Page 71 - Revista da Armada
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BIBLIOGRAFIA



                                       “D. Fernando II e Glória”
                                      (A Fragata que renasceu das cinzas)

            enascer das cinzas era pri-                                                   Quem tomou a cargo a exe-
         Rvilégio de ave mitológica,                                                    cução do livro foram os CTT –
         que, depois de fazer ninho em                                                  Correios de Portugal – nas suas
         ramos de canela e de incenso, se                                               já muito prestigiosas edições do
         deixava sucumbir, para, transfor-                                              Clube do Coleccionador.
         mada entretanto em lagarta,                                                      A escolha para a feitura prática
         voltar à forma de ave muito bela,                                              da obra – o Autor – não podia ter
         de plumagens cheias de cor e                                                   caído melhor que no Almirante
         movimento.                                                                     Sacchetti (António Emílio Ferraz
           Usada a expressão para quan-                                                 Sacchetti), que, do fundo de
         to renasce após incêndio, tal                                                       todas as suas capacidades,
         Lisboa depois do terramoto do 1º                                                    de trabalho, de organiza-
         de Novembro, calha agora com                                                        ção, de pesquisa, de
         rigor de sentido prático, matemático, à nossa Fragata – a última que                redacção, até de gosto, fez
         se construiu na Índia, - pois, ardida como se sabe quando funcionava                original limpo, muito
         como obra social, foi levada para os lodos do Mar da Palha, onde,                   completo, que dá gosto
         apesar da quase imperecível madeira de teca de que era feita, não                   folhear e ler.
         deixou de passar pela metamorfose de ser aquático disforme, torcida                  O conhecido tradutor,
         com forma de bicho da madeira.                                                      especialista em textos de
           Mas a vontade de alguns, contra a indiferença de muitos e a                       Marinha, Peter Ingham, foi
         maledicência de outros tantos, foi capaz de pegar naquele corpo  o autor da versão inglesa. O arranjo artístico – o Design, como é fino
         informe de larva do lodo, atá-lo, bloqueá-lo, rebocá-lo, levá-lo até  dizer-se, é de José Brandão, Teresa Olazabal Cabral e Cristino
         Aveiro, adequá-lo aos desenhos das pranchetas de construção naval,  Cascais. A quasi totalidade das fotografias actuais deve-se à arte de
         e, com o concurso de vontades das boas, a angariação de fundos por  António Sacchetti, filho do autor.
         espíritos incisivos e convincentes, o entusiasmo de uma boa mão  Ao longo das 262 páginas do livro, o leitor irá dar por bem aplica-
         cheia de boas vontades, saiu uma Fenix de bonita plumagem, igual-  do o custo do livro (que é salgadito) mas vale a pena. Como, desta
         zinha à fragata que tinha sido, e que figurou, quase como ex-libris na  vez, não houve oferta, a R. A. apenas tem o gosto de cumprimentar
         EXPO’98, onde foi visitada por cerca de um milhão de pessoas.    os responsáveis por tão cativante publicação.
           Vem, agora, o coroamento, a versão em livro da grande empresa,  O lançamento do livro foi efectuado numa cerimónia a bordo da
         que a vai perpetuar, e levar ao conhecimento do mundo daqueles  fragata, na presença do Almirante CEMA e do Presidente do Conselho
         que souberem ler em português e inglês, - tudo quanto ocorreu com  de Administração dos CTT, com a assistência de numerosos convida-
         esta Fénix.                                          dos e cobertura de diversos órgãos de comunicação social.


                                 “Contra-Insurreição em África”
                                     O modo português de fazer a guerra


            ema relativamente pouco tratado entre nós, de modo sério, isen-  dade que nenhum sofisma pode desmentir. Como? É o que vem
         Tto de pruridos ideológicos, que sempre ensombraram a visão fria  explicar John Cann no seu livro, - O Modo Português de Fazer a
         de quem está por fora. Por fora, mas com afin-                       Guerra -, primeiro editado em Inglês por
         cado empenhamento no descobrir de factos,                            Greenwood Press publicado em 1997 com o
         está o autor John P. Cann, (oficial superior da                      nº 167 da Colecção Contributions in Military
         Marinha americana) destacado na altura em                            History, edição americana. A tradução para lín-
         Portugal na organização NATO.                                        gua Portuguesa foi de Dinorah Ferreira e Ana
           Sabe-se como a teimosia de político idoso, na                      Dias, para edições Atena, Lda.
         manutenção do que era considerado uma exten-                          Leitura leve, contem motivos para reflexão e
         são indivisível de Portugal no Mundo, se sobre-                      achegas históricas para uma guerra que nunca
         punha a ideias menos rígidas de enveredar por                        foi bem conhecida, e de que talvez nem os
         diálogo com certeza mais frutífero, por ventura                      documentos oficiais digam toda a verdade.
         até muito mais propício a evitar tragédias que                       Mas foi com relatos de camaradas, na NATO,
         ainda subsistem, mas outros mais jovens, prome-                      em Oeiras, que Jonh Cann se baseou, e não
         tedores de reformas que a morte do primeiro                          são, com certeza, despiciendos.
         deixava possíveis, não foram corajosos para as                        Vale a pena ler este livro sobre a nossa guer-
         implementar.                                                         ra do Ultramar, da qual muitos dizem “cobras
           Fosse como fosse, os acontecimentos, sobre-                        e lagartos”, mas para onde outros tantos foram
         tudo de armas na mão, não são fáceis de con-                         voluntários a fazer repetição.
         duzir (quase como navio sem meios de gover-                           A R.A. agradece à casa Editora Atena a oferta
         no), todavia Portugal manteve e aguentou uma                         de um exemplar para a sua biblioteca.
         guerra desencadeada em três frentes bem dis-                                                   S. Machado
         tantes, por espaço de treze anos. Isto, uma ver-                                                 CMG REF
                                                                                      REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 99  33
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