Page 289 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
             Património Cultural da Marinha


                                         Peças para Recordar





                            30. A PLACA DA PORTA DE ENTRADA DO BUGIO




                Data de 1571 a primeira recomendação de Francisco de Holanda em “Da Fábrica que falece à cidade de
             Lisboa”, para a edificação de um ponto fortificado no meio da barra do Tejo, se possível, na Cabeça Seca. Sete
             anos mais tarde, D. Sebastião encarrega D. Manuel de Almada de ali erguer uma edificação, para enfrentar
             uma provável investida das forças de Filipe II de Espanha. A urgência levou a que se optasse por uma simples
             e reduzida construção de madeira e num local mais próximo da Trafaria. Porém, passado pouco tempo, viria a
             ser destruída pelo mar.
                Embora exista certa polémica sobre a data de início de construção da fortaleza de S. Lourenço da Cabeça
             Seca, S. Lourenço da Barra ou Bugio, é aceite, como mais provável, o ano de 1590. Para a realização desta
             obra, Filipe II mandou vir de Nápoles João Vicenzo Cazale, frade-servita, e fez saber que tal obra tinha priori-
             dade absoluta sobre as demais a realizar. O Rei manifestou sempre um grande empenho em todo o processo,
             obrigando Cazale a apresentar-lhe os estudos efectuados, os planos para a fortificação e as propostas para a
             sua realização. Apesar de muitas interrogações terem sido levantadas por Filipe II e seus conselheiros, para
             todas Cazale foi encontrando argumentos que acabaram por prevalecer, nomeadamente a escolha da forma
             arredondada para a construção da fortaleza, por considerar que seria a que melhor responderia às intempéries
             e agressividade do mar, contrariando a forma angular que se impunha na época. Cazale previu um período de
             dois anos para conclusão da obra. Apesar de tudo ter feito para acelerar o ritmo dos trabalhos, certo é que,
             quando três anos mais tarde frei Cazale faleceu, somente estavam parcialmente concluídas as fundações e a
             base da muralha.
                Após a sua morte, são nomeados para a direcção da obra dois discípulos seus, Tibúrcio Spannochi e Anton
             Coll, com a justificação de eles serem conhecedores do “modo de fabricar y manejar los instrumentos” e para
             que a “traça començada” não fosse alterada. Porém, foi curta a sua participação nos trabalhos, vindo a ser
             substituídos por Leonardo Torreano, nomeado em 1598 Engenheiro-Mór do Reino, e como engenheiro encar-
             regue da obra, Gaspar Rodrigues. Terá sido, provavelmente, com esta direcção, que foi construído um forte em
             madeira que, a par de S. Julião, guardava a entrada da barra de Lisboa. Até 1629, ano em que Torreano se
             desliga da obra, forte polémica foi crescendo entre os dois engenheiros, com Torreano a apresentar várias
             alterações, nomeadamente, da forma arredondada para forma oval, assim como o aumento das dimensões ini-
             ciais propostas por Cazale. Estes e outros desencontros levaram a que os dois anos previstos pelo frade napoli-
             tano  para a conclusão da obra, se viessem a arrastar por quase seis décadas.
                Em 1640, embora ainda não concluída, já a fortaleza albergava armamento e guarnição. Após a restau-
             ração da soberania nacional, o seu governador, o espanhol João Carrilho Rótulo, rendeu-se aos portugueses.
             Apesar da conclusão do forte ter sido considerada uma das prioridades, pelo importante reforço do complexo
             defensivo de Lisboa, só com D. João IV, em 1643, se reiniciam as obras da fortaleza de S. Lourenço da Cabeça
             Seca, seguindo, ainda, os planos de frei João Cazale, e que viriam a terminar no ano de 1657. Para superinten-
             der as obras foi designado D. António Luís de Meneses, Conde de Cantanhede, tendo como engenheiro João
             Torreano - filho de Leonardo Torreano. O reinício da construção está assinalado numa placa de bronze (1x0,70 m)
             que se encontrava colocada por sobre a porta de entrada da fortaleza, salva in extremis de uma tentativa de
             furto depois do farol ter deixado de ser vigiado. Nela se podem ler os seguintes dizeres:


               “O MVITO ALTO E MVITO PODEROSO REI DE PORTUGAL D. IOAO 4 DE GLORIOZA MEMORIA MAN-
               DOV FAZER ESTA FORTALEZA A ORDEM DO CONDE DE CANTANHEDE D. ANTONIO LUIS DE MENEZES
               DOS SEUS CONSELHOS DE ESTADO E GVERRA VEADOR DA FAZENDA E GOVERNADOR DAS ARMAS DE
               CASCAIS QUE COMESSOV NO ANNO DE 1643.”



                  Esta placa encontra-se hoje exposta no pólo museológico da Direcção de Faróis, em Paço de Arcos.




                                                                             Direcção de Faróis
                                                                             (Texto de M.L.Amaral Pereira, CMG)
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