Escola de Artilharia Naval por diversas
provê-Ia de armamento, o que sucedeu, tendo o custo total do vezes, acolheu a Brigada de Artilheiros, foi navio-chefe das
navio atingido os 100 630 réis. Media 48.77 metros de compri- Forças Navais do Tejo e nela veio a ser instalada a Obra Social da
mento entre perpendiculares deslocava 1849 toneladas. Fragata D.Femando.
Foi projectada com 50 peçtS de artilharia, sendo 28 instaladas Fundeada no Tejo, nas proximidades do pontal de Cacilhas, a
na bateria e 22 no convés, mas na realidade a sua artilharia nunca fragata foi consumida por um incêndio que deflagrou na tarde
passou das 44 peças. Em 2 de Fevereiro de 1845, a fragata largou do dia 3de Abril de 1963.
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