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tica, que passa a adoptar a designação de  na cooperação com os países do Leste  um Quartel General móvel, no mar, a bordo
         CINCIBERLANT e tem à sua frente, pela  europeu. Por isso, logo em 1991, a fragata  do USS "Mount Whitney". A crise na região
         primeira vez, um vice-almirante português  "Comandante João Belo", o submarino "Del-  sul da Aliança foi conduzida na área do
         (Elias da Costa).                  fim" e o reabastecedor "Bérrio" iniciaram a  IBERLANT e no Mediterrâneo, com grande
           No que se relaciona com a actividade  participação nacional nas forças aliadas que  intervenção do CINCIBERLANT.
         operacional importa salientar que na década  operaram no Mediterraneo, no quadro de
         de 80 se verificou uma alteração substancial  contenção dos efeitos do conflito na ex-Ju-  OS DESAFIOS DA ACTUALIDADE
         nos exercícios militares da NATO. A guerra  goslávia. A partir de 1992 as  fragatas da
         fria encontrava-se no auge e as principais  classe "Vasco da Gama"  deram um novo  A queda do muro de Berlim em Novem-
         preocupações militares aliadas estavam  incentivo à contribuição portuguesa para as  bro de 1989, a reunificação da Alemanha
         focalizadas nas possibilidades de invasão da  missões da Aliança Atlântica, nomeadamente  em Outubro de 1990, e a implosão da URSS
         Europa pelas forças soviéticas. Para dissuadir  no que diz respeito à integração na  em Dezembro de 1991, foram acontecimen-
         tal manobra estratégica foram concebidos  STANAVFORLANT. Por isso, em 1995 o  tos que transformaram radicalmente a con-
         diversos exercícios, que passaram a envolver  contra-almirante Reis Rodrigues assumiu o  juntura político-militar na Europa. No entan-
         grandes quantidades de meios navais e aére-  comando desta força militar, coincidindo  to, os factos provam que a liberdade e a se-
         os. As principais séries, que tomaram as desi-  com a operação "Sharp Guard", realizada no  gurança dos aliados  permaneceram amea-
         gnações de "Display Determination", "Linked  Adriático.               çadas. Para fazer face às perturbações da or-
         Seas" e "Resolute Response", constituíram-se  O aumento ao efectivo daqueles navios e  dem internacional e, na sequência das deci-
         como um importante meio para adaptar a  dos respectivos helicópteros orgânicos impli-  sões tomadas nas cimeiras de Londres (Julho
         Marinha à evolução dos padrões doutrinários  cou  a reforma dos serviços de bordo, tendo  1990), Roma (Novembro 1991), Bruxelas (Ja-
         e tácticos da Aliança. Em                                                        neiro 1994) e Madrid (Julho
         1983 as fragatas da classe                                                       1997), a NATO, com uma
         "Comandante João Belo" ini-                                                      liderança muito forte e deter-
         ciaram as suas integrações                                                       minada (9) dos EUA, adoptou
         regulares na STANAVFOR-                                                          uma estratégia que visa
         LANT, em substituição das                                                        reforçar o seu papel político e
         fragatas da classe "Almirante                                                    as respectivas contribuições
         Pereira da Silva".                                                               para a segurança na Europa,
           A partir desse ano foi nítida                                                  em cooperação com outras
         a resistência, por parte dos                                                     organizações. Os aspectos
         restantes aliados, relativa-                                                     fundamentais dessa estratégia
         mente à presença naval por-                                                      são o diálogo, a cooperação e
         tuguesa nas actividades ope-                                                     a manutenção da tradicional
         racionais da NATO, em resul-                                                     capacidade de defesa colecti-
         tado da insuficiência e da                                                       va. A operacionalização da
         desactualização dos meios                                                        nova estratégia da NATO tem
         nacionais. A Marinha iniciou                                                     sido alcançada através das se-
         então um complicado, demo-  Central de Operações do N.R.P. “Corte Real” na STANAVFORLANT -  1995.  guintes acções principais:
         rado e esforçado processo de                                                     • Definição do papel da
         aquisição de três fragatas, que permitissem  sido adoptados os padrões aliados de for-  Aliança Atlântica no apoio ao desenvolvi-
         contribuir para a assumpção das responsabi-  mação técnica. Foi ainda com o apoio da  mento e afirmação da Identidade Europeia
         lidades soberanas no campo da defesa, e pa-  NATO que a Marinha activou as infraestru-  de Segurança e Defesa (IESD);
         ra a participação digna nos esforços colecti-  turas de manutenção destes helicópteros,  • Reafirmação da abertura a novos mem-
         vos de defesa.                     sitas no Montijo. É igualmente de realçar a  bros;
           Foi na década de 80 que se iniciou, em In-  participação das fragatas da classe "Vasco da  • Estabelecimento do "Euro-Atlantic
         glaterra, a formação em tecnologias de edu-  Gama" no programa de avaliação opera-  Partnership Council (EAPC) (10);
         cação, tendo em vista estruturar a abor-  cional (Operational Sea Training), realizado  • Lançamento da iniciativa da "Parceria
         dagem sistémica à formação e ao treino na  anualmente no Reino Unido. Este exigente  para a paz";
         Marinha. Em resultado desta acção o Almi-  desafio implicou alterações nos métodos e  • Redução da dependência estratégica das
         rante CEMA aprovou em 1983 o novo Sis-  nos graus de resposta dos comandos opera-  armas nucleares;
         tema de Formação e Treino da Marinha e,  cional e administrativo, bem como  dos  • Adopção de medidas para o combate à
         em 1985 autorizou a criação da Escola de  orgãos de apoio logístico e de manutenção  proliferação;
         Tecnologias da Educação e Treino.  da Marinha. Em suma poderá dizer-se que  • Adaptação de novos procedimentos de
                                            aqueles navios provocaram um salto qualita-  planeamento;
         ANOS 90                            tivo na Marinha, só comparável à revolução  • Alteração das forças militares inte-
                                            de mentalidades ocorrida na década de 50.  gradas (11);
           A década de 90 ficará inegavelmente mar-  Em 1996 materializou-se a pretendida  • Operacionalização e implementação do
         cada na história do empenhamento da  colocalização em Oeiras do Comando  conceito de "Forças-tarefa conjuntas e
         Marinha na NATO, pelo aumento ao efecti-  Naval, o que, por um lado, viabilizou o aces-  combinadas";
         vo de modernos meios navais, que permiti-  so aos meios de comando e controlo do CIN-  • Intervenção fora da área da Aliança
         ram a equiparação aos demais aliados e con-  CIBERLANT e, por outro lado, permitiu aos  ("Out-of-Area");
         tribuíram para um prestígio nacional  sem  oficiais, sargentos e praças da Marinha um  • Adaptação da estrutura militar integrada à
         precedentes, no seio das forças navais da  permanente contacto com métodos, procedi-  nova configuração geoestratégica da Europa;
         NATO.                              mentos, equipamentos e tecnologias aliados.  • Definição e operacionalização de novos
           Fruto dos  desafios impostos pelo fim do  Em 1998 a Marinha empenhou parte signi-  arranjos organizacionais e de adequados pro-
         conflito bipolar, na década de 90 alterou-se  ficativa das suas capacidades no exercício  cedimentos para a gestão de crises e para a
         substancialmente a estratégia da NATO, o  "Strong Resolve", o maior de sempre da  realização de operações de paz.
         que  implicou um acrescido empenhamento  NATO, que contou com a participação de  Entre as acções antes listadas o maior
         das marinhas aliadas em operações de paz e  países "Parceiros para a Paz" (PfP) e dispôs de  desafio que se coloca ao futuro da NATO pa-

         20 ABRIL 99 • REVISTA DA ARMADA
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