Page 8 - Revista da Armada
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PONTO AO MEIO-DIA
O Atlantismo,
a Europa e Portugal
om a queda do muro de Ber- base da segurança comum é hoje europeismo, e até do iberismo, deci-
lim, a dissolução da ameaça insustentável sem as correspondentes diu-se pela adesão à Europa como
C de Leste e a evolução tecnoló- componentes política, económica, primeira e essencial opção, em que
gica ligada aos armamentos, julgo social e cultural. convergiam praticamente todas as
estarem ultrapassados os conceitos A prosperidade económica e a cria- forças políticas.
geopolíticos que separavam, na Eu- ção de oportunidades em ambas as É certo que o Atlantismo foi, por
ropa, as potências continentais das margens do Atlântico poderão ga- vezes, eufemisticamente defendido
marítimas. nhar novo impulso através do apoio por quem queria recusar a opção
Continua a haver, é certo, países que os EUA estão a dar ao progresso europeia, mas não é menos verdade
com maior propensão para se consi- da integração europeia. que o inverso também aconteceu e, ao
derarem continentais mas, olhando Mais uma vez se evidencia a ligação não sabermos acautelar interesses,
para um mapa, ressalta que a Europa Transatlântica como essencial à segu- esse foi um período em que
é uma península do grande Conti- rança e desenvolvimento da Europa, a recessão mundial não justi-
nente Euro-Asiático, bastante com- que é marítima, absolutamente ficava, só por si, que tivésse-
prida no sentido E/W, extremamente dependente do livre mos esfrangalhado as activi-
recortada e com elevada taxa de ma- uso do Atlân- dades sensíveis e parte das
ritimidade, onde o Atlântico continua tico. actividades principais de-
a aparecer como um mar europeu. finidas por Klinger.
Segundo Klinger, a abor- Em tempo de globalização
dagem dos problemas ficamos, pois, quase sem
da economia euro- transporte marítimo, - mes-
peia numa perspec- mo os de cabotagem, essen-
tiva peninsular, justifi- cial, mais barato e mais se-
ca-se pela existência efec- guro para o comércio com a
tiva de três actividades prin- Europa, - (vidé casos das
cipais – transportes marítimos, greves dos camionistas) -
exploração de hidrocarbonetos do pesca, construção naval e
mar do Norte e turismo litoral – e por culturas marinhas enquanto
três actividades sensíveis – pesca, cul- que o turismo litoral foi
turas marinhas e construção naval. desenvolvido, muitas vezes,
O Conselho de Cooperação do Atlân- Triângulo de forma anárquica.
tico Norte e a Parceria para a Paz, que vai do E, contudo, usando pala-
constituem-se como veículos de irra- norte da Escandinávia vras do Prof. Adriano Mo-
diação do atlantismo ligando os EUA à Califórnia; desta, reira, a adesão à Europa va-
passando pela Venezuela
a países situados bem no interior do e Brasil, encontra outro lorizou a nossa vocação
hinterland europeu. vértice a SE do Cabo da Boa atlântica, que se inscreve
Temos assim o Atlântico como mar Esperança, fechando-se o triângulo com harmoniosa definição
europeu e a ligação transatlântica co- ligando esse vértice ao que fica na Europa no espaço atlântico em cuja
mo elo fundamental à defesa, à segu- setentrional. mobilização se baseou por
rança e à economia. Este oceano é um verdadeiro duas vezes a recuperação
Também a União Europeia está em- mar interior entre 2 continentes atlântica.
penhada no estabelecimento de idên- que dele carecem. De facto, o Euro-Atlan-
ticos laços. E Portugal, que especificidades? tismo, determinado por ra-
Este processo culminou com a Durante alguns anos foi quase con- zões geográficas, e justifica-
aprovação de uma Nova Agenda siderado anátema falar de Portugal do por factores históricos,
Transatlântica e no Plano de Acção como país euro-atlântico. estratégicos, políticos e económicos,
Conjunta que foram assinados na Primeiro, devido à anatemização continuou a ser uma realidade
Cimeira de Madrid, em 3 de De- da guerra colonial, e às suas seque- garante da soberania e independên-
zembro de 1995. las; e, depois, no período imediata- cia de Portugal.
Fazendo notar que nela se inclui o mente a seguir à adesão à CEE, O triângulo estratégico - limite W
espaço do Mediterrâneo e do Médio durante o qual apenas se olhava para da defesa da Europa e fronteira E da
Oriente dentro das áreas de interesse a Europa; apenas se via a Europa defesa dos EUA - é espaço de insepa-
da NATO, baseia-se a Nova Agenda como um fim em si mesmo. rabilidade da segurança das duas
no reconhecimento mútuo de que a Entre os apelos do atlantismo, do margens do Atlântico Norte; é zona
6 JANEIRO 99 • REVISTA DA ARMADA