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A Consciência







                         das Nações









              tentos ou  desatentos,  todos temos                                deve caber importante  papel  na  integra-
              a noção que a época de mudança                                     ção  social  da  juventude, no  avivar  da
          A convulsiva deste fim de sêc:ulo tem                                  consciência  para  o culto da  solidarieda·
         exigido  da  Organização das  Nações                                    de,  da coesão e da  identidade  nacional.
          Unidas  o seu  maior esforço desde sem-                                Embora  as  tecnologias de  hoje exijam
         pre, tantas vezes sem êxito. Esta  situaçào                             uma  maior  profissional ização das  Forças
         de insegurança, que também tem obriga-                                  Armadas,  poderá vir a ser um erro histó-
         do a um aumento do empenhamento das                                     rico  qualquer  alteração  da  lei
          Forças  Armadas,  aconselha  a refleClir.                               Fundamental  dos  países,  no  sentido des-
          De faclo,  a instabilidade que  nos  rodeia                            tes deixarem de acautelar aos cidadãos o
         e certamente nos atinge, não pode passar                                dever e o direito da  prestação de serviço
         ao lado das  nossas consciências e, muito                                útil  à  Nação.  O  verdadeiro  interesse
          menos, as  Nações não devem subestimar                                  nacional,  sobrepondo-se a  todos  os
         os  riscos  que as  envolvem e que pareci-                              outros,  recomenda  prudência,  pois  as
          am  definitivamente afastados após  as                                  Nações não  podem renunciar ou menos-
          transformações  políticas ocorridas  na                                 prezar  a sua  própria  defesa,  mesmo
          Europa e no Mundo.                                                      tendo em conta a cooperação internacio-
           A atitude de  indiferença,  que  hoje  se                              nal, nomeadamente a  capacidade e dis-
         vive, decorre, em  boa  parte,  da  propa-                               ponibilidade de  projecção de  poder dos
         ganda  pacifista djfundida  durante os                                   Estados  Unidos  da  América,  para  acor-
          anos de confronto leste-Oeste,  ensaiada                                rer, no  seu  assumido  destino  manifesto,
         e  dirigida  no  sentido de  fomentar  o                                 ao crescente  número  de conflitos  que
          desarmamento do Ocidente  e a destrui-                                  vão surgindo por lodo o mundo. Esta  é a
          ção do  patriotismo enlJe os seus  jovens,                              realidadade que os  homens de  Estado e
          acabando, assim,  por atingir a consciên-                               também os  jovens, como actuais e futu·
          cia das  Nações.  ferindo-a  no  seu  tecido   interesse nacional, desaparece a visão de   ros  responsáveis  pelos  destinos  das
          de valores.                        Estado  e  degrada-se a  NàÇão.  Como   Nações, não  podem  ignorar, ainda  mais
           Oeste  modo.  cultivando  a crise  moral   resultado da perda da consciência nacio-  quando  alguns  politicos  começam  a
          que se  propaga  em  muitos  países,  onde   nal, logo surgem os grupos de sociedade   revelar uma certa relutância  no emprego
          tudo o que  exige sacriflcios é posto em   anti-militar, onde os cidadãos se alheiam   das  Forças Armadas dos  seus  países  em
          causa, surge a situação cómoda da  recu-  das suas responsabilidades na defesa dos   áreas distantes, onde necessárias.
          sa  em  ver a pluralidade  dos  riscos  que   interesses  da  comunidade,  esquecendo   As  Nações  que se  orgulham  da  sua
          nos  ameaçam,  tais como  o fundamenta-  que  muitos,  antes  deles,  deram  as  suas   História, como felizmente acontece com
          lismo  islâmico.  os  nacionalismos  radi-  vidas  para  que fossem  preservados valo-  Portugal, têm  que nela  se rever, para, no
          cais, as  migrações  forçadas  pelo  desor-  res  que  hoje  são  tidos  como certos  e   respeito  pelo  passado  onde  tudo  assen-
          denado  crescimento demográfico,  o ter-  inquestionáveis.              ta,  reavivar  a consciência  nacional.  O
          rorismo, e os conflitos económicos. raci-  As  estruturas  de  defesa  não  aparecem   futuro  será  o  produto  da  vontade dos
          ais e étnicos.                     espontaneamente  nas  sociedades, muito   seus  cidadãos  e  isso  implica, no  nosso
           Igualmente, as  sociedades  parecem   menos  quando estas estão corroídas por   caso, que  a juventude  por1uguesa,  com
          insensíveis à alienação dos valores naci-  nefastas  influências  que  as  descaraderi-  toda  a sua  generosidade, esteja  esclare-
          onais. como a língua, as fronteiras. a cul-  zam  e corrompem, levando-as  à demis-  cida e  preparada  para  participar,  por
          tura, a história, a soberania e a idenlida-  são da sua própria identidade.   vontade  própria, na  defesa  dos  valores
          de nacional, deixando-se arrastar vertigi-  São  estas  as  contingências  em  que  as   nacionais.    .t
          nosamente  na  corrente do  internaciona-  Nações  incorrem se os seus governantes
          lismo. seguindo  na  esteira da  ilusão de   e demais cidadâos não souberem propor-
          uma vida fácil construída por outros.   cionar uma correcta preparação aos seus
           Debilitada  a resistência  nacional  atra-  jovens, muito  mais  orientada  para  o
          vés  do enfraquecimento do  patriotismo,   culto dos  valores do que para a militân-
          as  Nações  adoecem  de enfermidade   cia materialista que assola as sociedades.
          grave  que  as  afecta  profundamente  na   Também  à  Instituição  Militar, como
          sua  defesa  moral, e logo  se deteriora  a   escola de formação de  virtudes cívicas e   lA. Lopes  Carvalheira
          avaliação correcta do que é o verdadeiro   do  patriotismo, eminentemente ética.                    VAIM

        6   AGOSTO 93  •  REVISTA DA ARMADA
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