Page 260 - Revista da Armada
P. 260
A Consciência
das Nações
tentos ou desatentos, todos temos deve caber importante papel na integra-
a noção que a época de mudança ção social da juventude, no avivar da
A convulsiva deste fim de sêc:ulo tem consciência para o culto da solidarieda·
exigido da Organização das Nações de, da coesão e da identidade nacional.
Unidas o seu maior esforço desde sem- Embora as tecnologias de hoje exijam
pre, tantas vezes sem êxito. Esta situaçào uma maior profissional ização das Forças
de insegurança, que também tem obriga- Armadas, poderá vir a ser um erro histó-
do a um aumento do empenhamento das rico qualquer alteração da lei
Forças Armadas, aconselha a refleClir. Fundamental dos países, no sentido des-
De faclo, a instabilidade que nos rodeia tes deixarem de acautelar aos cidadãos o
e certamente nos atinge, não pode passar dever e o direito da prestação de serviço
ao lado das nossas consciências e, muito útil à Nação. O verdadeiro interesse
menos, as Nações não devem subestimar nacional, sobrepondo-se a todos os
os riscos que as envolvem e que pareci- outros, recomenda prudência, pois as
am definitivamente afastados após as Nações não podem renunciar ou menos-
transformações políticas ocorridas na prezar a sua própria defesa, mesmo
Europa e no Mundo. tendo em conta a cooperação internacio-
A atitude de indiferença, que hoje se nal, nomeadamente a capacidade e dis-
vive, decorre, em boa parte, da propa- ponibilidade de projecção de poder dos
ganda pacifista djfundida durante os Estados Unidos da América, para acor-
anos de confronto leste-Oeste, ensaiada rer, no seu assumido destino manifesto,
e dirigida no sentido de fomentar o ao crescente número de conflitos que
desarmamento do Ocidente e a destrui- vão surgindo por lodo o mundo. Esta é a
ção do patriotismo enlJe os seus jovens, realidadade que os homens de Estado e
acabando, assim, por atingir a consciên- também os jovens, como actuais e futu·
cia das Nações. ferindo-a no seu tecido interesse nacional, desaparece a visão de ros responsáveis pelos destinos das
de valores. Estado e degrada-se a NàÇão. Como Nações, não podem ignorar, ainda mais
Oeste modo. cultivando a crise moral resultado da perda da consciência nacio- quando alguns politicos começam a
que se propaga em muitos países, onde nal, logo surgem os grupos de sociedade revelar uma certa relutância no emprego
tudo o que exige sacriflcios é posto em anti-militar, onde os cidadãos se alheiam das Forças Armadas dos seus países em
causa, surge a situação cómoda da recu- das suas responsabilidades na defesa dos áreas distantes, onde necessárias.
sa em ver a pluralidade dos riscos que interesses da comunidade, esquecendo As Nações que se orgulham da sua
nos ameaçam, tais como o fundamenta- que muitos, antes deles, deram as suas História, como felizmente acontece com
lismo islâmico. os nacionalismos radi- vidas para que fossem preservados valo- Portugal, têm que nela se rever, para, no
cais, as migrações forçadas pelo desor- res que hoje são tidos como certos e respeito pelo passado onde tudo assen-
denado crescimento demográfico, o ter- inquestionáveis. ta, reavivar a consciência nacional. O
rorismo, e os conflitos económicos. raci- As estruturas de defesa não aparecem futuro será o produto da vontade dos
ais e étnicos. espontaneamente nas sociedades, muito seus cidadãos e isso implica, no nosso
Igualmente, as sociedades parecem menos quando estas estão corroídas por caso, que a juventude por1uguesa, com
insensíveis à alienação dos valores naci- nefastas influências que as descaraderi- toda a sua generosidade, esteja esclare-
onais. como a língua, as fronteiras. a cul- zam e corrompem, levando-as à demis- cida e preparada para participar, por
tura, a história, a soberania e a idenlida- são da sua própria identidade. vontade própria, na defesa dos valores
de nacional, deixando-se arrastar vertigi- São estas as contingências em que as nacionais. .t
nosamente na corrente do internaciona- Nações incorrem se os seus governantes
lismo. seguindo na esteira da ilusão de e demais cidadâos não souberem propor-
uma vida fácil construída por outros. cionar uma correcta preparação aos seus
Debilitada a resistência nacional atra- jovens, muito mais orientada para o
vés do enfraquecimento do patriotismo, culto dos valores do que para a militân-
as Nações adoecem de enfermidade cia materialista que assola as sociedades.
grave que as afecta profundamente na Também à Instituição Militar, como
sua defesa moral, e logo se deteriora a escola de formação de virtudes cívicas e lA. Lopes Carvalheira
avaliação correcta do que é o verdadeiro do patriotismo, eminentemente ética. VAIM
6 AGOSTO 93 • REVISTA DA ARMADA