Page 129 - Revista da Armada
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Convirá ter presente o facto de nessa  treino de armas sub-
         ocasião não ter sido activado o Comando  marinas, concebido em
         da Área Ibero-Atlântica (COMIBERLANT),  termos semelhantes aos
         devido a problemas políticos que só viri-  seus congéneres inglês e
         am a ser resolvidos após a retirada da  americano; o desenho
         França da estrutura militar integrada, o  dos cursos de instrução
         que ocorreu no ano de 1965. Na sequên-  técnica básica e com-
         cia dos contactos aos mais diferentes ní-  plementar, destinados a
         veis de responsabilidade, decorrentes da  ampliar e a sistematizar
         participação na NATO, verificaram-se  a formação de praças e
         profundas alterações organizacionais nas  sargentos, por forma a
         forças armadas portuguesas: foram cria-  responderem cabalmen-
         dos os cargos de Ministro da Defesa  te aos requisitos técni-
         Nacional, de Secretário Geral da Defesa  cos impostos pelos no-
         Nacional e de Chefe do Estado-Maior  vos navios e pela parti-
         General das Forças Armadas, sinais do  cipação nas actividades
         renovado papel que o poder político co-  operacionais da Alian-
         meçava a atribuir ao instrumento militar  ça; a reforma do ensino  O N.R.P. “Almirante Magalhães Corrêa” num “fiord” na Noruega,
                                                                 integrada na STANAVFORLANT.
         no contexto da acção estratégica do  do Instituto Superior
         Estado, a exemplo do que acontecia nos  Naval de Guerra, através da adopção dos  com o impulso do Almirante Manuel Pereira
         restantes países aliados (3); em 1952 a  padrões em vigor no Royal Naval War  Crespo foram construídas no estrangeiro, de
         aviação naval foi integrada na estrutura  College e do Naval  War College; o enorme  acordo com projecto português, 6 corvetas
         da Força Aérea, mais um sinal das várias  esforço desenvolvido para a frequência de  da classe "João Coutinho" e, mais tarde, 4
         readaptações exigidas para fazer face aos  cursos técnicos nos EUA e Reino Unido (4);  corvetas da classe "Baptista de Andrade". Em
         novos desafios estratégicos da cena inter-  e a criação da Escola de Limitação de  1961, tinha sido construído em Portugal o
         nacional, numa época em que as grandes  Avarias, seguindo padrões aliados.  navio reabastecedor  "S.Gabriel", destinado a
         operações aéro-navais começaram a ser                                 substituir o velho "S.Brás". A fim de garantir
         objecto das preocupações dos planea-  ANOS 60                         um adequado comando e controlo dos co-
         dores militares; em 1953 foi constituído o                            mandos, forças e unidades navais empenha-
         Comando de Defesa Marítima dos Aço-  A década de 60 caracterizou-se  pela ca-  dos na NATO e nos vários teatros ultramari-
         res, percursor dos comandos territoriais  pacidade da Marinha responder, em simultâ-  nos, foi desencadeada uma profunda revo-
         estabelecidos anos mais tarde em África;  neo, aos compromissos assumidos com a  lução nas comunicações, através da constitui-
         o Estado-Maior da Armada passou a estar  NATO e às solicitações decorrentes do con-  ção de circuitos de serviço fixo e de novos
         organizado por divisões, conforme mode-  flito colonial, que mobilizou todo o poder  circuitos de cifra em linha (on-line), para
         lo praticado pelos aliados; em 1957 fo-  naval para actuar em terra (5) ,nos rios e no  além da criação do Centro de Comunicações
         ram criados os comandos navais, os co-  mar.                          da Armada, orgão destinado a coordenar as
         mandos de defesa marítima territoriais e  Demonstrando possuir uma clara visão  ligações entre o continente e as colónias.
         os comandos de defesa marítima dos por-  estratégica acerca dos requisitos decorrentes  Cingindo-nos à participação da Marinha
         tos, com o objectivo de melhorar a coe-  do duplo empenhamento das forças navais –  na NATO ainda é possível identificar na dé-
         rência e a eficiência da organização de  NATO e África – , o Almirante Quintanilha  cada de 60 os seguintes  factos  relevantes:
         protecção da navegação mercante, requi-  de Mendonça Dias lançou um plano de  • Em 1963 foram construídos os depósitos de
         sito essencial da estratégia da NATO no  aquisição e de construção de navios. Para  munições e de combustíveis de Lisboa e de
         pós II Guerra Mundial. Ao nível do ensi-  empenhamento na NATO obtiveram-se as  Ponta Delgada;
         no as reformas foram iniciadas na Escola  três fragatas da classe "Pereira da Silva", cons-  • Em 1967 foi finalmente viabilizada a cons-
         Naval, no âmbito das  áreas da formação  truídas ao abrigo do Plano de Assistência  tituição do COMIBERLANT, na sequência da
         e do treino. Para a operacionalização  Mútua da Aliança, e adquiriram-se em  saída da França da estrutura militar da
         destas reformas deve ter sido relevante a  França 4 submarinos da classe "Albacora".  NATO. A Portugal coube o cargo de 2º
         visita realizada em 1954, pelos mais altos  Para África os primeiros navios foram com-  Comandante, em acumulação com o cargo
         responsáveis da nossa Marinha, a bases  prados em França – as 4 fragatas da classe  de chefe do estado-maior, ambos atribuídos
         navais, escolas, centros de instrução e  "Comandante João Belo"; em Portugal foram  inicialmente ao contra-almirante Sequeira
         unidades navais dos EUA.           construídos os 10 patrulhas da classe "Ca-  Araújo. Ainda em 1967 foi iniciada a par-
           Na década de 50 importa igualmente  cine" e as lanchas de fiscalização da classe  ticipação da Marinha nas campanhas
         destacar: a constituição do centro de  "D. Aleixo". Na sequência daquele  plano e  oceanográficas MILOC (Military Oceanogra-
                                                                               phy), realizadas até 1969 com o objectivo de
                                                                               permitir a caracterização dos parâmetros físi-
                                                                               cos e químicos das regiões onde incidiam as
                                                                               preocupações operacionais das marinhas
                                                                               aliadas.
                                                                               • Em 1968 o comandante Estácio dos Reis as-
                                                                               sumiu o cargo de oficial adjunto do chefe da
                                                                               representação militar nacional (MILREP) no
                                                                               Quartel General da NATO, em Bruxelas. Ain-
                                                                               da nesse ano  foi formalmente activada a For-
                                                                               ça Naval Permanente do Atlântico (STANA-
                                                                               VFORLANT) (6), símbolo da capacidade de
                                                                               resposta rápida e da determinação da NATO.
                                                                               • A participação de Portugal foi imediata e
                                                                               em 1969 o NRP "Almirante Pereira da Silva",
         Um submarino classe “Albacora” em exercícios NATO.                    comandado pelo então capitão de fragata  Es-

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