Page 19 - Revista da Armada
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Uma memória sempre presente no imaginário da nossa Marinha


         A Reserva Naval foi  criada em 1957 e, durante  não apaga. Muitos outros, por cá, embarcaram
             mais de três dezenas de anos, constituíu um  nos navios, asseguraram o regular
             corpo de quadros qualificados, que serviu a  funcionamento dos serviços
                    Marinha com entusiasmo, dedicação  ou ensinaram nas nossas escolas.
                               e competência profissional.  Entre 1958 e 1974, a Marinha incorporou 1712
          A partir de 1961, muitos dos seus oficiais fize-     oficiais da Reserva Naval e, depois de 1975,
               ram parte do contingente de cerca de um          num cenário bem diverso, ainda foi servida por
         milhão e quatrocen!os mil homens que partici-          mais 1052 oficiais desse Quadro.
           pou na guerra de Africa (*), vencendo dificul-       A Marinha recorda-os, constantemente, como
          dades e suportando sacrifícios, que a memória  uma das suas mais saudosas memórias.

             criação  da  Reserva
             Naval  íoi  feila  através
        Ado       Decreto-lei   n  ll
        41.399  e  remonta  a  26  de
        Novembro de 1957.
          Nessa  época.  as  nações
        europeias  já  haviam  iniciado
        os  seus  processos  de descolo-
        nização e a ONU já começara
        a  questionar  Portugal  com
        insistência,  a respeito dos seus
        territórios  ultramarinos.  que
        designava  por  territórios  não-
        ·autónomos.  A conferência  de
        Bandung,  realizada  em  1955,
        também  já  afirmara  o  direito
        dos povos à luta ccntra o colo-
        nialismo e,  internamente,  já  se   Para arCil de 2764 uni,'t!1$;/JriOf ~ l1tquen/iJI"iUII os cursos da Resef\"iJ Naval, a E5coIa N,)v,)I/o; o seu pnmeiro e intenso CDfl-
        tinham  verit1cado  os  primeiros   lacrO com a Marinha. ne!,) p;1SSiJndo os princiP.Jis períodos de instroçJo, por vezes paftil~ com OUllaS escol.JS d.l M.Jrinha
        sinais de contestação à política   Naval,  iniciado  no  dia  11  de   Quando, em  1961,  ocorre-
        ultramarina portuguesa.     Agosto  de  1958,  foi  uma  das   ram  os  primeiros sinais de
          Era  conhecida,  também,  a   mais  significativas  respostas   aberta  hostilidade à  política   o "Anu.frio
        recente  formação  e as  primei.   que,  por  antecipação,  foi   ultramarina  portuguesa,  nome-  '" .""'"
        ras  actividades  do  PAIGC.  do   encontrada pela Marinha.   adamente o assalto ao paquete       Naval" contém
        MPLA  e da  FRElIMO,  para    Os oficiais  dos  primeiros   "Santa  Maria~. os  aconteci-         ~ ""'"
        além de uma crescente hostili-  cursos  destinaram-se aos  navi-  mentos  de  4  de  Fevereiro  em   hi5tOrial da
                                                                                                          R~aNaval,
        dade  indiana  relativamente  à
                                    os,  integrando  as  guarnições   Luanda,  a sangrenta oíensiva       referente ao
        presença portuguesa na  índia.   dos  "destroyers"',  fragatas,   da  UPA  em  Angola  e,  em     poriodoM""
          Qualquer cenário político,   draga-minas  e  navios-patru-  Dezembro, se verificou a inva-      1958 e 1975
        que  então  tivesse  sido dese-  lhas, tendo  efectuado,  nestes   são  do  Estado  da  índia,  a   adequados  às  necessidades e
        nhado,  apontaria  naturalmente   navios, algumas comissões nos   Marinha já assegurara a aquisi-  formara  cerca  de uma  centena
        para  uma  iminente confronta-  Açores.                ção  de  alguns  meios  navais   de oficiais da  Reserva  Naval.
        ção armada em alguns dos ter-                                                       A experiência de  transformar
        ritórios  ultramarinos,  facto que                                                 esses  jovens  universitários,
        iria  requerer  um  reforço  na   A Reserva  Naval  é conslituída  pelos indivíduos que, frequen-  ainda  estudantes ou  recém-
        mobilização de recursos mate-  tando ou tendo frequentado cursos das escolas superiores tec-  -licenciados,  em  marinheiros,
        riais  e  humanos  das  Forças   nicamente adequados aos serviços e especialidades  da   resultara  em  absoluto  e ainda
        Armadas,  por  forma  a  que   Armada, lenham  nela  prestado serviço mili/ar e recebido, de   hoje  se  multiplicam  elogiosos
        pudessem  cumprir  as  missões   acordo  com as suas habilitações, instrução  que lhes permita   depoimentos, de quem com eles
        que lhes viessem a ser determi-  servirem como oficiais, em caso de mobilizaç.lo.   conviveu nos finais dos anos 50,
        nadas.                                                                             sobre o  proiissionalismo  e o
          A criação da  Reserva  Naval   P.lra efeitos  de  actll.lIiZ.1Çào  de  conhecimentos, podem  os   entusiasmo  com  que  esses
        e a  efectivação  do  111  Curso   reservistas ser convocados individualmente ou por grupos, por   jovens  oficiais então desempe-
        Especial de Oficiais da  Reserva   porlaria  do Ministro  da  Marinha, fundamentada  em  proposta   nhavam as suas funções.
                                     do Chefe do Estado-Maior da Armada.
          "} FrilfK':O  Nogue;ril,  in  HiSI(X;iJ  de                                        No  Verão  desse  ano  de
        ~/,  Edição cú LMaliil CivilizdÇJo,         Do DKrefo-Lei n' 4 I J99 de 16 de Novtmbro de 1957   1961, a Marinha  recebera  as  5
        Potro,  1980                                                                       primeiras  lanchas  de  fiscaliza-\
                                                                                          REVISTA DA ARMADA '  JANEIRO 94  17
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