Page 368 - Revista da Armada
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Mensagem do Almirante
Chefe do Estado-Maior da Armada
à Marinha
partir de ontem sou o novo tempos que hão-de vir, limitando os Na área Financeira vai ser necessário
Chefe do Estado-Maior da danos que já sofremos, preservando o um rigor absoluto. O ano de 2002 vai
AArmada. É uma honra para essencial e preparando o futuro. Quem acabar forçosamente de uma forma não
mim comandar a Marinha. Fá-lo-ei com está no mar põe o navio de capa ou corre planeada face às recentes medidas
o orgulho, com a mesma dedicação, com o tempo. Quem está em terra arre- impostas pela grave situação financeira
entrega e devoção com que dei todos os gaça as mangas e trabalha para a nova do país, a que as Forças Armadas e a
restantes passos na minha carreira esquadra que Portugal merece e há-de ter. Marinha não ficaram imunes. A palavra
desde que, em Outubro de 1961, entrei Se soubermos fazer isto com pro- de ordem é liquidar todos os compro-
para a Escola Naval. fissionalismo e determinação, daqui a missos firmes mesmo que à custa de sa-
Ao iniciar funções, certamente que três anos poderemos orgulhar-nos do tra- crifícios noutras áreas, no sentido de não
qualquer Chefe de Estado-Maior dese- balho realizado, estaremos de cabeça er- transferir para o próximo ano difi-
jará, pela Marinha e por si próprio, que o guida apesar da esquadra estar forçosa- culdades acrescidas. Vamos tentar que
seu mandato decorra com a maior nor- mente mais reduzida e envelhecida. No 2002 acabe limpo de dívidas.
malidade, com resultados muito posi- entanto, porque nunca será descurada a A aposta para 2003 terá de ser: no
tivos e com grande visibilidade para o proficiência e o saber estar no mar, os âmbito do funcionamento – concentrar a
Ramo que passa a comandar: grandes vindouros não se envergonharão de nós. despesa no obrigatório, no essencial e no
programas de renovação em andamento; Preparar o futuro é mais nobre do que que venha a dar frutos anos mais tarde;
novos navios a serem aumentados ao apenas viver o presente! no âmbito do investimento, a ordem é
efectivo; os meios operacionais a partici- O projecto que elegi para o mandato olhar para a frente, sacrificando, sempre
par em forças multinacionais e em exer- está pleno de dificuldades: que necessário, o presente. Não disper-
cícios conjuntos e combinados; novas No âmbito do Pessoal a escassez de saremos as aplicações financeiras porque
infra-estruturas a substituírem as mais recursos, designadamente em algumas vamos trabalhar para o futuro.
envelhecidas; planos de reordenamento áreas específicas, obriga a que sejam Na área da Autoridade Marítima, ver-
a verem a sua concretização; a coope- tomadas medidas correctivas visando dadeira montra da Marinha 24 horas
ração com outras Marinhas a nível Euro- preparar o médio e o longo prazo. A por dia, serão mantidas todas as obri-
peu, no âmbito da lusofonia, a darem os constituição de missões para os novos gações e responsabilidades com o nível,
frutos dos nossos desejos e do nosso tra- programas de construção tornarão disponibilidade e competência a que já
balho e, acima de tudo, o seu pessoal a estas medidas ainda mais penalizantes. habituámos o País. A renovação terá
ver satisfeitas as suas aspirações, motiva- Os Comandos e as Unidades vão ter que ser encontrada, pelas características
do e orgulhoso da farda que enverga e que se sacrificar, mas essas medidas do inegável interesse público associado
das missões que cumpre. são inadiáveis. Vamos trabalhar para o a esta área, de preferência junto de ou-
Sei bem da distância que vai da utopia futuro. tras tutelas, em parcerias e em projectos
à realidade, do desejável ao possível. Estão já em estudo as propostas de de cooperação, nacionais ou interna-
Estou plenamente consciente de que o soluções, algumas das quais poderão cionais. Tudo farei para que este Sis-
ano de 2003 vai ser, para a Marinha, um passar por um maior recurso à prestação tema, parte integrante da Marinha
ano extremamente difícil. É de prever de serviço efectivo na Reserva. Na numa visão não exclusivamente militar,
que as dificuldades que se vêm colocan- Reserva estão as pessoas que, apesar da tenha um financiamento progressiva-
do à manutenção da esquadra se conti- inexorável lei da idade, continuam na mente mais alargado, em proporção à
nuem a agravar, tornando ainda mais posse plena das suas capacidades in- dimensão nacional dos serviços que
problemática a inversão da situação no telectuais e que estão habituadas a so- presta e da clara ligação que tem a ou-
curto prazo, mesmo que os recursos frer e a lutar pela sua Marinha. A sua tros ministérios.
financeiros surjam e que os programas colaboração no relançamento da A componente da Investigação Cien-
de renovação continuem a ser apro- Marinha será não só preciosa, como tífica do mar é outra área indissociável
vados. É que os resultados dos novos imprescindível. da Marinha e um dos seus pólos de
investimentos numa Marinha só surgem Na área do Material, que fiquei a co- excelência. Certamente se compreenderá
muitos anos mais tarde. nhecer bem e a respeitar melhor, há que não constitui objectivo de nenhum
Não vos estou a traçar um cenário pes- imenso para fazer na racionalização de CEMA que haja retrocesso nos níveis de
simista nem a falar de algo em que nunca processos e estruturas e no acompa- qualidade que já se atingiram, mas tem
tenham meditado. Estou apenas a ser nhamento das novas tecnologias. Há que que ser sua preocupação permanente
realista e, simultaneamente, a não querer concentrar as energias nas novas cons- que as assimetrias internas não se apro-
cruzar os braços perante situações adver- truções e equilibrar com rigor os escas- fundem. O Instituto Hidrográfico sa-
sas. Que fazer então? A minha escolha é sos recursos que forem disponibilizados, berá, certamente, manter o necessário
eleger como projecto para este mandato a dando prioridade aos novos projectos. balanço entre as vertentes militares e de
preparação da Marinha para os melhores Vamos trabalhar para o futuro. serviço público do seu desempenho,
6 DEZEMBRO 2002 • REVISTA DA ARMADA