Page 321 - Revista da Armada
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Penso (e estou quase certo), que a vida de  alternância na casa dos filhos. Mas já se  que, com estes dois amigos percebi, não há
         Marinha muito ajuda no forjar de tais  não preocupa com isso...Pelo menos uma  nada que a amizade não vença...
         amizades. Internatos, embarques prolonga-  vez por semana, o Amigo visita-o. Saem  Ora se nos nossos dias se inauguram está-
         dos, perigos e sofrimentos partilhados são  juntos. Vão almoçar à messe.  tuas a este ou aquele, que por mérito próprio
         situações que ajudam a cimentar amizades.  O Lourinho nunca mais foi internado, nem  se destacou, em praças, ruas e até em viadu-
         Até eu, em circunstâncias semelhantes, já fiz  se apresenta triste nas consultas...Já se não  tos, não podia eu deixar aqui de falar no
         amigos assim, capazes de ajudar nos piores  acha “velho”, indesejado...  monumento que ergueram a si próprios e a
         momentos, desinteressadamente...     E eu muitas vezes recordo as imagens das  todos os que o observaram, aqueles dois
           Esta história acabou bem. O      tardes de Verão, em que dois velhos riam  homens. São estes monumentos, quase sem-
         Comandante Lourinho sobreviveu graças  felizes de si próprios num quarto, abafado,  pre incógnitos, mas consistentes e
         ao Comandante Amigo. Nenhum dos dois  do Hospital da Marinha. Nesses dias não  duradouros, que melhor definem a palavra
         voltará a comandar qualquer navio, mas  compreendia nada, nem a força de tal  “Humanidade”.
         provaram de modo singelo que todas as  amizade, nem a alegria que eu próprio sentia  Que vivam os dois muitos anos mais....
         tempestades podem ser domadas por uma  ao observá-los...Essas memórias apagam,
         forte amizade...Continuo a ver o Lourinho  também em mim, a tristeza, o medo e o
         de tempos a tempos. Ainda mora em  descrédito, que muitas vezes me afligem...É                      Doc.


                                               BIBLIOGRAFIA


             “Os Homens dos Descobrimentos e da Expansão

                  Marítima” do Comandante Gomes Pedrosa




                                     O Comandante Fernando    artilharia, tudo se encontra com bastante detalhe pelas quase cento e
                                   Gomes Pedrosa acaba de dar o  quarenta páginas de letra um tanto pequena.
                                   nome a um livro cuja edição é da  Parece ter sido um “Prémio do Mar Rei D. Carlos” bem aplicado. A
                                   Câmara Municipal de Cascais, e  Revista da Armada cuida, pelo menos, que fica com a sua biblioteca
                                   foi o trabalho que ganhou o  assaz enriquecida.
                                   Prémio do Mar Rei D. Carlos -
                                   1997, instituído por aquela                                         S. Machado
                                   mesma Câmara. O título: “Os                                            CMG REF
                                   Homens dos Descobrimentos e
                                   da Expansão Marítima”; com
                                   subtítulo: “Pescadores, Mari-
                                   nheiros e Corsários”. É um traba-  0 Paladar do Sonho
                                   lho que abrange praticamente
                                   quanto se sabe sobre estes artí-    de Jaime Lopes
                                   fices, e outros, da grande tarefa
                                   que foram os descobrimentos
                                   marítimos dos Portugueses.
                                   Porque foram eles também que  De poemas tão belos como
         os fizeram. Foram a gente de boa ralé, gente importante, como é  “Mar e Maré”, aos “Poemas com
         importante a notícia que por este livro nos vem deles.  Mote”, e às “Quadras Soltas” o
           A descrição começa por localizar o lugar onde a história começou,  1TEN OT Jaime Lopes dá-nos
         (e não é por lapso que este termo “história” está sem maiúscula).  uma centena de páginas de poe-
         Aborda em seguida as actividades piscatórias, entrando nos por-  sia que se lêem com muito agra-
         menores de artes e espécies capturadas, o que se entende como ir ao  do.
         fundo da questão, se é que foi assim pensado; bem como a conser-  Será que a terra pesou mais na
         vação e a comercialização, para entrar de seguida no “declínio”,  inspiração que o mar? E quem
         resultante este, veja-se lá, do novo “emprego” que a gente do mar  comanda a inspiração? Seria lógi-
         começou a ver nas tarefas do que se podia considerar já um pouco a  co esperar mais do mar, vindo de
         actividade de ir a descobrir. Passa depois pela Marinha de Comércio,  um marinheiro? Não se coman-
         e respectiva gente que a compõe: mestres, capitães, patrões, arrais,  dam os sentimentos assim tão
         pilotos, marinheiros, grumetes e pagens, contramestres, escrivães, e  logicamente...
         despenseiros, tudo como forma de contributo para que os descobri-  A verdade é que se trata de um
         mentos pudessem ir por diante.                       livrinho com cento e poucas
           A Marinha de Guerra, as formas de alistamento, da construção dos  páginas de poesia, de inspiração
         navios, da gente que nela milita, são temas igualmente chamados  pronta e variada, por entre as
         para o mesmo fim.                                    quais não será de deixar passar sem referir os poéticos apontamentos
           É abordado ainda o “corso”, como actividade da época, separação  das pinturas de Fernando Damião, e o belo prefácio de Ana Feitosa.
         marcada entre pirataria pura e corso organizado e “oficial”.  A Revista da Armada agradece o exemplar oferecido.
           Os navios, como não podia deixar de ser, são aqui tratados no por-
         menor do tipo e da intervenção. A barca, o barinel, a caravela e a                            S. Machado
         nau, distinção entre navios de remos e navios de vela, e por fim, a                              CMG REF
                                                                              REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001  31
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