Page 141 - Revista da Armada
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pranto que acabou por nos silenciar.  epitáfio - levas mais este pró caminho!  padecimento da criança. Infelizmente, há
           Olhámos, todos à uma, e vimos um ho-  Claro, eu e todos os presentes estaríamos a  muito tempo que conheço a realidade dos
         mem, de meia idade, elegantemente vestido,  mentir, se disséssemos que não gostámos de  hospitais e sei que por vezes é preciso internar
         que batia de forma desmedida numa criança.  ver tal besta provar do seu próprio xarope.  crianças, só para as proteger dos familiares.
         Esta, um rapazito que não teria mais que 8  Nesse dia, sentimo-nos muito menos dotados  Do episódio ficou, todavia, a actuação nobre
         anos, soluçava profusamente. Choviam mur-  que o Monstro poderoso. Este, fazendo a guer-  do Monstro e a verdade que ela encerra - o que
         ros e pontapés, o dito senhor não tinha des-  ra dos justos, tinha abatido um vil inimigo...  nos define, como belos ou feios, é o nosso
         canso neste afazer violento...       A criança entretanto sucumbiu, ficou subita-  coração. Por isso acho e acredito, que cada
           Há muito tempo que sei (por experiência  mente quieta, estava pálida – de uma palidez  pessoa, das muitas que todos vamos conhecen-
         própria), que as crianças podem enfurecer  mortiça. Observei-a, estava quase incons-  do, merece e precisa de tempo, para mostrar o
         qualquer um, mas há limites e o controle deve  ciente, havia taquicardia e o pulso era filiforme  que lhe vai no espírito - já que os julgamentos
         partir do adulto responsável. Incomodado, le-  - parecia uma hemorragia interna. Um dos ofi-  precoces, são, quase sempre, errados...
         vantei-me e dando voz ao que ia na alma de  ciais ligou para a emergência. O rapaz foi  Afinal, como o leitor amigo compreenderá,
         todos, pedi delicadamente ao homem que se  transportado para o hospital. Mais tarde, vim a  a marujada na sua ignorância tinha razão, o
         aclamasse, que assim iria magoar o rapazinho,  saber que tinha feito um traumatismo grave do  nosso Monstro era mesmo como o protago-
         o que por certo não seria o seu objectivo...  baço, com consequente extracção cirúrgica  nista do filme da Walt Disney. É que, tal
           Como resposta, fui brindado com um valen-  emergente, para que não morresse...  como ele, pela bondade, o nosso Manobra se
         te soco na face, do qual ainda guardo me-  Com a ambulância, chegou a GNR, alerta-  transformou num príncipe – porque o que
         mória física, que me prostrou no chão. Refeito  da pelo dono do café, preocupado com o  define a nossa humanidade e nobreza, são e
         da surpresa levantei-me para ser novamente  alvoroço. O homem, que afinal era o pai do  serão sempre os nossos actos.
         empurrado e agora insultado. Foi então que,  rapaz, meio tonto e a gritar acusou o Monstro  Muitas vezes, por essa vida fora, gostaria de
         vindo não sei de onde, o nosso Monstro se  de agressão. Avancei e contei o sucedido ao  ter, por perto, um Monstro amigo assim, para
         materializou. Trazia um semblante feroz, que  Sr. Guarda, que tinha sido o primeiro agredido  socar as bestas que se me atravessam no cami-
         eu não lhe conhecia, e sem dizer palavra  e que o Monstro tinha agido em minha defesa.  nho. A este amigo, de alma límpida, que se
         assentou, por sua vez, um valente murro no  De seguida contei-lhe tudo o resto, que quem  reconhecerá nestas linhas, desejo que continue
         abdómen do meu agressor. Este, refeito da sur-  devia ir preso era aquele cobarde, capaz de  a ter a calma para perdoar ao mundo, o dis-
         presa, ripostou, de punho em riste e olhar  maltratar crianças aquele ponto. Outras vozes  cernimento para continuar a amar as coisas ver-
         mortífero. Contudo, numa sucessão surpreen-  se juntaram ao coro dos que acusaram tal  dadeiramente belas e a coragem para agir em
         dentemente rápida de golpes, o Manobra não  besta. Fomos todos prestar declarações ao  conformidade. Ele é, certamente, uma das pes-
         deu descanso à face ou ao abdómen do mal-  posto da GNR. Voltamos a pé para o navio,  soas mais bonitas que alguma vez conheci...
         vado. Finalmente, quando lhe agarrei no  tristes e cheios de perplexidade por ter co-               Doc.
         braço para acabar com o castigo, o atacante  nhecido um pai assim...Nesse dia, pelo menos
         ainda vociferou um palavrão. Aí, o nosso  nesse dia, ninguém se meteu com o nosso  RECTIFICAÇÃO
         valente Monstro – à maneira de um qualquer  poderoso Manobra.            Na história da Botica (6), na pág. 31, 2ª coluna,
         Western – brindou o homem com um último  Durante algum tempo se comentou a bordo  último parágrafo, leia-se “nobreza de coração”
         soco que o deitou, de vez, por terra, com o  sobre os acontecimentos daquele dia – sobre o  em vez de “pobreza de coração”.

                                                  CONVÍVIOS


                      “BÓIA DE ESPERA”                            “FILHOS DA ESCOLA” DE 1951 E
         ● A Revista da Armada tem vindo a contribuir através da sua  ALUNOS DA FRAGATA “D. FERNANDO”
         rubrica “Convívios” para manter e cimentar o associativismo e o
         espírito de amizade e camaradagem entre os militares e ex-militares  ● Vai realizar-se no próximo dia 5 de Maio, num restaurante da
         da Armada.                                           Costa da Caparica, um almoço-convívio do recrutamento de 1951 e
           Neste sentido, e a partir da próxima edição, será criada uma rubri-  alunos da Fragata “D. Fernando”, a fim de comemorar o seu 50º
         ca intitulada “BÓIA DE ESPERA”, à guisa de “Ponto de Encontro”  aniversário.
         que servirá para proporcionar contactos com vista a reuniões ou con-  Contactos:
         vívios de elementos das guarnições de navios e unidades em terra.  SAJ CE REF Fernando Pinheiro – Tel. 212762715, TM. 917106070
         Eis um exemplo:                                       SAJ L REF José Cavadinhas – Tel. 212535384
           “Os elementos da guarnição da fragata “Pacheco Pereira” que
         serviram em comissão em Moçambique no período de 1964/1966
         e que queiram vir a reunir-se deverão contactar”:
         - Guilherme Cabral (1GR E)                               GRUPO AMIZADE MARINHEIROS
          Telefones: 265 – 524086 (Residência)
                  265 – 233255 (Local de trabalho)                 DO CONCELHO DE ESPOSENDE
         Nota: Os interessados em publicar anúncios deste tipo deverão enviar os necessários  ● Vai realizar-se no próximo dia 19 de Maio um almoço de confra-
         elementos à Redacção da Revista da Armada, por escrito ou através de e-mail da R.A.:  ternização, para comemorar o 15º aniversário do G.A.M.C.E..
         revista.armada@mail.marinha.pt
                                                              O encontro terá o seguinte programa:
                                                               11.00h – Concentração frente à Igreja Matriz de Rio Tinto
                                                                      (Esposende).
         “FILHOS DA ESCOLA” DE JANEIRO DE 1971                 11.30h – Missa na Igreja Matriz de Rio Tinto.
         ● No próximo dia 28 de Abril e comemorando o 30º aniver-  13.00h – Almoço convívio na Quinta do Marachão (Rio Tinto).
         sário de ingresso na Armada, vai realizar-se em Oliveira do  As inscrições poderão ser feitas através dos delegados das
         Bairro o convívio dos “Filhos da Escola” de Janeiro de 1971. Os  freguesias, ou directamente na Direcção:
         interessados podem contactar:                         Silvestre Silva (253961012), António Silva (253851453), Manuel
           TEN Mantas 212745671 (serviço) ou 212598060 (casa)  Boucinha (253982488), Maló (253965878), Manuel Dourado
           SAJ Rocha 213429408 (serviço) ou TM. 964303823     (253982980).
                                                                                       REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001  31
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