Page 244 - Revista da Armada
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RECORDAÇÕES


               O SEXTANTE QUE PERTENCEU AO AVISO “AFONSO DE ALBUQUERQUE”
                                              FOI DOADO À MARINHA


           O sextante que pertenceu ao Aviso
         “Afonso de Albuquerque”, voltou a Portugal
         e ao património da Marinha, cerca de 40
         anos depois do combate de 18 de Dezembro
         de 1961 e da perda do navio, ocorridos na
         barra do rio Zuari em Goa.
           Nesse dia, em que as Forças Armadas
         Indianas decidiram ocupar os territórios de
         Goa, Damão e Diu que então constituíam o
         Estado Português da Índia, o Aviso “Afonso
         de Albuquerque” enfrentou 3 poderosas fra-
         gatas indianas num desigual combate naval,
         que marcou o fim de uma presença por-
         tuguesa em Goa com cerca de 451 anos.
           As circunstâncias políticas de internamen-
         to da guarnição não permitiram a recolha de
         bens pessoais ou patrimoniais, mesmo que
         simbólicos, daí resultando que uma parte da
         memória desse combate e desse navio tam-
         bém tivesse ficado em Goa.
           Esses bens foram recolhidos pelas forças
         militares indianas e alguns deles vieram a
         ser depositados à guarda da Polícia de Goa.
         Foi aí que Eric Menezes, um cidadão goês residente em Panjim,  O peso da História e a memória daquele navio e dos seus
         encontrou e conseguiu recuperar o sextante do navio.  homens recomendava um só destino a tão importante e sim-
           Durante quase 40 anos, Eric Menezes conservou consigo  bólica peça museológica. Por isso, o Comandante Adelino
         aquele instrumento tão simbólico, até que decidiu oferecê-lo ao  Rodrigues da Costa decidiu doá-lo à Marinha Portuguesa,
         Comandante Adelino Rodrigues da Costa, que tem uma peque-  tendo procedido à sua entrega ao Almirante Chefe do Estado-
         na colecção de instrumentos náuticos e que ocasionalmente se  -Maior da Armada, que decidiu depositá-lo no Museu de
         encontrava em Goa.                                   Marinha.




                        O ESTANDARTE DA FRAGATA “D. FERNANDO II E GLÓRIA”
                                             REGRESSA  À MARINHA

           Foi entregue à Marinha, na pessoa                                      João Borracha guardava consigo
         do Chefe de Gabinete do Almirante                                        tornou-se angustiante, por não poder
         CEMA, o antigo estandarte da Fra-                                        partilhar com ninguém esse episódio,
         gata “D. Fernando II e Glória” à data                                    parte das suas memórias, e ainda com
         do incêndio do navio.                                                    o receio de por o ter ocultado dema-
           Foi seu portador o CTEN MN                                             siado tempo poder vir a sofrer qual-
         Nobre Moreira que o recebeu das                                          quer represália ou castigo.
         mãos dum seu familiar, conterrâneo                                         Decidiu então entregar o estandarte
         de um sobrinho do Cabo clarim                                            a este seu sobrinho, manifestando a
         Manuel João Borracha que prestava                                        vontade de , após o seu falecimento,
         então serviço no navio.                                                  ele vir a ser entregue à Marinha.
           O estandarte fora entregue pelo                                          Este seu familiar, sabendo da recu-
         Cabo Borracha ao seu sobrinho                                            peração e restauro da fragata, cum-
         alguns anos antes do seu falecimento                                     priu agora a sua vontade para que o
         em 1991, e de acordo com o seu teste-                                    estandarte regressasse ao lugar donde
         munho, no dia do incêndio que                                            saiu há mais de 38 anos.
         destruiu quase totalmente o navio,                                         Assim, o referido estandarte depois
         fora o Cabo Borracha, monitor e                                          de restaurado será entregue ao
         clarim do navio que, encontrando-se                                      Museu de Marinha, tendo como des-
         a bordo, decidiu salvar o estandarte, retirando-o das chamas e  tino a sua anterior unidade.
         trazendo-o consigo quando se lançou à água.           Curiosamente, a revista da Armada publicou na sua edição
           Verificando que o navio se encontrava irremediavelmente per-  nº 337, Dezembro de 2000, no verso da capa, uma fotografia
         dido, pensou em mantê-lo à sua guarda, preservando assim uma  inédita, onde o Cabo clarim João Borracha, de pé no autocarro,
         recordação de mais de doze anos cumpridos a bordo.   acompanhava como monitor os alunos da Obra Social da
           À medida que os anos foram passando, o segredo que o Cabo  Fragata no regresso de uma deslocação.

         26 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA
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