Page 253 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
Património Cultural da Marinha
Peças para Recordar
51. O DIÁRIO NÁUTICO DO YACHT AMÉLIA – CAMPANHA OCEANOGRÁFICA DE 1897
De entre as obras existentes no Aquário Vasco da Gama, pertencentes à Colecção de
D. Carlos I, ressalta pelo seu valor artístico e científico o Diário Náutico do Yacht Amélia
– Campanha Oceanográfica de 1897.
Documento em papel manuscrito encadernado. Refere-se à segunda campanha ocea-
nográfica do Rei D. Carlos e é ilustrado com desenhos à pena, aguarelas e fotografias da
autoria do próprio Rei. Inicia-se a 5 de Maio e termina a 29 de Maio de 1897.
D. Carlos de Bragança, rei de Portugal entre 1889 e 1908, foi um Homem extraordi-
nariamente inteligente e dinâmico, que se dedicou com assinalável sucesso a um con-
junto diversificado de actividades, de que se destacam a Arte e alguns ramos da Ciência,
tais como a Ornitologia e a Oceanografia. Influenciado pelo sucesso das investigações
ocea nográficas que na época se começavam a desenvolver, D. Carlos decidiu “... explo-
rar scientificamente o nosso mar, e o dar a conhecer ...” conforme refere no Relatório da
Campanha Oceanográfica de 1896. Assim, a 1 de Setembro de 1896 dava início à pri-
meira de uma série de doze Campanhas Oceanográficas (1896-1907) realizadas na costa
portuguesa, com o objectivo principal de estudar a Fauna Marinha. A intensa activida-
de oceanográfica desenvolvida passa ainda por campos tão diversos como o estudo das
correntes ou da topografia dos fundos marítimos.
O mérito da sua obra foi internacionalmente reconhecido, como o demonstram os numerosos
diplomas que lhe foram conferidos pelas mais prestigiadas instituições científicas da época.
Ao longo dos anos das campanhas, D. Carlos foi reunindo uma colecção zoológica de
incalculável valor histórico e científico que inclui animais conservados em meio líquido
e naturalizados. A Colecção Oceanográfica D. Carlos I inclui ainda instrumentos oce-
anográficos, bem como um extenso conjunto de documentação e bibliografia referen-
tes à actividade científica desenvolvida pelo monarca. Após a morte do rei, a Colecção
Oceanográfica foi entregue em 1910 à Liga Naval Portuguesa, passando em 1935 para
o Aquário Vasco da Gama, que tem sido responsável pela conservação deste precioso
legado, parcialmente em exposição permanente ao público visitante.
O Diário Náutico do Yacht Amélia da Campanha Oceanográfica de 1897 esteve pro-
vavelmente em exibição na Exposição de Livros Antigos existentes na Marinha, levada
a efeito na Casa da Balança em 1977. Alguém, notando a importância e a beleza deste
documento, teria aventado a hipótese de o dar a conhecer a um público mais alargado. E
é assim que em 1978 é lançada pela Marinha a sua edição, tendo-lhe sido acrescentado
a conferência realizada pelo Dr. Mário Ruivo em 1957 com o título ”D. Carlos de Bra-
gança, Naturalista e Oceanógrafo” e uma introdução da Dra. Maria de Lourdes Bartholo,
directora, à época, do Museu Nacional de Arte Contemporânea, intitulada “D. Carlos de
Bragança, Artista”, textos estes que vieram valorizar muito aquele documento.
E é a Dra. M.ª de Lourdes Bartholo que no fim da sua introdução resume o seu pensa-
mento sobre este documento e o seu autor. “De toda a obra de El-Rei D. Carlos – obra
que lhe terá sido suave lenitivo e humana libertação –, o Livro de Bordo do Yacht Amélia,
é certamente das mais belas e uma síntese admirável do alto espírito que a concebeu”.
Aquário Vasco da Gama
(Texto da Dra. Paula Leandro – Chefe do
Departamento de Divulgação Cultural)