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Convirá ter presente o facto de nessa treino de armas sub-
ocasião não ter sido activado o Comando marinas, concebido em
da Área Ibero-Atlântica (COMIBERLANT), termos semelhantes aos
devido a problemas políticos que só viri- seus congéneres inglês e
am a ser resolvidos após a retirada da americano; o desenho
França da estrutura militar integrada, o dos cursos de instrução
que ocorreu no ano de 1965. Na sequên- técnica básica e com-
cia dos contactos aos mais diferentes ní- plementar, destinados a
veis de responsabilidade, decorrentes da ampliar e a sistematizar
participação na NATO, verificaram-se a formação de praças e
profundas alterações organizacionais nas sargentos, por forma a
forças armadas portuguesas: foram cria- responderem cabalmen-
dos os cargos de Ministro da Defesa te aos requisitos técni-
Nacional, de Secretário Geral da Defesa cos impostos pelos no-
Nacional e de Chefe do Estado-Maior vos navios e pela parti-
General das Forças Armadas, sinais do cipação nas actividades
renovado papel que o poder político co- operacionais da Alian-
meçava a atribuir ao instrumento militar ça; a reforma do ensino O N.R.P. “Almirante Magalhães Corrêa” num “fiord” na Noruega,
integrada na STANAVFORLANT.
no contexto da acção estratégica do do Instituto Superior
Estado, a exemplo do que acontecia nos Naval de Guerra, através da adopção dos com o impulso do Almirante Manuel Pereira
restantes países aliados (3); em 1952 a padrões em vigor no Royal Naval War Crespo foram construídas no estrangeiro, de
aviação naval foi integrada na estrutura College e do Naval War College; o enorme acordo com projecto português, 6 corvetas
da Força Aérea, mais um sinal das várias esforço desenvolvido para a frequência de da classe "João Coutinho" e, mais tarde, 4
readaptações exigidas para fazer face aos cursos técnicos nos EUA e Reino Unido (4); corvetas da classe "Baptista de Andrade". Em
novos desafios estratégicos da cena inter- e a criação da Escola de Limitação de 1961, tinha sido construído em Portugal o
nacional, numa época em que as grandes Avarias, seguindo padrões aliados. navio reabastecedor "S.Gabriel", destinado a
operações aéro-navais começaram a ser substituir o velho "S.Brás". A fim de garantir
objecto das preocupações dos planea- ANOS 60 um adequado comando e controlo dos co-
dores militares; em 1953 foi constituído o mandos, forças e unidades navais empenha-
Comando de Defesa Marítima dos Aço- A década de 60 caracterizou-se pela ca- dos na NATO e nos vários teatros ultramari-
res, percursor dos comandos territoriais pacidade da Marinha responder, em simultâ- nos, foi desencadeada uma profunda revo-
estabelecidos anos mais tarde em África; neo, aos compromissos assumidos com a lução nas comunicações, através da constitui-
o Estado-Maior da Armada passou a estar NATO e às solicitações decorrentes do con- ção de circuitos de serviço fixo e de novos
organizado por divisões, conforme mode- flito colonial, que mobilizou todo o poder circuitos de cifra em linha (on-line), para
lo praticado pelos aliados; em 1957 fo- naval para actuar em terra (5) ,nos rios e no além da criação do Centro de Comunicações
ram criados os comandos navais, os co- mar. da Armada, orgão destinado a coordenar as
mandos de defesa marítima territoriais e Demonstrando possuir uma clara visão ligações entre o continente e as colónias.
os comandos de defesa marítima dos por- estratégica acerca dos requisitos decorrentes Cingindo-nos à participação da Marinha
tos, com o objectivo de melhorar a coe- do duplo empenhamento das forças navais – na NATO ainda é possível identificar na dé-
rência e a eficiência da organização de NATO e África – , o Almirante Quintanilha cada de 60 os seguintes factos relevantes:
protecção da navegação mercante, requi- de Mendonça Dias lançou um plano de • Em 1963 foram construídos os depósitos de
sito essencial da estratégia da NATO no aquisição e de construção de navios. Para munições e de combustíveis de Lisboa e de
pós II Guerra Mundial. Ao nível do ensi- empenhamento na NATO obtiveram-se as Ponta Delgada;
no as reformas foram iniciadas na Escola três fragatas da classe "Pereira da Silva", cons- • Em 1967 foi finalmente viabilizada a cons-
Naval, no âmbito das áreas da formação truídas ao abrigo do Plano de Assistência tituição do COMIBERLANT, na sequência da
e do treino. Para a operacionalização Mútua da Aliança, e adquiriram-se em saída da França da estrutura militar da
destas reformas deve ter sido relevante a França 4 submarinos da classe "Albacora". NATO. A Portugal coube o cargo de 2º
visita realizada em 1954, pelos mais altos Para África os primeiros navios foram com- Comandante, em acumulação com o cargo
responsáveis da nossa Marinha, a bases prados em França – as 4 fragatas da classe de chefe do estado-maior, ambos atribuídos
navais, escolas, centros de instrução e "Comandante João Belo"; em Portugal foram inicialmente ao contra-almirante Sequeira
unidades navais dos EUA. construídos os 10 patrulhas da classe "Ca- Araújo. Ainda em 1967 foi iniciada a par-
Na década de 50 importa igualmente cine" e as lanchas de fiscalização da classe ticipação da Marinha nas campanhas
destacar: a constituição do centro de "D. Aleixo". Na sequência daquele plano e oceanográficas MILOC (Military Oceanogra-
phy), realizadas até 1969 com o objectivo de
permitir a caracterização dos parâmetros físi-
cos e químicos das regiões onde incidiam as
preocupações operacionais das marinhas
aliadas.
• Em 1968 o comandante Estácio dos Reis as-
sumiu o cargo de oficial adjunto do chefe da
representação militar nacional (MILREP) no
Quartel General da NATO, em Bruxelas. Ain-
da nesse ano foi formalmente activada a For-
ça Naval Permanente do Atlântico (STANA-
VFORLANT) (6), símbolo da capacidade de
resposta rápida e da determinação da NATO.
• A participação de Portugal foi imediata e
em 1969 o NRP "Almirante Pereira da Silva",
Um submarino classe “Albacora” em exercícios NATO. comandado pelo então capitão de fragata Es-
18 ABRIL 99 • REVISTA DA ARMADA